26 | blood.

479 91 59
                                    

O corpo de Taehyung suou frio e as pernas perderam a força diante de toda aquela cena. Dizem que vingança é um prato que se come frio, mas ali, próximo à saída de Sungkyunkwan, debaixo do mormaço quente e angustiante, o gosto que fluía em sua língua era amargo e doloroso demais para alguém que desejara a vingança por tanto tempo.

Mais um soco.

O estômago revirou e o peito doeu. Quando foi arrancado do carro, logo depois de Jeongguk, tentou agir como se não existisse um coração dentro de si, mas foi em vão: as lágrimas se acumulavam pesadamente em seus olhos a cada chute que Jeongguk recebia no rosto, a cada soco que arrancava sangue de seus lábios machucados e a cada golpe que o fazia se contorcer de dor.

Questionou-se quem ele era naquele momento e se era possível existirem duas versões dele habitando o mesmo espaço, pois sentia que estava entrando em colapso. Uma parte tentava resistir à vontade de correr para longe o mais rápido possível e clamar por ajuda, implorar pela vida de Jeongguk ou simplesmente desejar que o tempo voltasse para dentro daquele banheiro de motel e lhe permitisse pensar duas vezes antes que o número de Bogum fosse discado; Enquanto a outra parte mantinha os pés firmes e o corpo imóvel no acostamento da estrada de terra deserta e vazia, com o rosto virado na direção oposta de forma covarde, incapaz de encará-lo sendo surrado como um animal.

Por isso, o gosto da vingança era tão ruim. Tinha cheiro de ferro, gosto de sangue. E ele só desejava que tudo tivesse um fim para que pudesse recolher os pedaços do seu coração e ir embora.

A história dos dois tinha acabado ali.

Ele engoliu a saliva com dificuldade e observou Bogum parado a poucos metros no acostamento, com os olhos cravados nele. Ao lado de Bogum estava o cara que o atacou na rave, com as maçãs do rosto cobertas de hematomas - presenteados por Yoongi na noite passada -, encarando-o como se quisesse estrangulá-lo com suas próprias mãos. Outro garoto o segurava pelo braço. Todos estavam no acostamento da estrada. No total, eram quase nove garotos. Os dois mais fortes seguravam Jeongguk, enquanto um terceiro o agredia violentamente.

Quando Jeongguk finalmente não pôde mais suportar, caiu de joelhos e, antes de receber outro golpe que fez seu corpo ser lançado ao chão, seus olhos carregados de dor se fixaram em Taehyung.

Havia um profundo e infinito universo de coisas que lhe eram ditas. No instante seguinte, sua atenção foi sugada pelo homem que emergiu por trás de um dos carros e caminhou sem pressa em direção ao corpo de Jeongguk. Seus coturnos camuflados e pesados esmagavam lentamente os pequenos grãos de areia. Ele estalou o pescoço e encarou seu rival a seus pés, parecendo apreciar um momento ansiado por anos. Em seguida, ele chutou o corpo de Jeongguk como se fosse um cachorro morto e pisou com toda a sua força na cabeça dele, afundando impiedosamente seu rosto contra o chão.

Aquele era Jang Hanseok.

A cabeça de Jeongguk foi erguida por um dos garotos e viu-se o sangue escorrer como água por sua boca. Seus olhos se abriram com muita dificuldade e seu nariz sangrava abundantemente, assim como a parte esquerda do rosto.

Então, as lágrimas de Taehyung desceram e um choro sufocado se apertou em sua garganta. Um choro horrível de desespero e culpa. Um choro que tremia todo o seu corpo e o fazia soluçar compulsivamente. Lágrimas pesadas tapavam seus olhos e queimavam sua bochecha enquanto escorriam até seus lábios. Mas tudo piorou quando viu Hanseok tomar a barra de ferro das mãos de um dos garotos e acertá-la com força contra a cabeça de Jeongguk mais uma vez.

- E Dalila corta os cabelos de Sansão... - Jang jogou a barra de ferro no chão e aproximou-se lentamente de Taehyung.

- Não encoste em mim! - vociferou.

Ele sorriu.

- Por que está chorando, anjo? Nem parece que foi você mesmo quem quis isso. - Suas unhas se fincaram nas bochechas dele, e seu olhar se alternou entre Jeongguk e Taehyung com certa curiosidade e malícia. - Espera aí...vocês estavam em um motel, não estavam? - Riu, virando-se para ele. - Você é a porra de uma viúva negra! Fode e depois acaba com a vida do seu homem. Isso é doentio. - Seus dedos úmidos deslizaram pelo queixo dele e seu polegar escorregou entre seu lábio inferior. - Eu gosto.

