– quatro semanas depois –
Jeongguk estava morto.
Diante dele, no meio da garoa fina que molhava seus cabelos, as lágrimas escorriam por seu rosto. Sua mãe havia dito que a chuva tinha o poder de limpar a alma de sentimentos negativos, mas naquele cemitério cinzento e melancólico, nem mesmo um furacão seria capaz de dissipar a dor que ele sentia ao ver o corpo sendo levado para debaixo da terra.
Aos pés do jazigo dele, Taehyung se ajoelhou, erguendo a cabeça para observar Junseo, em sua farda, chorar compulsivamente como uma criança. Os olhos vermelhos e inchados de Junseo encontraram os dele por entre a chuva cada vez mais intensa. No entanto, surpreendentemente, aquele olhar não refletia raiva, ódio ou rancor — apenas a mais pura e profunda dor, tão intensa e acusadora que ele sentiu a necessidade de desviar, baixar a cabeça e fechar os olhos com força, levando as mãos até o peito na esperança de acalmar o aperto em seu coração.
Então ele abriu os olhos.
O turvo da escuridão se misturou com a luz cinzenta do dia que entrava pela janela. A ânsia socou seu estômago e subiu pela garganta tão violentamente que ele demorou para processar onde estava.
Outro pesadelo.
Com dificuldade e falta de ar, ele se esgueirou pelas paredes até o banheiro para despejar todo aquele veneno tatuado dentro dele. Seu corpo inteiro doía, as laterais de sua cabeça pulsavam impetuosamente e os dedos de suas mãos estavam dormentes. Até mesmo sua consciência o maltratava, voltando cada vez mais forte a cada vez que a quantidade exagerada de álcool que corria em seu sangue diminuía. A lucidez nunca fora tão dolorosa. A realidade nunca fora tão perturbadora. Estar dentro de si mesmo nunca fora tão sufocante.
Ele vomitou até ficar sem ar dentro da privada da casa de Hoseok. Sua ânsia, não apenas da vodca, mas dele mesmo, foi despejada naquela água suja enquanto seus joelhos doíam contra o piso gelado. Seus olhos lacrimejavam conforme seu estômago expelia os resquícios de outra noite desesperada, do anseio em fugir da realidade e de mais horas e horas de pesadelos. Tossiu. Puxou o ar. Gemeu. Fitou aquela cena deplorável e se afastou até encostar as costas na parede. Ele não tinha forças nem mesmo para sentir nojo de si mesmo.
Ele ergueu a cabeça para tentar evitar que outra ânsia o alcançasse. O cheiro azedo subiu e fez seu estômago rugir. Limpou a boca com a barra da blusa e se levantou devagar, esgueirando-se até a pia e abaixando a cabeça para encher a boca com água. Cuspiu. Escovou os dentes. Depois, engoliu a saliva com dificuldade. O gosto, ainda amargo, novamente revirou seu estômago e o fez apertar as bordas da pia. Respirou fundo. Levantou a cabeça. Fitou seu reflexo no espelho e viu seus olhos encherem-se de lágrimas. Estava destruído.
Sua aparência era um verdadeiro caos. Ele não sabia mais o que era ver o dia, a luz do sol, pessoas, calor, o céu. Estava enfurnado na casa de Hoseok há quase um mês, e nada nem ninguém o fazia sair. JiHyun estava preocupada com o estado dele, e ele sabia que estava sendo completamente inconveniente ali, sempre com uma garrafa de bebida nas mãos, os vômitos, as lágrimas. Seu semblante estava destruído por aqueles pesadelos infelizes em que Jeongguk sempre estava morto dentro de um maldito caixão. Ele sabia que estava sendo um peso. Mas não tinha para onde ir. Ele não podia voltar para lá. Não podia. Aquele apartamento não era — e talvez nunca foi — o seu lugar.
Ele tossiu mais uma vez, uma tosse seca que arranhou sua garganta. Estava doente. Talvez uma infecção ou apenas consequência do exagero de álcool a que não estava acostumado. Hoseok estava chateado e preocupado com ele. Seokjin não parava de ligar e mandar mensagens implorando perdão para ele. Soori lhe trazia algumas roupas eventualmente. Yoongi fingia que não o conhecia, e ele fingia que aquilo não o matava. Nayeon havia sumido completamente.
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Nebbioso (taekook)
Fanfiction[taekook | gangster] Em busca de vingança pelo irmão espancado, Taehyung confronta Jeongguk, líder da fraternidade da universidade, e ambos se envolvem em um perigoso jogo de segredos e desejos, sem perceber o risco de se apaixonarem.