Taehyung foi direto para o apartamento de Jeongguk. Era difícil não se lembrar deles dançando em cima do sofá no seu aniversário, da noite em que viraram conversando sobre as dores mais profundas, dos dias em que ele aparecia na porta com dois copos de café dizendo o quanto estava horrível com a cara amassada e os cabelos desgrenhados, embora seus olhos confessassem o oposto. No quarto que aprendeu a chamar de seu, tudo gritava o nome dele também. A noite em que dormiram juntos, bêbados e vestidos de Chucky e Tiffany, e o dia em que se despiu e ficou apenas de cueca para provocá-lo, porque estava morrendo de ciúmes. Até mesmo o banheiro lhe lembrava as inocentes invasões para escovar os dentes enquanto tomava banho.
Ele sentiria falta daqueles dias.
Sentiria falta de acordar com o perfume dele nos lençóis, das borboletas no estômago, do frio na barriga e do calor que atravessava seu corpo quando ele chegava muito perto. Sentiria falta do sorriso dele e dos olhos tempestuosos mergulhados nos seus. Sentiria falta dos arrepios que ele lhe causava e da confusão interna de sentimentos. Sentiria falta do beijo dele. De como seus lábios deslizavam pela curva do seu pescoço e de como se sentia em suas mãos. Sentiria falta do que mal havia começado naquela noite quando fizeram amor debaixo do chuveiro e terminaram na cama. Sentiria falta da amizade deles, de como eram bons juntos, apesar de tudo.
Ele tomou um banho porque estava completamente ensopado de chuva. Debaixo d'água, enfim, desabou. Perdeu a conta de quanto tempo ficou ali, sentindo a pele dos dedos enrugar junto com a sensação de que poderia vomitar o próprio coração a qualquer momento. Suas últimas palavras naquele pub ficariam rondando em sussurros por sua cabeça, e a menos que perdesse a memória, jamais as esqueceria.
Por um breve instante, quando Jeongguk aproximou-se e o tocou. Taehyung teve a convicção de que ele o beijaria, arrancaria suas roupas e o perdoaria em cima daquela cama da melhor forma; no outro, teve certeza de que aquele era o fim dos dois, definitivamente.
Ele precisava se forçar a aceitar aquilo de uma vez por todas. Caminhou até o quarto e vestiu uma calça limpa. Separou todas as suas roupas em uma mala e a fechou. Levaria para Suwon naquela noite e adiantaria boa parte de suas coisas para que não ficasse muito pesado quando se mudasse de vez dali em algumas semanas. Colocou os sapatos e os livros também. Depois, vestiu a camisa de Jeongguk. Levaria consigo, por mais que o fizesse sentir-se estupidamente ridículo cultivando aquelas migalhas que só tornariam ainda mais difícil não pensar nele. Deu uma olhada no armário vazio e o fechou antes de seguir até o notebook, onde imprimiu o bilhete. Enfiou-o no bolso, guardou o aparelho e arrastou sua mala até a sala, mas parou no meio do corredor com um par de olhos o encarando.
Como uma assombração, Lee Chunhee estava ali.
- O que está fazendo aqui? - ela perguntou, parecendo tão surpresa quanto ele. Apoiou a mão direita na curva do braço, escondendo o curativo que havia ali.
Taehyung respirou fundo. Discutir com ela era a última coisa de que precisava naquele momento.
- Vim buscar minhas coisas. Já estou indo embora. - Puxou a alça da mala e continuou andando.
- Você falou com ele? - O tom dela mudara. Havia hesitação, receio e preocupação.
Ele virou o rosto para encará-la.
- Sim.
- Como ele está?
- Vivo.
Ela soltou o ar. Parecia magoada e, ao mesmo tempo, aliviada.
- Pode me dizer onde ele está? Ou essa informação é privada só para você? - O ciúme atingiu sua voz novamente. Seus olhos caíram para a camisa de Jeongguk que ele vestia.
- Se soubesse o que aconteceu hoje, não diria isso. - Sorriu, sem humor.
- Bem, eu duvido. Pelo menos ele falou com você. Estou há dias tentando ter notícias.
