Capítulo Seis

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— Isso é ridículo, meu pai.

Micael e Jorge estavam sozinhos em outro cômodo do reino. O baile já se acabava, os convidados saiam após soltar elogios de todo o tipo.

— Ridículo? Os dois estavam errados! Micael! — Jorge estava bravo.

— Errados? Ela chutou as minhas bolas! — Micael gesticulou, nervoso. — Aquela brutamontes sem pai e sem dinheiro.

— MICAEL!

— E como Djah contou isso ao senhor? Me diga. — Cruzou os braços, esperou uma resposta do pai.

— Ele correu para nos avisar. Eu acredito no príncipe Djah, ele sempre contou verdades ao público. — Jorge comprimiu os lábios. — Foi uma falta de respeito imensa, Micael. — Juntou as mãos atrás de si.

— É sério que o senhor vai acreditar nisso? — Micael não estava acreditando que iria se casar com Sophia. — Eu sou um galinha mas jamais faria isso com ela. Justamente com ela!

— Ora, Micael. Você quase comeu a garota com os olhos. — Jorge andou até sua mesa de madeira maciça, com detalhes em ouro. — Faltou voar em cima dela quando a mesma chegou. — Buscou um óculos na primeira gaveta.

— Eu não estou acreditando nisso. — Negou com a cabeça, como se estivesse em câmera lenta. — Por causa de uma mentira cabeluda, irei me casar com a pobre do reino de Brahão. Que inclusive...

— Micael, já chega! Não quero mais ouvir as suas opiniões de titica de galinha. — Jorge sentou-se na poltrona de couro. Lia um papel com atenção, sempre colocando a mão em seu óculos.

Micael ficou em silêncio. Porém, estava se matando por dentro.

— Não quero me casar com ela.

— Você é quem sabe. — Jorge deixou o papel de lado. — Se não se casar, vai ser deserdado! Nada disso será seu e vai ter que trabalhar como os guardas para conseguir alguma coisa. — Olhou Micael por cima de seu óculos. — Tem certeza que não irá se casar com ela?

— Vou comer comida estragada igual aos guardas quando saem para caçar? — Micael fez uma careta triste, pensando.

— Sim. — Jorge deu de ombros.

— Não comerei mais bolo de cacau com nozes no jantar?

— Não.

— Ok. — Micael soltou um suspiro. — Eu me caso com a pobreta.

Jorge sorriu de canto, sem que Micael percebesse. Levantou-se, indo cumprimentar o filho.

— Um homem de coragem assume os seus erros.

— Não tem erros mas não quero me tornar um guarda imundo, sem teto para morar. — Ganhou um abraço do pai. — Depois de quanto tempo posso me separar dela?

— MICAEL!

— Eu não gosto dela, não gosto da família dela e nem mesmo quero dividir o meu aposento com uma pobre. — Soltou. — E então, quando eu posso?

— Quando você morrer.

— Eu não acredito nisso. — Revirou os olhos.

— E amanhã trate de acordar cedo. Você irá fazer um juramento no túmulo do falecido rei Renato. — Jorge ordenou, saindo enquanto avisava Micael, que odiou saber disso.

— ESTÁ BRINCANDO COMIGO, NÃO É? 

— Hum, deixe-me ver... Não? — Jorge disse sério. — É melhor você dormir, para poupar a sua energia.

Em Brahão, as coisas iam de mal a pior. Discussões, falações, todos querendo saber o por quê do desespero de Sophia.
Mas só ela poderia dizer, pois também não queria se casar.

— Mamãe, a senhora não vai acreditar em mim? — Lacrimava ao perguntar. Seu mundo caiu ao perceber que se casaria com Micael.

— Sophia, eu não quero mais falar sobre isso. Você irá se casar e passar uma borracha no que fez!

— EU NÃO FIZ NADA. — Se defendeu. — Ele me xingou, xingou a nossa família. — Seguiu a mãe. — Como vou me casar com um homem desses?

— Se casando. — Branca lhe encarou, bastante triste. — Do mesmo jeito que você teve audácia de fazer indecências com ele, também pode ter a audácia de se casar.

— Não quero me entregar para ele, mamãe. — Sophia chorou mais ainda. — Micael é um podre! Sua arrogância irá me deixar infeliz! — Secou suas lágrimas.

— Pensasse antes de agir como uma qualquer de bordel. — Branca piscou rápido. Colocou as mãos na cabeça, nervosa. — Espero que esse assunto morra aqui, entendeu?

— Não vai dizer para as minhas irmãs?

— Elas não precisam saber que você foi indecente. Já não basta uma! — Deixou a filha sozinha. — Está de castigo para pensar no que fez.

Sophia chorou mais ainda. Sentou-se no tapete da sala onde estava, apoiando seus braços em uma poltrona de veludo. Sarah entrou de supetão, vendo a imagem da irmã se desabar.

— Sophia? — Soou doce, preocupada para saber o que tinha conversado com sua mãe.

— Não quero falar com ninguém. — Respondeu, ainda chorando.

— Deixe-me ajudar. — Agachou-se ao lado da irmã. — Você está bem? Quer desabafar?

— Eu só quero morrer, Sarah. — Encarou a irmã. Os olhos fundos e o nariz rosado pelo choro. — Ganhamos um baile mas tecnicamente fui vendida para aquele... Aquele imbecil, sem educação. — Teve ódio ao lembrar de Micael.

— Sophia, não vai ser o fim do mundo. — Sarah tocou o seu cabelo. — Você irá se casar com Micael, do reino de Borgerith. — Sorriu. — Tem noção de quantas se matariam por um lugar desse?

— Por mim, eu passava o meu lugar. Não irá me fazer nenhum tipo de falta.

— Não seja rancorosa! — Sarah chegou mais perto. — Seu casamento com ele vai ser tudo de bom. Fora que, os dois reinos vão se ajudar. Jorge gosta muito de você.

— E eu odeio o filho dele.

— Odiar é uma palavra muito forte. — Sarah soltou um risinho. — De começo vai ser estranho mas você vai se adaptar. Principalmente no quesito de morar no reino mais falado de Owren.

— Eu não quero essa vida, Sarah. — Sophia negou. — Ele falou mal da nossa família! Como eu posso me entregar para um retardado desse?

— Sophia...

— O papai jamais deixaria isso acontecer.

— Acontece que o papai morreu. Estamos precisando de qualquer ajuda possível no momento! Agradeça o seu casamento com o príncipe Micael, não vai ser o fim do mundo. — Sarah levantou-se, agora, um pouco irritada.

— Vai me vender à ele também? Ou você queria estar no lugar? — Sophia também se levantou.

— Talvez sim! Eu gostaria de estar no seu lugar, que sempre é mal agradecida com tudo que nossa família ganha. — Sarah cuspiu as palavras. — Você vai aprender muito se casando com ele, Sophia. Vai virar gente de verdade!

Sarah saiu, bateu a porta e não ousou ir atrás da verdadeira história. Por enquanto, estavam acreditando que Sophia foi jogada à Micael por conta dos problemas no reino.

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