Capítulo 24

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Minha cabeça não parava de girar e pensar, sempre me questionando sobre o que é certo e o que é errado. Será que o que eu estou fazendo é o certo? Será que eu sou a errada nessa história?

Eu não queria ter tido esse tipo de pensamento, mas até pensar que Massimo talvez pudesse ter razão eu pensei. Se Luca morresse, tudo o que eu fiz até agora vai ter sido em vão. Todas as horas e dias que dediquei a ele terão sido em vão.

Eu sei, é horrível, mas não pude evitar em pensar nisso.

O medo se instalou em mim no mesmo momento, porque eu precisava que Luca sobrevivesse. Não por isso, claro, mas porque já o amo a ponto de dar minha própria vida por ele ou matar e morrer, se for preciso.

Eu sempre odiei voar de avião e dessa vez, durante a viagem da Sicília para retornar as Canárias, eu não senti medo de voar.

Eu tinha tantas razões para temer, motivos suficientes para enlouquecer se eu pudesse, mas não posso. Luca só tem a mim e vou honrar ser sua mãe enquanto um de nós dois viver.

— Você está bem? — ouvi a voz do Nacho antes dele aparecer diante dos meus olhos e se sentar na poltrona a minha frente. Olhei pela janela, tentando focar na paisagem das nuvens e não em seus olhos verdes questionadores.

Eu não o respondo, ele me conhece. Provavelmente ele sabe que nem deveria ter me perguntado, mas nas últimas horas, desde que deixamos a Sicília, tudo o que ele tem feito é tentado se aproximar de mim.

Mas não quero falar, não quero ouvir. Não quero nada além da vida que eu tinha há alguns meses. Um casamento perfeito com um marido que me amava incondicionalmente e um filho saudável e seguro em meu ventre.

Quero apenas pensar no que tem que ser feito daqui para frente e tentar tirar o Massimo do meu coração. Depois do que aconteceu no fórum acho que eu vou precisar.

— Sabe que estarei aqui quando quiser conversar não sabe? — eu assinto e volto a encará-lo. Nacho se levanta e me deixa sozinha assim que forcei um sorriso para ele.

Para a minha agonia, a viagem pareceu demorar o dobro do tempo e assim que o jato particular do Marcelo pousou em Tenerife pedi que me levassem ao hospital para ver o Luca. Eu sabia que tinha transado com Massimo há algumas horas e que estava sem calcinha, mas eu temia ir para casa e não conseguir voltar ao hospital para vê—lo hoje. Então pedi ao Nacho que me levasse direto para lá, somente Luca conseguiria mudar o meu humor hoje e me trazer um pouco de paz.

— Tem certeza de que quer fazer isso agora? — Nacho me questionou assim que paramos na frente de hospital.

— Eu só preciso vê-lo. — foi tudo o que eu disse antes de descer do carro e caminhar para dentro do hospital, em direção a recepção.

Fiz todos os trâmites, me identifiquei na recepção, esperei receber a etiqueta com meu nome e o setor que eu estava indo e subi de elevador até o andar da UTI pediátrica, onde meu filho estava.

Poucos minutos depois que toquei a campainha, a porta da UTI abriu e uma enfermeira simpática me deixou entrar.

— Laura! — Dra. Isabel me recebeu na metade do corredor. — Que alegria ver você aqui!

Recebi o abraço que ela me deu e estranhei, pois ela nunca tinha me abraçado antes.

— Como ele está? — perguntei assim que ela se afastou de mim.

— Venha. — ela estendeu a sua mão direita para mim. — Vem ver com os seus próprios olhos.

Caminhei com ela até a incubadora do Luca enquanto ela me conduzia, ainda segurando minha mão.

Meus olhos se encheram de lágrimas assim que os pus em cima do meu filho. Luca estava apenas com um tubo fino em seu nariz, presa a sua bochecha agora um pouco mais cheia, além do tubo em sua boca, que o ajudava a respirar.

— Cadê todas aquelas coisas? — perguntei a ela, emocionada.

— Não são mais necessários. Ele está evoluindo muito bem, Laura. — ela respondeu tão emocionada quanto eu. — Eu diria quase que milagrosamente. Ele só tem 3 meses e algumas semanas de vida...

Ela olhou para ele e eu a acompanhei. Bem nesse momento Luca se mexeu e levou uma das mãos aos olhos. Ele os coçou e resmungou, ameaçando chorar.

— Essa é uma das novidades também. — ela disse abrindo a incubadora. — Depois que diminuímos consideravelmente as medicações e a sedação, ele está mais ativo. Fazendo coisas fofas como qualquer outro bebê. Quer pegá-lo?

Eu assenti com veemência e em poucos segundos já tinha higienizado minhas mãos e vestido um capote de algodão.

Me sentei na poltrona que fica ao lado da incubadora e a Dra. Isabel colocou Luca no meu peito somente de fraldinha.

Ele abriu os olhos pela primeira vez e eu pude ver como suas írises eram lindas, acinzentadas como as minhas.

— Você é tão lindo... — sussurrei para ele, completamente entregue àquele ser tão pequeno, e fiz um carinho em sua bochecha rosada. Ele resmungou mais uma vez e fechou os olhos.

— Hoje de manhã ele alcançou a meta de 2 quilos. — a médica sussurrou para mim enquanto eu embalava o meu filho, até ele pegar no sono novamente. Eu coloquei meu indicador na mãozinha direita dele e ele fechou todos os seus dedinhos ao redor do meu dedo. — Continuaremos diminuindo a sedação hora por hora, até ele conseguir respirar sozinho. Assim que isso acontecer, ele poderá ir para casa.

— Vamos ter que esperar até lá para que eu possa levá-lo para a Sicília? — a questionei preocupada.

— Isso é outro ponto que eu queria falar com você. — ela disse, parecia entristecida. — Luca precisará de um centro especializado na doença que ele tem e esse centro é em Roma. Não acho prudente ficar tão longe dos especialistas nesse primeiro momento. Talvez, depois de alguns meses, vocês poderão ir para a Sicilia.

— Não tem problema. — desvio os meus olhos do dela para olhar para o meu filho, agora adormecido em meus braços. — Eu faria qualquer coisa por ele.

E eu não estava mentindo, faria qualquer coisa pelo Luca. Qualquer coisa mesmo. Me mudaria para qualquer lugar do mundo por ele. Mataria e morreria.

Eu estava disposta, inclusive, a perder um grande amor.

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