Capítulo Sete

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Micael detestou acordar cedo naquela manhã. Franziu o cenho diversas vezes quando escutou alguém lhe chamar, batendo na porta suavemente.

Levantou-se com raiva. Partiu-se para o lavabo, molhando sua cabeça e rosto, de uma vez. Escovou os dentes, fez sua higiene e por fim, tomou um banho. Odiava sair sem tomar o seu banho.

Quando desceu, seu pai lhe esperava na ponta da escada. A melhor vestimenta para um evento caótico.

— Bons dias, filho.

— Bons dias? — Micael fez uma careta. — Eu ainda preciso ir?

— Você deve ir. É uma ordem! — Caminhou com Micael até à mesa posta.

— Eu acho isso incrivelmente ridículo da sua parte. E da minha também. — Micael sentou-se. — Eu não quero me casar com ela.

— Mas vai casar! Ninguém mandou você ser um safado brutamontes. — Jorge arrumou o guardanapo em suas coxas. — Chá inglês? — Ofereceu à Micael, antes de ter o bule em mãos.

— Onde está Gertrudes? — Micael procurou com o olhar.

— Pedi para colher alguns morangos. — Jorge pigarreou. — Deve voltar à tarde. Gostaria de comer uma torta bem suculenta, com massa fina e canela. — Sorriu ao imaginar.

— Que legal. — Micael revirou os olhos, cansado daquela conversa.

— Sophia virá hoje, com a rainha Branca. — Jorge avisou, sem espanto.

Já Micael, foi o oposto. Parecia que estava sendo cortado ao meio, sem remédios que tirassem sua dor.

— Então a torta de morango tem uma ocasião especial? — Micael perguntou em deboche, rindo suavemente.

— Sophia adora morangos. — Jorge soltou um riso leve, provocando Micael. — Melhor aprender sobre os gostos da sua futura esposa. E princesa!

— A única coisa que eu quero saber da minha futura esposa e princesa é se a boceta dela é rosada, seguindo dos seios. — Micael sorriu maléfico. Jorge socou a mesa, esbravecido.

— MICAEL!

— Se meu humor estiver bom, eu vou comer ela depois do casamento. Isso é óbvio! — Mordeu um mirtilo. — Senhor, que raio de fruta é essa? — Mostrou a língua, limpando os mirtilos que estavam mastigados.

— Chega de baboseiras. — Jorge se irritou. Deu um solavanco, saindo da mesa. — Te aguardo lá fora!

Micael voltou a comer qualquer coisa que chamasse sua atenção na mesa do café. Não queria ir até o túmulo de Renato. Era medroso! Odiava a família Brahão e por fim, teria que enfrentar seu medo para pedir permissão.

Foi altamente forçado quando subiu em seu cavalo branco, seguindo seu pai, que estava ansioso para chegar até o bosque, mais precisamente onde o rei Renato estava enterrado.

Cavalgaram por meia-hora até chegar no cemitério. Jorge parou o cavalo marrom enquanto Micael descia de seu cavalo branco. Ele sentiu calafrios ao ver o lugar ermo em que estavam.

— Podemos ir rápido com isso? — Soltou ao dar quatro passos, observando os túmulos.

— O que foi? Não me diga que está com medo? — Jorge gargalhou.

— Eu não tenho medo! — Uma grande mentira. — Não gosto desse lugar e isso é uma baboseira imensa para mim. — Micael esbraveceu um pouco.

Jorge tomou posse, indo na frente. Sabia perfeitamente onde o rei Renato havia sido enterrado. Levou Micael até à frente do túmulo, com uma lápide cinza.

— Está pronto? — Jorge encarou o filho, que engolia seco.

— Que baboseira! — Negou com a cabeça. — Me dê licença. — Empurrou de leve seu pai, que segurou o riso.

Micael colocou a mão no peito, no lado direito. Ficou sério, bem sério. Jorge assistia com cautela.

— Eu, Micael Borges do reino de Borgerith, filho do rei Jorge Borges, venho-lhe pedir sua alta permissão para me casar com sua filha e princesa, Sophia Abrahão, do reino de Brahão. — Disse firme. — Prometo ser fiel à sua filha, respeitar e... Amar. — Cerrou os dentes. — Enfim, amar... Sua filha. — Só Deus sabe o quanto ele queria revirar os olhos.

Micael abaixou a mão, virou-se para encarar o pai.

— O que foi?

— Perfeito! — Jorge ficou orgulhoso. — É a primeira vez que vejo você tão sério, em anos.

— Ótimo. Já podemos ir?

— Vamos ficar um pouco. O rei Renato odiaria ficar sozinho, depois de uma permissão linda dessas.

— Meu pai, faça-me o favor! — Micael se irritou. – Ele está morto! Eu acabei de fazer um juramento para os ossos dele. É sério que o senhor ainda quer ficar aqui?

Jorge não conteve em não rir. Assistiu Micael montar em seu cavalo, bravo.
Adorava sacanear o filho, quando podia.

Voltaram ao reino. Encontraram Gertrudes, chegando, um cesto cheio de morangos fresquinhos. Sorriu para a mulher antes da mesma entrar pelos fundos.

Desceu de seu cavalo, alisando o bichano. Jorge parou ao lado, descendo. Sorriu ao ver a charrete sendo parada na frente do reino.

— Maravilha! Elas chegaram. — Alisou as mãos, animado.

— Elas não vinham só comer a torta? — Micael achou o cúmulo.

Jorge andou até à charrete. Ajudou a rainha Branca sair, logo após, Sophia. Recebeu um sorriso gratificante das duas. 

— Viagem longa? — Jorge perguntou à Branca, que corou.

— Tranquila, eu diria. Não é tão longe, meu rei. — Os dois se entreolharam. — Sophia estava ansiosa para chegar.

— Super. — Soltou em deboche.

Micael apareceu ao lado do pai. Odiou ver Sophia, assim como Branca.

— Seja bem vinda, rainha Branca. — Micael foi debochado ao segurar a mão da futura sogra, beijando suavemente.

Encarou Sophia. No fundo, queria matá-la.

— Princesa. — Segurou sua mão. Tocou os lábios suavemente na pele macia de Sophia, mas não lhe deu um beijo.

E sim, surpreendeu a mesma com um chupão. Sophia arregalou os olhos mas não gritou, ficou quieta pela recepção.

— Melhor entrarmos, não é mesmo? Micael irá apresentar o jardim à Sophia. — Jorge ficou sem graça. Acompanhou Branca para dentro, deixando os dois à sós.

Sophia deu um tapa forte no ombro de Micael, que resmungou.

— Você ficou maluco? Por que me mordeu?

— Isso não foi uma mordida! Você é burra? Não sabe distinguir mordida de chupão?

— Você acha que eu quero saber isso? Meu Deus! Óbvio que não. — Negou com a cabeça. — Fique sabendo que se fizer isso de novo, dessa vez, eu corto suas bolas. Entendeu?

— Quanta ousadia! Então você sabe o que é bolas?

— Isso só pode ser um pesadelo. — Sophia falou consigo mesma, rezando para que estivesse em um sonho.

Na sua cabeça nada daquilo era real. Mas na verdade era mais do que real. Seu casamento iria acontecer mesmo ela odiando Micael Borges.

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