Capítulo 32

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 — Nós precisamos conversar. — Massimo disse parado na porta, sua mão ainda segurava a maçaneta.

— Eu não tenho nada para falar com você. — minha voz soou trêmula demais, não pude evitar. Ele estava há alguns metros de mim e eu não o via há semanas. Meu coração batia como um louco no peito ao pensar que Luca estava dormindo em cima da cama há alguns centímetros atrás de mim. Massimo provavelmente ainda não tinha visto ele, da onde ele estava, meu corpo devia estar escondendo Luca.

Ignorando completamente as minhas palavras, Massimo se moveu. Entrou no quarto e fechou a porta atrás do seu corpo, parando ao lado dela.

— Eu não vou embora até que você me ouça, Laura. Por favor. — ele disse calmamente.

Se eu não estivesse com tanta raiva dele diria que algo nele havia mudado. Agora que estávamos sozinho eu via em seu semblante que alguma coisa nele estava diferente, não fisicamente. Eu não me lembro de tê-lo ouvido falar em um tom tão suave. Também não tenho recordações do Massimo sendo gentil e pedindo por favor.

— Sua acompanhante não vai gostar de saber que está aqui. — o provoquei e ergui meu rosto para desafiá-lo.

— Ela não tem a menor importância. — ele se moveu para caminhar na minha direção, mas gesticulei para que ele parasse.

— Não ouse. — o adverti com firmeza.

— Laura... — seu tom foi um murmúrio e ele parecia tão cansado. Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa a porta foi aberta e Loretta parou embaixo do batente quando viu Massimo dentro do quarto. Confusa, ela olhou de mim para o Massimo e me mostrou o copo de água que estava na sua mão direita.

Claro! Eu tinha até me esquecido que ela tinha ido buscá-lo para mim.

— Obrigada, Loretta. Pode deixar aí, por favor. — apontei para uma cômoda perto da porta e ela caminhou até o móvel. Loretta colocou o copo suavemente em cima da madeira e se virou para mim. — Pode nos deixar a sós por um minuto? — ela assentiu.

— Mas e o... — a cortei antes que ela mencionasse o Luca.

— Se precisar eu te chamo. — sorri para ela e, antes de sair do quarto, ela me devolveu o mesmo sorriso.

— Porque precisa de uma enfermeira? — Massimo me questionou com um misto de confusão e curiosidade em seu semblante.

É claro que ele não deixaria isso passar. Loretta estava toda de branco, como uma espécie de uniforme. Massimo sempre está atento a tudo, eu deveria ter pensado nisso.

— Loretta está me acompanhando. — menti. — A pedido médico.

— Por quê? — ele deu mais dois passos na minha direção, mas ainda estava longe de mim. — Você está bem?

— Eu quero que você vá embora, Massimo. — pedi cansada, magoada. — Volte para a festa, para aquela mulher, para onde você quiser. Só... me deixe em paz.

Massimo suspirou profundamente e me encarou como se olhasse através de mim, além dos meus olhos. Ele colocou as duas mãos nos bolsos dianteiros da calça e então fitou os seus pés.

— Eu estou fazendo terapia. — meus olhos se arregalaram com a sua confissão. Eu esperava de tudo, que ele fosse falar e até fazer qualquer coisa, menos isso. — Domenico me obrigou, desde o que aconteceu na audiência.

— Foi o seu terapeuta que te orientou a trazer uma prostituta no casamento do seu irmão? — ironizei fazendo questão que ele sentisse todo o meu sarcasmo.

— Não, ela é uma ótima médica. — ele riu sem humor e voltou a me olhar. — Isso foi só eu sendo um completo idiota.

— Então está se saindo bem.

— Eu queria... — Massimo foi interrompido pelo choro baixo e contido do Luca vindo de cima da cama.

Eu fechei os meus olhos bem forte e soltei o ar dos meus pulmões. Ignorei completamente a presença do Massimo quando girei meu corpo e me virei para a cama. Me inclinei sobre o colchão e peguei meu filho no colo.

