09 | whoever he is.

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A primeira noite foi desafiadora. Taehyung não conseguiu dormir. O cansaço castigava seu corpo, mas sua mente não desligava. A velha sensação de angústia voltou como se houvesse algo terrivelmente errado. E, de fato, havia. Ele sentia-se culpado por estar ali, sentia-se perdido por não ter para onde ir e, no momento em que deitou a cabeça no travesseiro, sentiu-se sufocado com a impressão de estar nas mãos de Jeongguk.

De estar exatamente onde ele queria que estivesse.

Quando o despertador tocou, jogou os pés para fora da cama e pegou o celular sobre a cômoda. Hoseok havia enviado algumas mensagens desesperadas perguntando onde diabos ele estava. A única informação que Hobi tinha era que ele não havia ido para Suwon e estava dividindo um apartamento com alguém.
Decidiu não responder, por ora, porque havia um novo problema: Donghyun e tia Go não atendiam ao telefone em momento algum.

Após concluir mais cinco ligações, deixou o quarto e foi para a cozinha, decidido a acreditar que eles não entraram em contato porque estavam resolvendo questões da mudança. Seria melhor assim. Abriu a geladeira e os armários da cozinha em busca de algo para matar sua fome matinal. Apesar de Jeongguk dizer que não passava muito tempo ali, sua despensa poderia alimentar uma família inteira por um mês, e ele tinha quase certeza de que havia comprado tudo aquilo apenas por sua causa.

— Kim.

Ele engoliu um palavrão e virou-se assustado. Jeon bateu a porta e aproximou-se, carregando dois copos de papel nas mãos e um potinho de rosquinhas apoiado sobre eles. Aproximou-se dele, trazendo um cheiro delicioso de café e jogou as chaves do carro no balcão da cozinha.

— Você está horrível — comentou tranquilamente.

Suspirou, indiferente, ciente de sua aparência desgrenhada.

— Lamento se está acostumado a acordar com modelos ao seu lado. — Pegou um copo das mãos dele e puxou uma rosquinha. — Achei que não teria o desprazer de sua presença por aqui.

— Considere uma exceção — respondeu. — Preciso pegar alguns trabalhos para a aula que esqueci no escritório. — Levantou-se, ainda com os olhos discretamente furtivos por seu corpo. Qual era o problema daquele cara? — Quer uma carona?

Ele negou com a cabeça.

Jeongguk fitou o relógio em seu próprio pulso.

— Está atrasado, sabia?

— Sabia. — Deu de ombros. — Mas não estou com vontade de começar a agir como se fôssemos amiguinhos. Então, obrigado pelas rosquinhas, o café e a carona, mas saiba que não precisa continuar me tratando assim.

— É apenas uma carona, Taehyung. Por que tanta irritação? — questionou. — Mas se preferir fortalecer suas pernas, e caminhar nesse calor infernal até a universidade, sinta-se à vontade. Eu estarei em meu carro espaçoso, confortável e com ar-condicionado.

Droga.

— Cinco minutos — informou, tomando um gole de café e uma mordida na rosquinha, depois correu para o banho.

Era incomum para ele estar ali. Era incomum para ele falar com Jeongguk sem querer asfixiá-lo até a morte. Estranhava sua autossabotagem, que adormecia em algum lugar distante dentro de si todas as teorias, suspeitas e, principalmente, toda a raiva que tinha por ele. Estava se surpreendendo com sua capacidade de lidar com a presença de Jeon sem os pequenos momentos em que fechava os olhos e o imaginava espancando seu irmão. Concluiu que talvez fosse isso que precisava realmente: aprender a lidar com a avalanche de sensações e sentimentos negativos que ele causava toda vez que estava por perto e aprender a jogar da mesma forma que ele continuava jogando consigo.

Nebbioso (taekook)Onde histórias criam vida. Descubra agora