Os olhos de Hanseok tremiam freneticamente em êxtase. Era visível que ele não estava sóbrio e, de perto, parecia ainda mais insano. Taehyung sacudiu a cabeça, tentando livrar a própria boca do dedo nojento, sentindo a bile subir pela garganta e a ânsia incitar o vômito até sua boca.

- Está ouvindo isso, JK, meu amigo? - Hanseok empurrou seu rosto com desprezo e se afastou, voltando até Jeongguk e levantando sua cabeça. Ele balbuciou alguma coisa, mas o sangue que cobria sua boca não o permitia ser entendido. - Seu namoradinho armou para você, cara, isso é tão... foda. Garotos gostosos e cruéis a esse nível me deixam duro, e porra, são tão difíceis de encontrar hoje em dia. Se você sobrevivesse, eu daria tudo para ver o que faria com esse traidor. - Ele jogou a cabeça de Jeongguk no chão novamente e se levantou - Mas já passou da hora de você ir para o inferno, JK, seu grande filho da puta! E adivinha quem vai te mandar para o lugar que você pertence? - Os olhos trêmulos encararam Taehyung com um sorriso malicioso enquanto a barra de ferro era pega do chão e levada até ele. - Isso mesmo. Seu garoto. Quem você pensou ser o seu anjo.

- Não! Bogum! - gritou Taehyung quando Hanseok agarrou seu pulso e forçou seus dedos a se fecharem em volta da barra de ferro.

- Não era isso o que você queria, porra? - Hanseok se irritou e o empurrou com tanta força que o garoto que o segurava o soltou, e seu corpo foi direto ao chão. Hanseok parou diante dele, e seu coração simplesmente disparou no momento em que todos os seus pesadelos se tornaram realidade: Hanseok puxou uma Glock preta e a mirou em sua cabeça.

- Odeio quem não sabe o que quer. Na real, odeio pessoas que não se decidem. Comigo as coisas funcionam muito diferente, e se você não fizer a parada ir até o fim, eu faço. Então agora, meu anjo, você vai pegar essa maldita barra de ferro e acertar tantas vezes naquele filho da puta do JK até eu ver todos os miolos dele espalhados num belo banquete. Ou eu juro que vou fazer que sejam os seus miolos.

- Não. - Foi só o que conseguiu sussurrar em resposta.

- Não gosto quando me dizem não - avisou ele destravando a arma.

Taehyung fechou os olhos.

- Hanseok - Bogum interferiu, dando um passo à frente. - Esse não foi o combinado.

- É claro que uma hora ou outra você abriria essa boca, não é, Park? - Ele revirou os olhos com um ar entediado. Seu humor parecia ser inconstante. - O quê? Só você pode foder o garoto do JK? Que egoísmo! Nós somos uma família, não somos? Não ensinei que precisamos dividir tudo igualmente? Não seja tão mal-agradecido, meu garoto.

- Ele entregou o JK. Deixe-o ir - Bogum insistiu.

Hanseok pareceu refletir falsamente e se agachou, pressionando o cano gelado com força contra a testa de Taehyung.

— Quem me garante que esse veadinho não vai correr para aquele policialzinho de merda e contar que esse bostinha do irmão dele está comigo? - Ele encarou Bogum. - Pare de pensar com as bolas e pense com o cérebro. - Seus olhos trêmulos voltaram aos dele. - O namoradinho dele vai morrer e o irmãozinho já está morto, não tem mais ninguém para salvar essa coisinha aqui. Vamos usá-lo do jeito certo... - Seus olhos percorreram seu corpo de forma nojenta enquanto sua mão livre subia pelos seus ombros. - E depois... foda-se, faça o que quiser. Você já está acostumado com os restos mesmo.

Antes que Hanseok pudesse enfiar o dedo entre os lábios dele mais uma vez, ele juntou a saliva e cuspiu em seu rosto. Hanseok se afastou abruptamente, levando a arma na mão, limpou o rosto com nojo e o encarou com o semblante completamente enfurecido. Taehyung esperou que ele finalmente puxasse o gatilho e, como nos sonhos que tivera, enfiasse uma bala entre os seus olhos. No entanto, o que fez foi erguer o braço e levar seu punho contra o rosto dele.

Seu corpo se estendeu no chão sem forças. Em seguida, sentiu uma pancada forte na nuca e ouviu a voz de Bogum bem distante gritando seu nome.

Em poucos segundos, tudo se tornou escuro, e sua última visão foi do rosto de Jeongguk afogado em seu próprio sangue.

Nebbioso (taekook)Onde histórias criam vida. Descubra agora