— Está tudo bem, querido. Shiii... a mamãe está aqui. — o embalei em meus braços enquanto repetia o som que ele gostava de ouvir para dormir. Tentando ao máximo acalentá-lo. — Você está com fome, é isso?

— Eu... eu não sabia que... — a voz do Massimo me indicava o quanto ele estava desnorteado com a constatação de que Luca esteve no quarto esse tempo todo. — Eu não sabia que ele estava aqui...

— Agora que já sabe, pode ir. — retruquei com os meus olhos se enchendo de lágrimas, fazendo questão de me manter de costas para ele. Ele não precisava mais ver o quanto me magoava ou sentir o quanto isso me feria.

Massimo rejeita Luca desde que ele nasceu. Durante os 4 meses de vida do nosso filho ele nunca esteve presente, nunca sequer o olhou ou perguntou por ele. Agora que Luca estava bem, ele não precisava passar por isso. Ele tinha a mim e eu a ele, isso bastava.

— E se eu te disser que não quero ir. — seu sussurro veio de bem próximo a mim e assim que eu senti sua mão no meu ombro esquerdo as lágrimas se desprenderam dos meus olhos.

Um soluço escapou dos meus lábios e Massimo apertou seus dedos firmemente em meu ombro. Não tão forte para me machucar, mas fazendo a pressão necessária para tentar me passar conforto, talvez até segurança.

— Vá embora, por favor. — implorei cansada, ainda de costas para ele. Eu mantive Luca deitado em meu braço esquerdo enquanto enxugava meu rosto com a mão direita.

— Olha para mim, Laura. — ele me puxou com delicadeza pelo ombro que ele segurava e eu não lutei contra ele. Eu estava tão cansada de tudo.

Os olhos do Massimo caíram para o meu braço no momento que terminei de girar o meu corpo. Agora seus olhos estava em Luca e, de uma forma surpreendente, os olhos do Luca também estavam em Massimo.

— Eu não sabia que ele estava aqui. — ele sussurrou ainda olhando para Luca.

— Você vai embora agora... — minha intenção era questioná-lo, mas saiu como uma afirmação.

Eu não tinha mais energia para lutar contra o Massimo. Luca ainda tinha uma luta grande pela saúde dele e era por ele que eu deveria me reservar, me preservar.

— Posso ir se você quiser que eu vá. — ele desviou seus olhos do Luca e me encarou. Abri minha boca para mandá-lo ir embora, mas ele me interrompeu. — Mas eu, realmente, não quero ir, Laura.

Eu pisquei os olhos algumas vezes quando eles começaram a arder e me surpreendi quando Massimo colocou sua mão esquerda no meu braço que segurava o nosso filho.

— Eu sei que errei muitas vezes, Laura, mas dessa vez eu quero acertar.

— Não brinca comigo, Massimo. — rosnei para ele, ainda com a voz embargada, e tentei me desvencilhar do seu toque, mas ele não deixou.

— Eu nunca quis brincar com você, Laura. — ele tirou a mão do meu braço e se aproximou mais de mim quando deu dois passos para frente. — Eu nunca quis magoar você.

— Mas magoou... me feriu — retruquei, ressentida. — Não só a mim. — olhei para Luca em meu colo.

— Eu merecia a morte por isso. — eu o encarei, incrédula com as suas palavras.

— Nunca mais diga isso. — o repreendi.

— Podemos conversar?

No mesmo minuto que Massimo me fez a pergunta a porta do quarto se abriu e nós dois olhamos na direção dela.

— Dona Laura, está na hora do mamá. — Loretta me lembrou e eu gesticulei para que ela entrasse.

Dei Luca a ela e Loretta o acomodou em seus braços, indo em seguida para as coisas do Luca que estavam na mesa de cabeceira da cama.

— Vamos conversar em outro lugar. Aqui não. — pedi ao Massimo quando passei por ele para sair do quarto e o senti em meu encalço.

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