- Escuta, Chunhee. - Ela se calou e sustentou seu olhar. - Entenda que isso não é uma competição. Nunca foi. Eu não sou seu rival, não sou seu inimigo. Sinto muito se, de alguma forma, te machuquei com a minha presença na vida dele, mas o problema é que você vai ficar com raiva de mim e de todo o resto que o rodeia. - Suspirou. - Vai ficar com raiva de todos que se envolverem com ele? Vai tentar tirá-los da vida dele como tentou me tirar? Porque você sabe, se ele não quisesse isso, não teria ficado com mais ninguém além de você. Nós dois queríamos tanto, tanto, tanto alguma coisa de Jeongguk que, no fim, quase acabamos com a vida dele, então... só pare. Por favor. Não quero discutir com você. Vamos nos poupar disso. Vamos só... - Suspirou outra vez, cansado. - Nos ignorar. Consegue fazer isso?
Ela baixou os olhos e fitou os próprios pés. Deixou o silêncio se estender por alguns minutos, como se estivesse ponderando suas palavras.
- Tenho mais raiva de você do que já tive de qualquer outra pessoa - confessou com a voz carregada de rancor, como se fosse um segredo.
- Eu sei. - Ele assentiu, virando-se em sua direção. - Não se preocupe. Jeongguk me odeia muito mais do que você agora. Sou a pessoa com quem você menos precisa se preocupar a partir de hoje.
Ela sorriu.
- Foi o que você me disse na primeira vez em que nos falamos na reserva, lembra? Disse exatamente as mesmas palavras. E depois, descubro que você está transando com ele. - Ela fez uma pausa, negando. - Não foi essa a minha surpresa. Não foi isso que doeu. Foi quando descobri que ele estava completamente apaixonado por você, mesmo que eu estivesse ali o tempo todo, mesmo que eu sempre lhe mostrasse o quanto o amava.
- Então, você deveria se afastar dele - sugeriu, da forma mais sincera que pôde. - Hoje, mais do que nunca, eu sei o quão doloroso é amar alguém e não poder viver esse amor. E continuar insistindo nisso só vai te destruir. Sei que, certamente, não sou sua pessoa preferida, Chunhee, e não estou dizendo isso porque também o amo, mas liberte-se disso. Entenda que algumas coisas, infelizmente, não estão ao nosso controle. Devemos apenas aceitá-las. É o que estou fazendo agora. Pegando minhas coisas, indo embora e aceitando que Jeongguk e eu terminamos. Que nos machucamos demais para ter qualquer coisa saudável.
Ficaram em um longo silêncio que, surpreendentemente, não foi constrangedor. Taehyung viu Chunhee engolir a saliva e desviar o olhar, apertando os dedos ainda mais contra o curativo no braço. Ele quis perguntar a ela o que tinha acontecido, mas achou que já havia ultrapassado o limite de intromissão em sua vida.
Ela respirou fundo, como se estivesse saindo de seus próprios devaneios, ajeitou sua postura e passou por ele, que deu por finalizada a conversa quando ela pousou a mão na maçaneta e abriu a porta. No entanto, antes de sair, ela se virou novamente para olhá-lo.
- Sinto muito pelo que fiz - revelou. Parecia estar sendo sincera. - Realmente sinto.
- Eu também sinto.
Então, ela se foi.
Na teoria, era fácil para ele afirmar que não deveria mendigar amor, mas na prática, tudo se revelava muito diferente. Tudo se tornava mais desafiador, mais doloroso e, quase sempre, menos racional. Havia sempre uma parte dele que, por mais que lutasse, acabava sendo subjugada pela saudade, pelo desejo e pelo desespero de alcançar aquilo que mais ansiava.
Era um paradoxo que exigia ser desfeito aos poucos a cada dia. Por Chunhee. Por ele. Por todos os amores que causam muita dor.
Taehyung permaneceu ali por longos minutos, como se sua mente quisesse registrar cada canto do apartamento na memória, e só se moveu quando alguém bateu à porta.
Ele dirigiu-se até lá e abriu.
E como em seus piores pesadelos, tudo escureceu.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Nebbioso (taekook)
Fanfiction[taekook | gangster] Em busca de vingança pelo irmão espancado, Taehyung confronta Jeongguk, líder da fraternidade da universidade, e ambos se envolvem em um perigoso jogo de segredos e desejos, sem perceber o risco de se apaixonarem.