Capítulo Dez

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Um clima terrivelmente ruim se criou na mesa. Em uma ponta, Micael, na outra ponta, Sophia. Gertrudes servia o chá para a garota, que sorriu em agradecimento. Já Micael, ficou em conta de se concentrar em seu pedaço de bolo.

— Eu não quero saber mas fui obrigado a te perguntar isso. — Disse à Sophia. — Como foi a prova de vestidos?

— Eu não quero te responder mas vou responder porque também estou sendo obrigada. — Sophia sorriu falsa. — A prova foi ótima! O vestido é lindo.

— Que bom. — Enfiou um pedaço de bolo em sua boca. — E você coube no vestido?

— Está me chamando de gorda?

— Óbvio que não. Parece que você não come há meses! Está tendo refeições na sua casa?

— Já chega! — Sophia voltou a xícara no pires. — Olha, eu sei que você me odeia mas precisamos chegar em um comum acordo. — Gesticulou, um pouco magoada. — Pare de me ofender!

— Então pare de ser chata, a sua família principalmente. — Micael largou o garfo. — Sei que você também me odeia mas agora não tem mais jeito. Vou ser o seu marido daqui há uma semana, olha que merda.

— Confirmo sua fala, meu príncipe. — Sophia respirou fundo, levantando-se. — Esse chá já deu!

— Você mal comeu o seu bolo. É por isso que pesa vinte quilos! — Micael viu ela sair, o deixando. — Sophia, espera. — Tentou ir atrás da menina.

Ela saiu, às pressas. Entrou dentro de uma carruagem, conversando com um guarda para que lhe levasse de volta ao seu reino. Micael chegou tarde, vendo o cavalo partir.

— Inferno. — Colocou as mãos na cabeça. Seu pai iria lhe matar.

Chutou uma pedra que estava perto de si, mas parou quando outra carruagem parou em sua frente. Ouro e vermelho, já sabia de quem se tratava.

Sorriu à beça ao ver Frederico, seu primo, da mesma idade. Ele desceu, ajudando a esposa.

Miquinha. — Frederico abriu os braços, dando um abraço apertado em Micael. — Como vai? Quanto tempo!

— Fred. — Micael sorria. — Que bom te ver! O que houve para você estar aqui?

— Ora, deixe de brincadeiras. — Frederico soltou um riso. — Viemos para o grande evento do reino de Borgerith.

— Ah. — Micael desanimou. — Meu casamento.

— Que cara é essa? Você não está feliz?

Micael observou Frederico e a esposa, Anna. Ela abraçou Micael antes de ser ajudada por um serviçal. Tiraram as malas da carruagem, levando para dentro.

— Está nítido que eu não estou?

— Muito! — Frederico pausou. — Foi arranjado ou você brigou com ela?

— Vamos sair um pouco? Como nos velhos tempos?

Micael procurou abrigo em Frederico. Gostava de conversar e desabafar com o primo, mas, parou de fazer isso quando o mesmo casou. Três anos antes, com Anna. Deixou Owren para viver em outra cidade, em seu próprio reino.

Os dois cavalgaram até um bar, na cidade. Micael ainda frequentava lugares como aquele, Frederico não.

— Pronto, pode me contar o que te deixa angustiado. — Esperou que Micael desabafasse.

Os dois brindaram com suas canecas de cerveja.

— Você lembra da família Brahão, sim? — Frederico assentiu. — Eles estão com pé na cova, passando necessidades tremendas. — Micael revirou os olhos. — Meu pai teve a brilhante ideia de fazer o baile anual, para ajudar Brahão. O veado do príncipe Djah inventou uma mentira daquelas, falando que viu a princesa chupar o meu pau, no jardim.

Frederico abriu a boca, incrédulo.

— Óbvio que foi mentira! A garota é chata, eu jamais deixaria ela chupar o meu pau. — Micael lembrou-se. — Mas ela é gostosa, então, não sei. Depende da situação.

— Por conta disso, você terá que se casar com ela. Estou certo?

— É por isso que você está aqui.

— Complicado. — Frederico não sabia o que dizer. — Eu quero rir mas ao mesmo tempo... Eu realmente não sei o que te dizer, Micael.

— Obrigado, querido primo. Você me ajudou bastante. — Foi falso.

— Sabe. — Frederico tomou um pouco de sua cerveja. — Sophia é uma garota ótima! Escutei muito isso quando estava caçando perto de Brahão. Ela é uma menina espetacular, a única que não dá trabalho à rainha Branca.

Micael ficou em silêncio. Já tinha escutado isso de outra pessoa.

— Eu acho que você deveria ir fundo, Micael. Já está na hora! — Frederico soltou, sincero.

— Como assim... Já está na hora? — Fez uma careta.

— Micael, por favor. Você tem a mesma idade que eu, certo? Não acha que esse negócio de transar com putas e bater punheta no arbusto não ficou antigo?

— Gosto dessa vida, Fred.

— Ok mas você é o único filho do rei. Precisa criar o seu território, suas conquistas! — Pausou. — Seu pai não é eterno. Você precisa se prontificar à Owren.

— Qual foi, Fred? Que papo é esse de garotinha? — Micael se estressou.

— É a realidade, Micael! Você precisa crescer para cuidar de Borgerith. E Sophia pode te ajudar!

Micael remoeu as palavras de Frederico. Não gostou daquele assunto, estava ficando chato à ele.

— Assuma suas responsabilidades. Mostre ao seu pai que você não é mais um garotinho mimado. — Soltou. — Amo você como se fosse meu irmão, mas não aguento as reclamações do tio Jorge.

— Ele reclama de mim? — Micael se surpreendeu.

— Sempre que pode. Recebemos cartas e mais cartas. — Frederico passou a mão no rosto. — Por favor, Micael. Centralize sua vida, por favor!

— Eu... Eu gosto dessa vida! Eu não quero me casar agora, eu nem gosto dela. — Micael fez uma careta.

— Dê uma chance, Micael. Pare de olhar o lado negativo das coisas. Converse com ela! Não seja um idiota.

— Ela é virgem, Fred. Virgem! Eu nunca transei com uma virgem, por Deus.

— E qual o problema, Micael? Isso quer dizer que ela é pura. Uma menina de respeito! — Frederico se irritou. — Veja Anna, ela também era virgem. E agora, vamos construir a nossa família.

Micael franziu o cenho. Largou a caneca de cerveja.

— Espere... Anna está grávida? — Não gostou de escutar aquilo.

— Sim, ela está. Pensei que o tio Jorge tivesse contado.

— Não. — Micael ficou sério. — Fizemos um juramento, Fred. Jamais iríamos ter herdeiros.

— Fizemos isso quando éramos crianças. Mas pelo visto só eu cresci, não é mesmo?

Frederico levantou-se, deixando um pequeno saco de moedas em cima do balcão velho de madeira. Saiu pisando duro. E Micael? Jogou a caneca longe, estraçalhando o vidro, tendo a atenção de todos que estavam no bar.

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