Algumas pessoas mentem olhando nos seus olhos de um jeito tão profundo que parece desnudar-lhe a alma. As palavras sinceras fazem ter a certeza de que nada no mundo pode ser mais verdadeiro. E então, de repente, descobre-se que foi enganado. Nesse momento, algo bonito é destruído dentro de si e, depois disso, nada será tão difícil quanto entregar sua confiança a alguém novamente, porque as pessoas sempre terão o poder de destruí-la.
Jeongguk olhou para ele de forma sincera dentro da cafeteria. Demonstrou firmeza em suas palavras, segurança e suposta veracidade. Em outro momento, Taehyung refletiria sobre sua confissão, considerando o quão pesado e triste soava seu "sinto muito" repleto de inocência. Em outro momento, consideraria acreditar em cada palavra proferida por ele.
Em outro momento. Mas agora, não.
Por que pessoas como Jeon Jeongguk tinham pleno conhecimento de como manipular os outros. Possuíam total compreensão do olhar que tocaria o coração, sabiam como se expressar, como agir, como se portar. Ele tinha tudo meticulosamente pensado, desde a narrativa até as desculpas, toda a retórica sobre honra e moralidade e sobre o funcionamento desse tipo de estratagema. Jeongguk demonstrava habilidade, esperteza e competência invejáveis, o que fazia Taehyung querer questioná-lo: "Quantas vezes isso já foi feito por você? Quantas pessoas se renderam a esse seu olhar? Quantas sucumbiram às suas palavras falsas? Quantas vezes você escapou ileso das consequências?".
Muitas, talvez. Mas não agora. Não com ele.
A porta pesada fechou-se atrás dele. Ele sentiu o ar-condicionado forte da delegacia gelar a ponta do seu nariz enquanto seguia até o balcão de informações.
— Sou Kim Taehyung — identificou-se educadamente. — Gostaria de saber sobre o caso do meu irmão, Kim Namjoon.
O homem o encarou entediado antes de retomar a ação de lamber o dedo e folhear os documentos dispostos sobre a mesa. Taehyung aguardou em silêncio, demonstrando paciência diante da disposição do mesmo, até que ele ergueu o rosto e assobiou para alguém à distância.
— Ei, Jun. — Com um gesto de cabeça, o homem apontou para Taehyung. — O caso de Kim.
J. Junseo, conforme constava em seu crachá, apareceu ao lado dele questionando quem era. "O irmão do espancado, aquele para quem aparentemente vocês não dão a mínima", Taehyung quase respondeu ao homem fardado, jovem e bonito demais para ser levado a sério. Mas apenas o sobrenome e a identidade, mostrando que já era maior de idade, foram suficientes para que o seguisse por um extenso corredor até uma pequena sala gelada de computadores, com paredes carregadas de mapas e fotos de pessoas desaparecidas.
— Bom, Taehyung, ainda não temos novidades sobre o caso, mas o inquérito já foi aberto e estamos investigando — ele disse antes de se sentar na cadeira atrás da mesa.
— Vocês não têm nenhum suspeito ainda? Nenhum?
— Creio que já saiba que seu irmão estava com um baixo teor alcoólico no sangue naquela noite e foi visto bem próximo a uma festa que envolvia muita gente, então existem vários potenciais suspeitos, mas ainda não podemos apontar ninguém.
— Onde era essa festa?
— Em uma reserva no município de Boryeong.
— E as pessoas que estavam nessa festa não disseram nada relevante? E as câmeras de segurança do hospital? Vocês sabem que ele foi abandonado lá por alguém usando um carro sem placa, não é? Vocês já deram uma olhada? Aquele carro é a maior pista que vocês têm!
— As câmeras do hospital não estão funcionando há meses. — Junseo recostou-se na cadeira e voltou sua atenção para o computador. — Já listamos alguns nomes que estiveram na reserva e estamos trabalhando nisso.
— Não, vocês não estão! — Seu tom de voz saiu mais rude do que gostaria. Sua vontade naquele momento era dizer que Junseo e a polícia de Seul eram tão ineficientes que sequer haviam averiguado a mochila de Namjoon, que seria importante para desvendar o que aconteceu. — Como as câmeras de um hospital não funcionam? Como estão trabalhando nisso e ainda não obtiveram nenhuma resposta?
