Facínora

Capítulo 34

Dom Fenn - 24 anos
Junho, 2046
Drakkenfeld, Valoria

O vento soprava suave nas montanhas ao redor de Rynvale, e o céu estava tingido de um azul profundo, sem uma nuvem à vista. O ar estava calmo, quase como se o mundo soubesse que algo grande estava para acontecer. Algo que estava queimando dentro de mim há muito tempo. Algo que eu precisava fazer.

Eu olhei para o horizonte, sentindo o peso do que estava por vir, mas ao mesmo tempo, uma leveza que não era comum em momentos como esse. Minha mente retornou para tudo o que havíamos passado. Guerras, perdas, dor e sacrifícios. Mas no meio disso tudo, uma certeza havia se tornado cada vez mais forte: Mia era a mulher da minha vida. Não havia mais dúvidas. E hoje... Hoje eu finalmente faria algo que venho planejando há meses.

Estávamos juntos há tanto tempo, e mesmo assim, a ideia de fazer a pergunta me fazia sentir como um garoto de 18 anos outra vez. Não por medo de sua resposta, mas por saber o peso do que significava ser o marido de Mia — uma mulher tão incrivelmente forte e, ao mesmo tempo, tão vulnerável em sua humanidade.

Ela estava a poucos metros de mim, de costas, observando as montanhas com o mesmo olhar que eu. Seu cabelo dançava ao vento, e o perfil dela, iluminado pela luz do fim da tarde, era uma visão que me tirava o fôlego. Eu sempre soube que era uma pessoa de sorte por tê-la ao meu lado.

As minhas mãos suavam, algo incomum para mim, mas saber o que viria a seguir me deixava ansioso, de um jeito bom, mas ansioso. Me aproximei dela lentamente, sentindo o coração bater mais forte a cada passo. Cada passo em direção a ela era um passo em direção a um futuro que eu sempre quis, mas nunca tive coragem de admitir até agora.

_Pensando em alguma coisa? - perguntei suavemente, já estando perto o suficiente para que ela ouvisse minha voz. Ela não se virou imediatamente, apenas balançou a cabeça em um leve gesto, mas aquele sorriso que eu tanto amava apareceu em seus lábios.

_Pensando em tudo, na verdade. - Ela respondeu, finalmente se virando para me encarar, seus olhos brilhando com uma mistura de cansaço e serenidade. - Parece surreal estar aqui, depois de tudo. Parece que vivemos cem vidas em uma.

Eu dei um pequeno sorriso e assenti. Sabia exatamente o que ela queria dizer. Nossas vidas eram um emaranhado de batalhas, traições, reconciliações e, no meio de tudo isso, amor. Um amor que havia crescido a partir do caos e da guerra, mas que, de alguma forma, permanecia inabalável.

_Mia... - comecei, sentindo a emoção crescer em minha garganta. - Há algo que preciso dizer a você.

Ela franziu a testa por um momento, um olhar de curiosidade misturado com preocupação. Seus olhos intensos sempre foram capazes de ver através de mim, de ler cada pensamento meu antes mesmo de eu conseguir expressá-lo. Isso sempre me fascinou e, de certo modo, me deixava vulnerável. Mas hoje eu não estava preocupado em esconder nada.

Eu me ajoelhei no chão.

O olhar dela mudou. De repente, seus olhos se arregalaram, e suas mãos voaram para cobrir a boca, como se ela já soubesse o que estava por vir, mas ao mesmo tempo não acreditasse que estava acontecendo.

_Desde o momento em que te conheci, eu soube que minha vida nunca mais seria a mesma. Mas o que eu não esperava era que, em meio a tanta dor e destruição, eu encontraria a única coisa que faz com que tudo faça sentido... Você. - falei, minhas palavras eram sinceras, vindas do mais profundo do meu coração.

Ela não disse nada, apenas me olhava com aqueles olhos que sempre conseguiam fazer tudo ao meu redor desaparecer. Eu continuei.

_Nós lutamos lado a lado, sobrevivemos a guerras que muitos considerariam impossíveis, e mesmo assim, aqui estamos, mais fortes do que nunca. Mia, eu não quero viver outro dia sem que você saiba o quanto significa para mim. - Eu parei por um momento, tentando controlar as emoções que ameaçavam me dominar. - Você é meu tudo, e não importa o que aconteça no futuro, eu quero enfrentar cada segundo disso ao seu lado.