Capítulo 29

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Mia Arden- 21 anos
Abril, 2044
Rynvale, Valoria

Enquanto o Dom estava focado em liderar os rebeldes, eu sentia a pressão vinda de outra direção - do quartel, da ordem do meu avô, o ditador. O peso do que eu deveria fazer estava me sufocando, como uma sombra que se recusava a desaparecer.

Levantei-me da cama devagar, ninguém tinha percebido o momento que entrei no quartel, tomei todo o cuidado necessário para entrar despercebida precisava de um momento sozinha. Meu coração apertava toda vez que pensava nele e no Elio, e como nossas vidas tinham se tornado uma teia complicada de responsabilidades e deveres. Mas agora... Agora eu tinha que tomar uma decisão.

Eu virava a heroína e continuava sendo a vilã? Perversidade e maldade sempre andam juntas.

Olhei para o reflexo no espelho do quarto enquanto vestia o uniforme militar novamente. O material pesado e firme parecia contrastar com a minha pele, como se pertencesse a uma versão de mim que eu ainda não havia aceitado completamente. Meus dedos traçavam as linhas do uniforme, como se estivesse tentando me convencer de que era parte dessa guerra, de que eu era apenas mais uma soldado, quando na verdade, estava presa no meio de uma guerra interna.

_Preciso sair daqui. - Sussurrei para mim mesma, tentando acalmar a tempestade de pensamentos.

Não deixei a emoção me dominar. Eles eram meu porto seguro, mas eu precisava ser mais forte agora. Fechei a porta silenciosamente, como se o ato de sair fosse também o de abandonar algo que me mantinha presa à minha antiga vida.

O ar frio da madrugada me envolveu assim que saí do quarto. Parei em frente ao painel que mostrava as câmeras e observei, as ruas de Rynvale estavam quietas, uma calma antes da tempestade. Sabia que o conflito estava próximo, mas era estranho ver a cidade tão pacífica, tão cheia de vida, mesmo que todos estivessem cegos ao caos prestes a se desdobrar.

Minhas botas pesadas tocavam o piso com ritmo constante enquanto me dirigia ao centro do quartel. Cada passo parecia um eco de minha decisão - uma decisão que eu ainda não estava pronta para tomar completamente. Meu avô, estava esperando por mim. Ele sempre acreditou que eu seguiria seus passos, que eu seria a herdeira do seu legado. A verdade era que eu nunca quis isso. Mas o chip... O chip que ele implantou em mim sem meu consentimento havia mudado tudo. E agora, mesmo que quisesse, não poderia fugir dessa escolha.

Ele me deu poder, mas também me fez prisioneira dele.

O quartel estava silencioso, mas havia uma tensão palpável no ar. Os soldados estavam em suas posições, prontos para o que viesse. Fui até a sala de comando, onde alguns generais e oficiais de alta patente estavam reunidos, discutindo a estratégia da guerra iminente. Assim que entrei, seus olhares se voltaram para mim. Alguns com respeito, outros com desconfiança.

_Mia. - Um deles saudou, e eu respondi com um aceno formal. Não gostava desse tom de respeito. Parecia algo que eu tinha herdado, algo que me foi imposto.

Passei pelos oficiais e me dirigi a uma sala menor nos fundos do quartel, onde me afirmaram que o ditador estava para "se isolar antes de grandes decisões". E de fato ele estava lá, com as mãos firmes sobre uma mesa de metal, um mapa estendido à sua frente. Seu olhar se ergueu quando entrei, e ele me deu aquele sorriso condescendente que sempre me incomodava.

_Mia. - ele começou, a voz grave e controlada. - Eu sabia que você viria, minha maior conquista.

_Não tinha muita escolha, não é? - respondi, tentando manter minha voz firme. Mas ele sabia o que eu sentia. Ele sempre sabia. - Convenhamos que o Dom ainda está vivo por eu não ter ido contra o senhor, convenhamos novamente, que só não mandou milhares de soldados nos caçar quando o tirei daquele lugar mais cedo por esperar uma resposta positiva minha.

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