— Entendo sua preocupação, Taehyung, mas garanto que estamos buscando o autor do crime.
— Faz dias que meu irmão foi espancado e vocês nem me procuraram ou foram até a minha casa. O que estão fazendo além de dizer que estão cuidando disso? Meu irmão quase morreu, alguém quase o matou e parece que vocês não estão nem aí!
— Creio que não posso fazer nada além disso no momento — respondeu. A expressão tranquila em seu rosto o irritava. — Caso não tenha nada a acrescentar, peço que...
— Eu tenho algo a acrescentar. Tenho um suspeito — interrompeu.
— E quem seria?
— Jeon Jeongguk, da Universidade Nacional de Seul. — Taehyung avaliou a expressão do policial antes de prosseguir. Ele parecia estar atento, porém não apresentava surpresa. — Algumas pessoas dizem que ele faz parte de um esquema de tráfico de drogas com os membros da fraternidade dele, os Nebbioso, ou algo assim... — Ele fez uma pausa. Precisava ir devagar. Tinha que parecer alheio a tudo aquilo e não um ser sedento pela cabeça de JK. — Meu irmão passou na iniciação deste ano e acho que pode ter acontecido alguma coisa entre eles. Deveriam conversar com Jeongguk e com o resto dos rapazes daquela fraternidade.
— Conhecemos Jeongguk. Não é a primeira vez que o nome dele surge aqui na delegacia. Nem a segunda, nem a terceira... — Junseo quase sorriu. — Você entendeu.
— Então ele pode ser um suspeito, não é?
— Tanto quanto os outros. — Aquela frase o fez murchar. — Isso é raso. Não há nada que prove que ele está envolvido, entende?
Taehyung se remexeu na cadeira, respirou fundo e estalou os dedos. Contar ou não contar sobre a mochila de drogas? Quais seriam as consequências? Mas agora, ao vê-lo dizer que não havia nenhuma maldita prova sobre JK, sua língua coçou. E, sem conseguir pensar muito, confessou:
— Eu tenho uma coisa que pode provar que Jeongguk está envolvido.
Junseo apertou discretamente os olhos para ele, demonstrando curiosidade e desconfiança.
— E o que seria?
— Uma mochila... Namjoon estava com uma mochila, que me foi entregue pelo hospital e... guardava drogas... Drogas de Jeongguk.
— Drogas de Jeongguk ou drogas de Namjoon? — Taehyung sentiu um tom sugestivo em sua voz.
— As drogas de Jeon Jeongguk! — ele praticamente cuspiu o nome no rosto do policial. — São todas dele. Ele veio até mim para tentar pegá-las de volta e nós fizemos um acordo.
— E como você pode me fazer acreditar que não são do seu irmão? Espero que possa provar isso, Taehyung. Caso contrário, tudo indicará que pertencem a quem estava, de fato, com a mochila. E, além disso... — Junseo ergueu as sobrancelhas com um ar repreensivo. Ele observou a situação com expressão séria, denotando desaprovação em seu rosto. — Você poderia ser preso por ocultar esse objeto, uma vez que tem ciência de que faz parte do crime.
Seu estômago revirou-se.
— Eu posso provar. — soou firme. — Se você me ajudar, consigo uma confissão de Jeongguk no sábado à noite.
Por um momento, ele pensou que Junseo iria rir da sua cara pela tentativa ridícula de fazê-lo ajudar, de uma forma que não poderia. Então, ele esperava que o policial o mandasse sair e solicitasse um mandado de busca e apreensão em sua casa, onde encontrariam todas as drogas, e Namjoon ficaria injustiçado tanto quanto ele ficaria prejudicado. No entanto, Junseo simplesmente continuou a encará-lo e, surpreendentemente, pediu para que ele explicasse seu plano. Com uma paciência extraordinária, ouviu cada detalhe de sua ideia para conseguir fazer Jeongguk confessar que as drogas lhe pertenciam e se tornar o principal suspeito daquele caso.
Taehyung dera o primeiro passo.
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Nebbioso (taekook)
Fanfiction[taekook | gangster] Em busca de vingança pelo irmão espancado, Taehyung confronta Jeongguk, líder da fraternidade da universidade, e ambos se envolvem em um perigoso jogo de segredos e desejos, sem perceber o risco de se apaixonarem.