19 | the other side.

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Inconscientemente, Taehyung sabia que estava diante de um sonho. As características eram similares às anteriores: a chegada furtiva, perigosa, com a maldita arma entre os dedos e um sorriso doentio estendido nos lábios roxos. No princípio, ainda sem um rosto definido, reconhecia que era Hanseok. Mais adiante, como uma mancha sinistra, transformava-se em Jeongguk, e seus olhos sombrios o amedrontavam. Era como um déjà-vu. A possível ligação entre os dois estava tão profundamente enraizada em seu subconsciente que, ocasionalmente, ressurgia para atormentá-lo. E sempre alcançava seu intento.

Ele abriu os olhos abruptamente, envolto em surpresa.

Que horas eram? Por quanto tempo permanecera desacordado?

Deslizou os dedos pelo lençol fino e desordenado ao seu lado, na tentativa de encontrar Bogum, porém o vazio testemunhou sua solidão. Levemente perplexo, dirigiu seu olhar para a janela oposta, deparando-se com o céu escuro além do vidro. O amanhecer se aproximava. Ele não deveria ter ido embora. Ao menos era o que esperava.

Ele contemplou as paredes brancas ao redor. O guarda-roupa espelhado, a escrivaninha com alguns livros e seu notebook, além do pequeno porta-retratos na cabeceira que abrigava uma foto dele com Namjoon na noite de Ano-Novo. Coisas simples que, por algum motivo, trouxeram a ele a velha conhecida sensação de angústia. Colocou a mão na barriga, tentando controlar um estranho nervosismo que o acompanhava. Talvez fosse culpa de ter dormido com Bogum no apartamento de Jeongguk, ou talvez fosse o receio da possível consequência daquilo. Jeongguk era um cretino? Sim. Mas, mesmo diante disso, ele se sentia ingrato. Errado. Estava na casa dele, no espaço dele, no quarto que ele, com muito gosto, tornou seu.

Merda.

Ele encontrava-se em meio a uma crise de consciência, incapaz de desfrutar plenamente das memórias da noite junto a Bogum: os beijos calorosos, o sabor do vinho em sua boca, a risada abafada na curva de seu pescoço, o toque afável e até mesmo a intensa dor em seus músculos. Permitiu-se, ainda que parcamente, desfrutar daqueles momentos tão frescos, esboçando um sorriso. Havia decorrido um longo lapso desde sua última entrega tão profunda a alguém.

Ele levantou devagar, caminhou até o armário, puxando o roupão e cobrindo seu corpo. Ainda envolto pelo sono, saiu do quarto, desejando encontrá-lo comendo na cozinha ou qualquer coisa que não fosse sua ausência naquele apartamento. Tocou a parede do corredor em busca do interruptor, mas, de repente, parou, abraçando o próprio corpo, sentindo uma estranha corrente de vento soprar em sua direção. Em seguida, franziu as sobrancelhas de forma curiosa, notando a porta do escritório de Jeongguk aberta.

Aproximou-se muito sutilmente e parou na entrada. A meia-luz amarela do abajur estava acesa, iluminando parcialmente o cômodo. A fina cortina da janela entreaberta balançava calmamente, sacudindo como ondas sobre o conjunto de livros dispostos nas prateleiras atrás dos familiares cabelos castanhos e bagunçados.

— Bogum? — Sua voz pareceu assustá-lo, como a de uma criança que acaba de ser pega fazendo algo muito errado.

Ele pareceu surpreso por um momento, e então sua expressão rapidamente se suavizou.

— Ei, Taehyung! Já acordou? — Seu tom soou calmo e descontraído. Bogum juntou a pequena bagunça que havia feito e deu a volta na mesa, caminhando até ele, como se nada estivesse acontecendo.

— O que está fazendo aqui dentro? — Foi direto, tentando, sem parecer rude, deixar claro que não havia gostado de sua intromissão.

— Nada, só queria preparar um café da manhã para você. Vim buscar uma caneta para te escrever um daqueles bilhetes fofos e piegas. — Riu, passando a mão pela nuca. — Achei que daria tempo, porque... bom, depois dessa noite, não esperava que você acordasse tão cedo.

Nebbioso (taekook)Onde histórias criam vida. Descubra agora