36 | domino effect.

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“Eu lamento. Não conseguimos reanimar.

A voz do médico rastejava como um maldito parasita pela cabeça de Jeongguk. Ele puxou o ar. Não conseguiu. Ele não era mais capaz. Não sabia como. Não conseguia fazer seus pulmões pararem de doer. Era como se houvesse uma pressão profunda bem no meio do peito.

Deixou seu corpo cambalear para trás. Tropeçou nos próprios pés e, totalmente desesperado, esmurrou a parede. Ele sabia que o homem à sua frente, dando aquela notícia horrível, não era culpado, mas queria forçá-lo a dizer que tudo era uma maldita mentira de mau gosto, porque era como se alguém tivesse tomado impulso e dado um chute na boca de seu estômago. Não tinha ar. Não tinha fôlego. Não tinha forças. Não tinha controle sobre nada dentro dele. Não tinha mais porra nenhuma.

— Jeongguk, você precisa se acalmar!

A voz de Junseo era distante, assim como todo o resto do mundo.

As mãos do irmão puxaram sua jaqueta e os braços dele prenderam seu tronco contra o próprio corpo, numa tentativa de pará-lo, ou ele sairia quebrando aquele hospital de ponta a ponta. Junseo o segurou com firmeza e, ali, no meio daquele corredor cinzento e frio, três andares acima do necrotério onde o corpo estaria em breve, Jeongguk parou de lutar; os joelhos cederam, o corpo esvaziou, tudo pareceu um profundo e vasto buraco que nunca mais seria preenchido.

Jiah.

Jiah morreu em seus braços.

— Jeongguk? — Outra voz o chamou — Ei, Jeongguk?

As luzes fizeram seus olhos doerem e o cheiro de desinfetante que invadiu seu nariz o fez tossir. Foi puxado de volta à realidade como quem é puxado do fundo do mar. Estava dormindo? Não. Estava de olhos abertos, mas não estava ali. Seu corpo ocupava aquele banco gelado, mas sua mente se ocupava com lembranças de anos atrás. Era como se revivesse aquele inferno de dia mais uma vez, quando Jiah foi morta e morreu em suas mãos. Era como se a mesma maldita história se repetisse.

Virou o rosto lentamente para encarar a mulher ao seu lado. Levou alguns segundos para reconhecer o rosto, mesmo assim não conseguiu sorrir. Os olhos dela eram sofridos, tristes, porém esperançosos. A mão dela pousou em seu ombro e deslizou até suas costas carinhosamente, num afago, e ele se perguntou se parecia tão miserável quanto se sentia.

— Você está bem, filho? — JiHyun perguntou. — Quer que eu chame um médico?

Ele piscou, mas não respondeu. Lembrou-se da última vez que tinha visto aquela mulher e de como ela lembrava sua própria mãe. Lembrou-se do ex-marido dela, canalha e sujo, e de como quis matá-lo. Tudo aquilo o fazia ponderar se as dificuldades de sua vida teriam um fim ou simplesmente se repetiriam de maneiras diferentes.

Ele estava exausto de tudo.

— Estou bem, dona JiHyun — esforçou-se para respondê-la.

Ela abriu um pequeno sorriso.

— O médico acabou de me dizer que podemos ver o Hoseok. Você quer ir comigo?

Ele queria, mas não iria.

— Não posso sair daqui — respondeu ele.

Ela sentou-se ao lado dele.

— Filho, o médico disse que Taehyung ainda está recebendo as bolsas de sangue. Isso deve durar muitas horas, eu acho. E ele também disse que depois...

— Eu sei — cortou-o ela. — Eu sei.

Ele desviou o olhar. Não queria parecer rude, mas não podia ouvi-la repetir o que sua mente gritava com todas as forças dentro de sua cabeça sem parar. Ele estava ciente do que estava acontecendo dentro daquela sala onde a cirurgia já durava oito horas. Ele estava ciente do risco de vida que Taehyung corria. E ele sabia que a notícia só viria dali a algumas horas. Mas se a notícia não fosse boa, viria a qualquer momento.

Nebbioso (taekook)Onde histórias criam vida. Descubra agora