Irmãos

78 13 10
                                    

No meu quarto, em pé, de frente ao espelho arrumo o meu uniforme da Tenjiku. As cores escuras e o design minimalista sempre me deram um certo orgulho, uma sensação de pertencimento. Meu irmão, Rindou, está ao meu lado, ajudando a arrumar a gola e as mangas do uniforme. Ele sempre foi mais meticuloso que eu com essas coisas.

— Segura aqui. — ele diz, puxando a manga do meu uniforme para deixá-la mais ajustada. Obedeço, levantando o braço enquanto ele ajeita os botões e as costuras com precisão.

— Você sempre foi bom com essas coisas. — comento, tentando aliviar a tensão que paira no ar. Rindou apenas sorri, concentrado no trabalho.

Depois de ajustar a manga, ele passa para a gola, dobrando ela de maneira perfeita.

— Não podemos nos dar ao luxo de parecer desleixados. — ele comenta. — Especialmente não na frente dos outros.

Concordo com um aceno. A imagem é tudo na Tenjiku. Uma aparência impecável mostra força e disciplina. E hoje, mais do que nunca, precisamos demonstrar essas qualidades.

Rindou termina com a gola e então se vira para pegar minhas luvas. Ele me entrega o par de luvas e eu as deslizo pelas mãos, sentindo o ajuste firme e familiar. O ritual de vestir o uniforme é quase reconfortante, uma rotina que nos prepara para o que está por vir.

— Está pronto? — ele pergunta com seus olhos violetas fixos nos meus.

Faço um breve aceno, ajustando a última luva.

— Sim, vamos nessa.

Saímos juntos do quarto, o som dos nossos passos ecoando pela casa silenciosa. Saímos pela porta da frente, e o ar fresco da manhã nos envolve. O caminho até a sede da Tenjiku não é longo, mas cada passo parece carregado de propósito.

Na garagem, o cheiro de gasolina e óleo é familiar e reconfortante. Nossas motos estão alinhadas, prontas para a jornada. Rindou já está ajustando o capacete, e eu faço o mesmo, sentindo o acolchoado pressionar levemente contra a minha cabeça.

— Pronto, irmão? — ele pergunta com o som da sua voz ligeiramente abafado pelo capacete.

— Pronto. — respondo, ligando a moto e ouvindo o ronco potente do motor. A vibração da máquina sob mim é quase um convite, uma promessa de velocidade e liberdade.

Rindou monta na sua moto ao meu lado, e juntos, saímos da garagem. O portão se abre lentamente, revelando a rua à nossa frente. O sol da manhã está começando a subir no céu, e o ar está fresco e limpo.

Acelero, e Rindou segue logo atrás. O vento começa a soprar contra o meu capacete, e a sensação é eletrizante. Cada curva da estrada é uma dança que conhecemos bem, uma coreografia que repetimos inúmeras vezes.

As casas e árvores passam em um borrão enquanto ganhamos velocidade. A cidade está começando a acordar, mas para nós, é apenas mais um dia. Mais um dia na Tenjiku, onde cada momento é uma batalha para manter nossa posição e nossa honra.

A sede da gangue não é longe, e o caminho é direto. Enquanto dirigimos, meus pensamentos vagam brevemente para Smiley, para aquele encontro inesperado e os sentimentos que despertou. Mas logo me forço a focar na estrada à frente. Há tempo para essas distrações mais tarde.

Rindou está ao meu lado, uma presença constante e confiável. Ele sempre foi assim, meu parceiro em tudo. E enquanto aceleramos em direção à sede, sinto um misto de orgulho e responsabilidade. Temos um papel a cumprir, e nada pode nos desviar do nosso caminho.

Meus pensamentos se voltem para Smiley. Aquele encontro inesperado, os sentimentos que vieram à tona, tudo isso ainda está fresco na minha mente. Mas agora, com Rindou ao meu lado e o peso do uniforme da Tenjiku nos ombros, tenho que me focar no presente.

