Facínora

Capítulo 12

Dom Fenn - 20 anos
Abril, 2044
Wynthor, Ygraine

Acordei mais uma vez em Ygraine, e meu primeiro pensamento foi sobre o quão exausto estava. Mia tinha uma maneira de me chamar de Satã Junior que me fazia questionar se ela via algo em mim que eu mesmo não via. Talvez ela estivesse certa. Talvez eu fosse um demônio. Ou talvez os verdadeiros demônios fossem os sentimentos confusos que eu tentava reprimir.

O sol mal havia nascido, e já me arrependia mil vezes por ter irritado aquele idiota do ditador. Se soubesse que teria que enfrentar não só inimigos, mas também meus próprios demônios internos, teria ficado quieto e obedecido. Teria evitado tanta merda.

A noite foi infernal. Mal dormi e meu corpo estava cobrando caro por isso. Precisava me recuperar o quanto antes. Hoje era o dia de encontrar o centro de informações, invadir e pegar tudo o que fosse necessário. O plano parecia suicida, mas não tínhamos escolha.

Levantei-me e fui direto para o banheiro. A água fria do chuveiro era um choque, mas ajudava a me manter acordado. Enquanto a água escorria pelo meu corpo, meus pensamentos voltaram à missão. Não podia falhar. Não quando estávamos tão perto.

Terminei o banho e me vesti rapidamente, colocando todas as minhas coisas na mochila. O pressentimento de que algo daria errado não me abandonava. Não tem como invadir um local tão bem protegido sem ser ao menos reconhecido.

Precisávamos de um plano B.

Saí do quarto e fui até o de Mia. Bati na porta e esperei. Ela abriu, já vestida e com o mesmo olhar determinado de sempre.

_ Bom dia, Satã Junior. - Ela disse, com um sorriso provocador.

Se eu tive uma péssima noite era visível que a dela foi boa.

_ Bom dia, Mia. - Respondi, tentando não mostrar o quanto seu apelido me afetava negativamente no momento. - Precisamos conversar sobre o plano.

Ela me deixou entrar e fechou a porta atrás de mim.

_ O que houve?

_ Não acho que podemos simplesmente invadir o centro de informações. É arriscado demais. Precisamos de um plano alternativo.

Ela cruzou os braços, pensativa.

_Concordo. Mas o que sugere?

_Precisamos descobrir mais sobre a segurança do local. Talvez haja um ponto fraco que possamos explorar. Ou então encontrar alguém que tenha acesso e... persuadi-lo a nos ajudar.

Ela assentiu, seus olhos brilhando com aquela mesma determinação que conheço tão bem.

_Conheço alguns lugares onde podemos conseguir informações. Podemos começar por lá.

_Ótimo. - Respondi, aliviado por ela concordar. - Vamos nos dividir. Cobrir mais terreno em menos tempo.

Ela pegou a mochila e jogou nas costas.

_Certo. Encontro você aqui ao meio-dia?

Assenti.

_Combinado. E Mia... tenha cuidado.

Ela sorriu, aquele sorriso que sempre me desarmava.

_Sempre, Dom. Sempre.

Saímos da pousada e seguimos caminhos separados. O sol já estava alto, iluminando as ruas de Wynthor. A cidade parecia tranquila, mas eu sabia que as aparências enganam. Precisávamos ser rápidos e discretos. Cada minuto contava.

Enquanto caminhava pelas ruas movimentadas, minha mente voltou ao que Mia disse sobre persuadir alguém. Ela era uma mestre nisso. Eu só precisava garantir que ela não corresse perigo demais.