Capítulo Trinta e Seis

32 3 1
                                    


Dois dias depois.

A bandeira vermelha foi aberta contra o vento, o trompete ecoou aos ouvidos de todos os serviçais, juntando com Sophia, que assistia a cena com angústia.

Setenta guardas, rei Jorge e por fim, o príncipe Micael, pela primeira vez em sua primeira guerra.

— Volte logo, por favor. — Ela apoiou as mãos nos ombros de Micael, que estava fardado. — Tome cuidado! Eu te amo. — O beijou.

— Eu também te amo. — Sorriu leve, dando mais um beijo na esposa. Ele não queria ir, no fundo, estava com medo também.

Jorge pigarreou para que o mesmo fosse rápido. Despediu-se de Sophia, ajustando sua espada contra a cintura, descendo a escadaria e subindo em seu cavalo. Micael fez o mesmo, porém, estava se acostumando com a ideia de andar com uma espada contra a cintura.

Em sua mente, aquilo o incomodava.

— Em frente! — Jorge ordenou, partindo em primeiro. Atrás, seus guardas. Micael ficou ao lado do pai, como um menininho perdido.

E Sophia? Com o coração fora do peito.

— Vai ficar tudo bem. — Gertrudes lhe abraçou de lado, reconfortando. — Que tal tomar um chá? Você ainda não comeu nada.

— Eu não quero comer. — Encarou a mulher. — Gostaria de saber sobre o comunicado para o povo de Owren. — Sophia a lembrou.

Gertrudes soltou um suspiro pesado.

— O rei Jorge marcou amanhã de manhã. Você pode os comunicar através do portal do reino, sem portões abertos. — Explicou. — Já tem em mente o que vai dizer, princesa?

Sophia não sabia o que realmente dizer! Não podia contar a verdade e também não podia mentir ao seu povo. Estava sendo difícil à ela.

— Preciso me preparar. — Coçou os dedos, um pouco nervosa.

Saiu em frente, adentrando ao reino enquanto subia as escadas, partindo até o aposento. Gertrudes lhe deixou, fazendo outros deveres que precisavam de sua atenção.

— É verdade que vamos ficar meses sem voltar ao reino?

Micael tinha essa dúvida em mente. Para ele, seria difícil não dormir em sua cama confortável.

— Sério que você está pensando nisso? — Jorge continuou a cavalgar.

— Eu não queria deixar a Sophia sozinha. Estou com medo por amanhã.

— Ela vai se sair bem. — Jorge ficou em silêncio. — Acredito que você esteja com medo de guerrear.

— Também. O senhor sabe que eu não nego. — Micael ficou em transe. — Como vamos fazer? Temos um plano?

Jorge respirou fundo.

— Vamos cavalgar até o centro do morro uivante. Você já foi lá?

— Não faço ideia do que seja. — Micael negou. — Acredito que seja um morro... — Levantou a sobrancelha. — Uivante. — Sorriu sapeca ao pai, que revirou os olhos.

— Enfim. — Jorge continuou. — Vamos nos abrigar até amanhã de manhã. A cavalaria de Frederico deve passar entre onze horas e meio-dia! Se eliminarmos vinte homens, estamos no caminho certo.

— VINTE? — Micael arregalou os olhos. — Quer dizer... Ainda bem que estamos em bastante quantidade.

— Não se gabe, alguns devem morrer. — Jorge foi cruel, deixando Micael assustado.

— Sabia que o senhor não está ajudando?

— Pare de ser bunda mole!

Jorge parou o cavalo imediatamente quando se assustou com o barulho, fazendo Micael ter a mesma reação. Um de seus guardas foi acertado com uma flecha, ao braço, caindo do cavalo em que estava.

A gritaria foi tanta que Micael teve tempo de sair às pressas com seu cavalo, deixando todo resto para trás. Em meio à floresta que não conhecia nada.
Ele só queria se salvar!

Porém, não queria deixar o pai sozinho. Tinha que voltar! E se morresse? Não importaria.

Deu meia volta, cavalgando até o lugar onde a flecha havia acertado o braço de seu guarda. Cerrou os dentes ao ver três estirados no chão, mortos. Nenhum de seus guardas estavam feridos. Ponto para Borgerith!

— ONDE VOCÊ FOI? — Jorge gritou, irritado. Tinha gotículas de suor no rosto.

— Me desculpe, meu pai. — Pausou.

— É bom você criar coragem e ficar quando estivermos em emboscada! Quase perdemos um.

— Eu... Me desculpe. — Abaixou a cabeça. — Foi pura adrenalina.

— Guarde sua adrenalina para correr até a cabeça de Frederico. Quero voltar com ela em minhas mãos! — Saiu em frente, deixando Micael.

Já em Borgerith, Sophia recebia a ilustre visita de sua mãe, com Sarah. Todos os serviçais já sabiam do escândalo comentado por Owren. Não adiantava mais esconder.

— Como vai, querida? — Branca abraçou a filha.

— Precisamos conversar.

— Eu sei. Por isso estou aqui! — Sorriu fraco à filha.

— Como está sendo o preparativo para amanhã? — Sarah perguntou à irmã.

— Eu ainda não sei o que dizer, Sarah. Me sinto pressionada, pois na verdade, eu estou! — Sophia respondeu. — Essa história do Micael ir guerrear também está me agoniando. — Passou a mão em seu peito, alisando.

— Querida, a angústia é normal! Você precisa se acostumar com isso. Micael está assumindo responsabilidades agora. — Branca tentou lhe tranquilizar.

— Responsabilidades? — Sophia fez uma careta. — Ele mal sabe pegar em uma espada, como vai se virar sozinho em uma guerra?

— Se virando. Assim como eu me virei! — Sarah soltou, um pouco triste. — Só quero que você me ajude a esconder isso.

— Estou fazendo o que eu posso, Sarah. — Sophia segurou suas mãos. — Vamos... — Parou de dizer.

Sentiu que o reino estava movimentado quando uma carruagem parou, em frente ao portal, atrás da carruagem vindo de Brahão. Franziu o cenho após ver a imagem de Anna, grávida, descendo com a ajuda do charreteiro.

Sarah ficou pálida! Escondeu-se atrás de Branca, ainda não tendo muita barriga para mostrar.

— Anna? — Sophia correu até ela. — O que faz aqui?

— Vim lhe fazer uma visita! — Sorriu. — Por que o espanto?

— É... É... — Sophia não estava entendendo nada. — Como ousa vir até aqui? — Engrossou a voz, expressando braveza.

— Como? — Anna não entendeu.

Será que ela não sabia o que estava acontecendo?

— De onde você veio, Anna? Eu digo... — Sophia gesticulou.

— Eu estava no reino dos meus pais. Fez quatro semanas! — Assentiu, ainda alegre. — Decidi passar aqui, pois recebi uma carta.

— Uma carta?

— Sim! Haverá um comunicado amanhã, não é verdade?

Ela sabia de tudo! Sophia iria morrer.

— Sim, é verdade. — Não sabia o que dizer. — Por que você não sobe um pouco e... Descansa? — Levou Anna até o reino, adentrando. — Irei pedir à Gertrudes um chá de camomila.

— Obrigada pela recepção. — Agora Anna estava com medo de Sophia. — Irei tomar uma ducha!

— PERFEITO. — Sophia juntou as mãos, lhe assustando.

Viu Anna subir, sozinha. Abanou-se com as próprias mãos, achando um jeito de pensar em uma ótima mentira.

Ela sabia que alguma coisa estava por vir.

Xeque-Mate Para o Amor Onde histórias criam vida. Descubra agora