Capítulo 35

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Acordei assustada e sobressaltei com o choro do Luca no quarto. Eu não me lembrava de ter levado ele comigo ou de ter adormecido no quarto de hóspedes, mas assim que eu ouvi o choro baixinho dele me sentei na cama em um único movimento.

Olhei para o lado, por cima do meu ombro, e Massimo estava um pouco atrás de mim. Ele estava dormindo sentado, recostado na cabeceira da cama, com Luca deitado em seu peito. Seus braços estavam, firmemente, em volta do filho. Mesmo dormindo ele segurava o Luca de forma protetora.

Eu sorri ao ver a cena e não consegui não me emocionar. Massimo nunca tinha tocado em Luca em todos os seus 4 meses de vida, nunca sequer tinha mencionado o nome dele, e agora ele estava em seu colo. Tenho certeza de que os dois dormiram como anjos. Limpei rápido uma lágrima que escorreu pelo meu rosto e decidi socorrer Luca, que agora aumentava o volume do seu choro.

— Shiii... assim você vai acordar o papai, meu amor. — tentei tirar ele do colo do Massimo sem acordá-lo, mas não consegui. Quando Massimo sentiu que eu estava mexendo em seus braços, acordou assustado e o fechou mais ao redor do Luca. — Está tudo bem. — o tranquilizei e fiz um carinho em seu rosto, em cima da sua barba. — Vou pegá-lo para você poder dormir.

— Deixe-o aqui. — Massimo murmurou, sonolento, e fechou os olhos, voltando a relaxar o seu corpo.

— Querido, ele precisa se alimentar. — Massimo abriu os olhos novamente e ergueu a cabeça. A abaixou até o Luca e passou a ponta do seu nariz na cabecinha dele, inspirando profundamente o seu cheirinho. Enquanto isso, eu fui até o banheiro e peguei um roupão felpudo que estava dobrado em cima da pia. — Me dê ele, vou levál-o até a Loretta.

Massimo me entrou o Luca de forma automática e eu o peguei em meus braços, mas vi que Massimo ficou imóvel, sem se mexer na cama.

— Está tudo bem? — o questionei antes de sair do quarto, mas ele não me respondeu, apenas assentiu olhando para algum ponto fixo em cima do lençol.

Eu desci até o primeiro andar da casa e reparei no silêncio que estava fazendo do lado de fora. Provavelmente já era o final da madrugada e a festa devia ter acabado. Olga e Domenico deviam estar no quarto deles, eles viajariam pela manhã.

Caminhei até a ponta do quarto de hóspede e quando entrei vi Loretta sentada na beira da cama com o mamá do Luca pronto em sua mão.

— Me desculpe, Massimo adormeceu com ele em seus braços. — ela se levantou assim que me viu e pegou Luca quando eu o entreguei a ela. — Vou tomar um banho e me trocar. Eu já volto.

— Está tudo bem, dona Laura. Vá descansar. — eu sorri para ela e saí do quarto, voltando para o quarto onde Massimo estava.

Mas quando cheguei ao quarto ele não estava mais na cama.

— Massimo? — o chamei entrando mais no cômodo e percebi, pelo barulho da água caindo, que o chuveiro estava ligado. — Querido? — ele estava com as duas mãos espalmadas na parede escura do box e a cabeça baixa, em baixo da cascata de água. Massimo não me respondeu, então eu tirei meu roupão e entrei no box junto com ele. — Massimo?

Ele ergueu sua cabeça e olhou em meus olhos. Seu olhar estava distante e o branco dos seus olhos estava vermelho demais. Por mais que, embaixo da água eu não pudesse ver suas lágrimas, eu sabia que ele estava chorando.

— Está tudo bem... — sussurrei para ele e alisei suas costas com a minha mão espalmada em sua pele, espalhando a água que caía. — Vai ficar tudo bem. — eu assenti e me surpreendi quando ele me puxou para ele em um movimento rápido.

Seus braços longos me abraçaram pela lateral do meus seios e se fecharam nas minhas costas. Massimo estava totalmente inclinado sobre mim, fazendo um esforço enorme para ficar da minha altura.

Tentei fechar como pude minhas mãos ao redor do seu corpo quando comecei a ouvir seus soluços e a sentir seu corpo sacolejar conforme ele chorava.

