Capítulo Onze

37 7 2
                                    


Em Brahão, o reino ficava em silêncio depois do jantar. Louise dormiu bem mais cedo, o que chocou Branca. Não estava acostumada das filhas irem dormir antes das dez horas.

Sophia estava em seu aposento, agora, sem roupas e alguns objetos pessoais dentro do roupeiro. Sua serviçal arrumava as malas, iria para Borgerith na semana que vem, precisava partir.
Mesmo ela não querendo.

Soltou um suspiro enquanto escovava os cabelos lisos e loiros, se encarando em frente ao espelho da penteadeira. Viu sua mãe entrar no aposento, pelo reflexo do espelho.

— Está tudo bem, querida? — Fechou a porta atrás de si.

— Mais ou menos. — Sophia virou-se para a mãe. — A senhora sabe que eu não estou feliz.

— Sophia... — Branca sentou-se na ponta da cama. — Você não precisa gostar dele, de fato. Mas aproveite o que a vida está lhe dando.

— Como é? — Se exaltou. — Vou me casar com uma pessoa que eu odeio e a senhora diz isso? — Sentiu-se ofendida.

— Estou dizendo para você aproveitar o que o rei Jorge está lhe dando. — Branca sorriu leve, tentando causar conforto em Sophia. — O reino vai te oferecer mil coisas, Sophia.

— Eu já disse que não quero ficar presa, mamãe. — Estava quase chorando. — Vou ter que me entregar para ele! — Lembrou-se disso.

Branca ficou em silêncio, engolindo seco. Sophia nunca teve contato com homens, desse modo. Era ingênua demais, o oposto de Micael, que já era bem conhecido no assunto. Nunca ficou nua nem mesmo à sua serviçal, de confiança. Nem mesmo Branca.

— Era sobre isso que eu queria conversar com você, de fato. — Branca cruzou as mãos, não houve contato visual com Sophia. Estava com vergonha.

— Vai me dizer o que fazer no dia? — Debochou.

— Sophia...

— Eu não quero falar mais nada com a senhora. Por favor, eu preciso dormir! — Levantou-se de onde estava. Caminhou em direção à cama. — Apague a luz quando sair, obrigada.

— Vai ser assim? Vai brigar comigo quando tocarmos nesse assunto?

Sophia ficou em silêncio. Afofou os travesseiros e repousou seu corpo, debaixo do edredom. Branca foi tecnicamente obrigada a sair.

— O senhor sabia disso? Anna está grávida!

Já em Borgerith, Micael não acostumava com a notícia que havia recebido. Não estava acreditando que Frederico seria pai. Era inacreditável!

— Sim, eu sabia disso. — Jorge cruzou as pernas, estava sentado na poltrona. Tinha um roupão no corpo. A lareira estava acesa. — Por que o espanto?

— Fizemos um acordo quando éramos jovens.

— E desde quando você virou mestre de acordos? Me poupe, Micael. — Deu de ombros. — Isso serve para você, quando se casar com Sophia.

Micael revirou os olhos.

— Não vamos ter filhos. Não vou engravidar ela. — Trincou o maxilar, pensando. — Aliás, preciso fazer uma pergunta muito importante nessa etapa. — Lá vem.

— O que há?

— Eu vou receber uma noite de núpcias? Quer dizer... Vamos ir em algum local? Uma viagem? — Micael mostrou interesse. Jorge segurou o riso.

— Jesus, você só pensa nisso?

— Sou homem.

— Parece um tarado do bosque. — Jorge levantou-se. — Eu ainda não pensei mas acredito que sim. Uma noite de núpcias seria interessante ao casal. — Soltou um risinho.

— O senhor está adorando isso, não é mesmo? — Micael o seguiu. — Aposto que vai me deixar viajar e colocar a rainha Branca aqui dentro.

— CALADO! — Jorge berrou, nervoso.

O clima havia virado da água para o vinho. Micael se assustou, não esperava essa reação do pai.

— Já falei que exigi respeito em relação à isso, entendeu? — Apontou o dedo para Micael, ainda bravo.

— Me desculpe.

— É bom se desculpar mesmo! — Saiu andando. — Sua mãe nunca será substituída, Micael. Eu dei minha honra quando ela nos deixou, vou honrar isso até o dia da minha morte. — Bateu os dentes, nervoso.

Jorge nunca iria entender o porquê da morte. Sentia tanta falta, como sentia! E Micael, com suas brincadeira inúteis, o deixava nervoso com esses assuntos.

Ele deixou o pai ir, subindo ao aposento. Não disse mais nada, porém, repensou na brincadeira de mau gosto. Precisava mudar seus hábitos.

— Micael?

Frederico apareceu, um pouco sonolento. Franziu o cenho após escutar a gritaria.

— Não precisa se preocupar. — Micael abanou as mãos, fazendo com que Frederico saísse. — Hormônios à flor da pele.

— Quer conversar sobre isso?

— Não quero. — Micael voltou a se sentar. Encarou a lareira. — Só quero ficar em silêncio, ler um livro, quem sabe... Morrer no dia do meu casamento.

— Não fale assim. — Frederico sentou-se onde Jorge estava, o encarando. — Vai ser a cerimônia mais linda de toda Owren. Todos querem ver!

— Vão ficar querendo.

— Micael, dê uma chance à ela. — Frederico sorriu leve. — Sophia é uma boa menina! Não merece estar passando tudo isso.

— Vou contar à Anna que você está elogiando Sophia pobre de Brahão.

— Pode contar! As duas vão ser ótimas amigas.

Micael estava ficando sem argumentos.

— Eu não gosto dela, Fred. Nunca irei gostar.

— Tudo bem, eu não vou ficar gastando saliva com você. — Levantou-se. — Só honre o nome do tio Jorge, por favor. Seja especial à Sophia! Ela não merece nenhum de seus tratamentos inferiores.

Frederico deixou Micael, com a cabeça cheia de pensamentos. E por ali ele ficou, olhando a lareira até a mesma se apagar. Pegou no sono, horas mais tarde. Acordou com Gertrudes lhe cutucando, o chamando para subir ao seu aposento, em sua cama quente e confortável.

Ele se foi, por fim, dormindo até o amanhecer.

Xeque-Mate Para o Amor Onde histórias criam vida. Descubra agora