Rindou olha para mim, percebendo minha distração e eu forço uma expressão confiante para ele que assente, sem fazer mais perguntas. Ele sabe quando deixar as coisas quietas. E eu agradeço por isso. Por enquanto, tenho que manter minha mente focada no que vem a seguir. A Tenjiku precisa de nós, e não podemos nos dar ao luxo de vacilar.

Aceleramos juntos, lado a lado, prontos para enfrentar qualquer desafio que surgir. Porque, no fim das contas, somos irmãos. E na Tenjiku, isso significa tudo.

Chegamos à sede da Tenjiku e estacionamos as motos em frente ao imponente prédio. A garagem está meio vazia, mas ecoa com o som dos motores que desligamos. Tiro o capacete e observo Rindou fazer o mesmo.

Ele desce da moto com a mesma elegância de sempre, um movimento fluido que é pura confiança. Ao tirar o capacete, seus fios loiros com mechas azuis se bagunçam, mas de alguma forma, isso só o deixa ainda mais bonito. É impressionante como ele consegue ser tão imponente e ao mesmo tempo tão sereno.

Rindou nota que estou olhando para ele com um sorriso nos lábios.

— O que foi, Ran? — ele pergunta, levantando uma sobrancelha.

Dou um passo à frente e coloco a mão no ombro dele.

— Nada, só estava pensando em como sou sortudo por ter você como meu irmãozinho. — digo, com sinceridade. — Tenho muito orgulho de você, Rindou.

Ele sorri, um sorriso que é raro e precioso. Então, sem hesitar, me abraça.

— Eu também amo você, Ran. — ele diz com a sua voz suave mas carregada de emoção.

Retribuo o abraço, sentindo a força e a lealdade em nosso vínculo. Por mais que nossa vida na Tenjiku seja cheia de desafios e perigos, momentos como esse me lembram do que realmente importa. No final das contas, estamos juntos nisso, sempre cuidando um do outro.

Soltamos o abraço e, com um aceno de cabeça, nos dirigimos para dentro da sede, prontos para enfrentar o que quer que o dia traga. Porque, com Rindou ao meu lado, sei que podemos encarar qualquer coisa.

— Está pronto para mais um dia na Tenjiku, Zé Trancinha?

— Até você? — falo revirando os olhos. — Como sabe que aquele maldito Kawata me chamou assim?

— Me contaram, na verdade, o Kakucho me contou isso. — ele diz com um sorriso no rosto. — Combina com você.

— Fica na sua, rainha Calissa.

— Aí já é apelação!

— Ué, você me provoca e acha que eu vou ficar quieto, tampinha? — falo rindo enquanto ele cruza os braços.

Ver Rindou cruzar os braços e fazer beicinho, parecendo uma criança mimada que não ganhou o doce que queria me faz sorrir, e é aí que eu decido que é hora de dar uma liçãozinha nele, do jeito mais divertido possível. Me aproximo e, antes que ele possa reagir, o pego no colo.

— Ran! Me solta, caramba! — ele começa a bater nas minhas costas, mas eu só ignoro.

— Ah, pare de ser um bebê, Rindou. — digo, dando tapinhas no bumbum dele. — Fica quieto, vai.

Ele continua batendo nas minhas costas, mas a intensidade diminui conforme ele percebe que estou me divertindo muito com isso.

— Me coloca no chão, Ran! Isso é ridículo!

— Não até você parar com essa birra. — respondo, com um sorriso travesso no rosto.

Finalmente, ele para de se debater e cruza os braços de novo, mas agora está rindo também.

— Você é um idiota, sabia?

— Eu sei. — digo e o coloco de volta no chão. — Mas sou o seu irmão idiota.

Ele ajeita a roupa e me lança um olhar de falsa indignação, mas logo estamos rindo juntos.

— Vamos logo. — ele diz, tentando recuperar alguma dignidade. — Temos trabalho a fazer.

E assim, seguimos para dentro da sede da Tenjiku, com um sorriso no rosto e a certeza de que, mesmo nos momentos mais sérios, podemos encontrar um pouco de diversão. Afinal, somos irmãos e nada pode mudar isso.

Segunda Chance (+16)Onde histórias criam vida. Descubra agora