Me emocionei também, era impossível não me emocionar com a redenção dele. O Don não estava mais ali, meu marido estava de volta, e a ponta de esperança de que tudo pudesse ser esquecido e de que nossa vida voltasse ao normal aqueceu o meu coração.

Deslizei meus braços pelo seu torso e infiltrei meus dedos nos fios do seu cabelo.

— Está tudo bem, Massimo. — eu falava a todo minuto tentando confortá-lo. Ele tirou seu rosto do vão do meu pescoço e olhou em meus olhos.

— Eu preferia a morte a saber que te magoei tanto, Laura. — ele disse em meio ao choro. — Eu... eu não estou sabendo lidar com isso. Não consigo olhar nos seus olhos sem me achar o pior ser humano do mundo. — seu tom soou desesperado. — Não consigo olhar para o nosso filho sem me sentir um monstro.

— Ainda assim ele vai te amar e te admirar. — falei emocionada. — Assim como você admirava o seu pai. — Massimo soltou um riso nervoso.

— Eu não mereço você, little. — ele segurou meu rosto entre as suas mãos e encostou sua testa na minha. — Eu sempre soube que você era melhor do que eu em tudo. Eu não sei se conseguiria perdoar se alguém me ferisse como eu te feri.

— Eu te amo, Massimo. — ele se afastou um pouco de mim e me olhou nos olhos. — Não teve um maldito dia que eu não desejasse a nossa vida de volta. Que eu não desejasse que as coisas pudessem voltar ao normal, como antigamente.

— Me perdoa, Laura. — seu olhar sofrido machucava a minha alma. Estávamos tão feridos e eu estava tão cansada disso, de ter que ficar sempre na defensiva com ele. Eu não aguentava mais.

— Só se você puder me perdoar também. — segurei o rosto dele, assim como ele fazia com o meu. — Eu te desejei coisas horríveis, quis que você sofresse como estava me fazendo sofrer e... e só te afastei mais de mim e do Luca quando me escondi na casa do Marcelo. — Massimo travou o seu maxilar e desviou seu olhar do meu. — Eu o beijei, Massimo. — ele voltou a me olhar ao ouvir minha confissão. — Talvez tenha achado que estava apaixonada por ele, mas depois percebi que só estava confundindo tudo. Eu estava com muita raiva de você.

— Carolina disse que você precisava de atenção, de ser ouvida, e foi ele quem te ofereceu isso naquele momento. Não eu. — ele soltou o meu rosto e abaixou a sua cabeça junto com os seus braços. — O perigo que você correu na casa daquele homem... eu jamais me perdoarei por isso.

— Eu estou aqui. — sussurrei me aproximando mais dele e encostei minha testa em seu queixo. — Temos uma nova vida agora. Luca está aqui e ele precisa de nós dois.

Massimo ergueu o meu rosto quando enganchou seus dedos no meu queixo e me fez encarar os seus olhos. Eu ajeitei uma mecha encharcada do seu cabelo que caía em seus olhos e ele sorriu para mim.

— Eu descobri do pior jeito que não sei viver sem você, Laura. — confessou olhando nos meus olhos.

— Eu não quero que você aprenda a viver sem mim. Somos uma família agora.

Ele sorriu e eu vi toda a sua sinceridade, e felicidade, em seus olhos.

Sua boca veio tranquila até a minha, suas mãos seguravam o meu rosto, me mantendo firme contra ele. Como se de alguma forma eu pudesse me afastar, como se de alguma forma eu pudesse viver sem ele. Eu não gostava nem de pensar.

Se há quase um ano atrás me dissessem que minha vida tomaria esse rumo eu não acreditaria. Eu estava confortável em Varsóvia, essa é a palavra... confortável. Apesar do sexo com Martin não ser um dos melhores, eu achava que aquilo era felicidade. Eu tinha um bom emprego, um namorado mais ou menos, morávamos em um apartamento próprio e éramos o estereótipo de família que a sociedade procura.

Aí veio o Massimo, me sequestrou com aquela história louca de que eu era a mulher dos sonhos dele e fez com que eu me apaixonasse por ele.

Quando ele vez aquela proposta indecente de me devolver depois de um ano, caso eu não me apaixonasse, ele já sabia o que aconteceria. Seria impossível não se apaixonar por ele.

E foi isso que aconteceu...

E eu não precisei nem de 365 dias.

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