34 | weak point.

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Taehyung queria estar longe. Queria estar colocando seus pensamentos no lugar e costurando as linhas soltas do seu coração. Queria estar oferecendo aos seus pulmões um ar em que não houvesse o perfume dele, queria estar caminhando por ruas onde não houvesse a chance de encontrá-lo. Queria estar se curando. Queria estar dando um tempo. Queria estar afastado de toda aquela merda em que se havia metido.

Todas as coisas que lhe pertencem retornam a ele. É uma das leis da vida. E, antes que pudesse fugir, o karma o alcançou e voltou para si como um velho amigo.

O karma lhe pertencia.

A noite estava tão fria quanto o sangue que corre nas veias de um assassino, e isso o fez abrir os olhos lentamente com a sensação de que seus ossos estavam congelando. Aqueles cochilos rápidos só lhe serviam para deixá-lo mais cansado por conta dos pesadelos. Mas, embora sua mente parecesse não desligar nunca, ele se sentia no modo automático; como se estivesse cansado demais para lutar ou, no fundo, estivesse conformado com o que estava acontecendo.

Afinal, ele havia buscado por aquilo, não é mesmo? Havia se afogado naquele mundo onde, eventualmente, sabia que acabaria em uma cama de hospital como Namjoon ou dentro de um caixão.

Hanseok soltou o ar, impaciente, enquanto Taehyung se erguia com dificuldade e encostava as costas na cabeceira da cama. Suas mãos, amarradas para trás, dificultavam seus movimentos.

— Vamos, docinho, facilite as coisas — ele pediu, como se Taehyung fosse uma criança. — Preciso de você inteiro, igual a um porquinho para o abate. Então, coma.

Permaneceu imóvel, encarando-o com repulsa. Seu corpo inteiro protestava contra sua própria relutância em se alimentar. Porém, a verdade era que, mesmo aguardando resignadamente pelo pior desfecho, ele se via tomado pelo medo. Receava as intenções de Hanseok. Temia a falsa preocupação, a falsa gentileza prolongada por dois dias inteiros. Tinha receio da refeição servida com esmero na bandeja. Até mesmo o temor de não ser maltratado o perseguia, embora soubesse que Hanseok era um psicopata implacável. A necessidade de respirar pela boca surgia quando o aroma da comida despertava a fome.

Três dias.

Havia três dias que ele estava naquele quarto. Três dias em que se recusava a comer qualquer alimento que Hanseok lhe trazia. A fraqueza e a fome pareciam agravar sua saúde. Ele não estava se sentindo muito bem. Tinha a sensação de que apagaria de vez a qualquer momento.

Apesar de seus pulsos e tornozelos estarem roxos pela corda que o imobilizava, Hanseok não o havia machucado. Taehyung aguardava o momento em que a paciência dele se esgotaria e o sádico doente que conhecera no dia da estrada se manifestaria. Hanseok o amedrontava. Havia algo em seu olhar, algo que dizia que não tinha escrúpulos, que não estava disposto a permitir que Taehyung visse o monstro que habitava sob sua pele, pelo menos por enquanto.

Ainda não estava claro para ele qual era a intenção de Hanseok. Era evidente que provocar Jeongguk era uma intenção visivelmente clara, mas ele sabia que havia mais. Sabia que Hanseok planejava algo muito ruim.

Depois que foi apagado na porta do apartamento, não viu mais nada. Acordou ali, no quarto, enclausurado como um animal. Tentou gritar, mas não adiantou. Durante o dia inteiro, pediu por ajuda. Quando a garganta começou a doer e o cansaço o atingiu, e Hanseok nem sequer o mandou calar a boca, percebeu que não importava o quanto alto clamasse, não havia ninguém ali além deles dois. Isso o fez pensar que não estava na fraternidade da Yonsei, nem em algum lugar com vizinhos próximos o suficiente para suspeitar de algo. Por fim, concluiu que talvez estivesse na própria casa de Hanseok, embora o quarto não possuísse mais do que uma cama de casal, um guarda-roupa e uma janela fechada com grades. Não havia fotografias, livros ou qualquer outra coisa que pudesse denunciar familiaridade.

Nebbioso (taekook)Onde histórias criam vida. Descubra agora