Facínora

Capítulo 23

Mia Arden - 21 anos
Abril, 2044
Rynvale, Valoria

O quartel estava mais quieto do que o habitual. O peso da noite parecia comprimir o ar, tornando cada respiração mais densa, mais pesada. Eu não conseguia afastar a sensação de que algo estava errado, que algo estava sendo escondido de mim. Dom tinha saído no momento em que eu mais precisava de respostas, e as perguntas que fervilhavam na minha mente me deixavam inquieta.

O relógio no quartel marcava 11:47 PM. A noite já estava avançada, e o silêncio ao redor me lembrava do vazio que sempre sinto quando Dom não está por perto.

Passei tanto tempo em pensamentos que quando conferi novamente o relógio marcava meia-noite e decidi que não podia mais esperar. Dom estava lá fora, fazendo sabe-se lá o quê, e eu precisava descobrir. Ele sempre tinha segredos, coisas que guardava só para ele. E, desta vez, não seria diferente exceto que, desta vez, eu não ficaria para trás.

Tomei a decisão de sair sem alarde. Sabia que o quartel estava em alerta após os estranhos eventos do dia, mas contava com a confusão geral para passar despercebida. Vesti meu uniforme mais discreto, ajustando a postura para parecer segura de mim mesma, como se tivesse uma missão a cumprir. Sabia que isso poderia salvar minha pele se encontrasse alguém pelo caminho.

Os guardas na entrada principal do quartel mal me notaram. Atravessar aquelas portas foi fácil demais, e isso só me deixou ainda mais nervosa. O que Dom estava atrás que valia a pena arriscar tudo?

As ruas de Rynvale estavam desertas, as sombras alongadas pela luz fraca dos postes. O silêncio era opressivo, e cada passo que eu dava parecia ecoar no vazio. A cada esquina, esperava ver Dom correndo ou espiando pelas sombras, mas tudo o que encontrei foi a escuridão.

Mas então, algo diferente chamou minha atenção.

Um edifício, cercado por guardas em trajes formais e carros oficiais estacionados na entrada. Meu instinto me puxou para lá, algo me dizendo que dentro daquele prédio havia mais respostas do que eu imaginava. Sem pensar muito, ajustei minha postura e caminhei em direção à entrada, os olhos fixos nos guardas.

Quando me aproximei, os guardas me olharam com desconfiança. Eu mantive a expressão firme, sem hesitar.

 _Segurança extra enviada pelo quartel. Ordens diretas. - Minha voz soou fria e autoritária, o tipo de tom que não aceita ser questionado. Sou conhecida pelos soldados de Valoria por conta do meu sobrenome forte no meio.

Os guardas trocaram olhares por um momento antes de se afastarem, me deixando passar. Meu coração batia acelerado, mas minha expressão não denunciava nada. Se eles me suspeitassem de algo, pelo menos por enquanto, estava livre.

O interior do edifício era grandioso, mas carregava uma frieza que me deixava desconfortável. A cada passo que eu dava, sentia a tensão aumentar, e o ar parecia cada vez mais pesado, quase sufocante. Foi então que uma voz ressoou na sala, fazendo meu corpo inteiro ficar em alerta.

_Você chegou no momento certo. - A voz era grave e ressoante, carregada de uma autoridade que não precisava ser imposta. Ela simplesmente existia.

Virei-me lentamente, encontrando a figura do Zarin Pryn parado ao centro da sala, me observando com olhos penetrantes. Aqueles olhos... havia algo neles que me fez estremecer.

Ele era mais imponente pessoalmente, uma presença que parecia encher a sala inteira. O silêncio entre nós era pesado, cada segundo que passava fazia o ar parecer mais denso. Finalmente, ele quebrou o silêncio.

_O que faz aqui? - Ele perguntou, o tom neutro, mas carregado de uma curiosidade perigosa.

Eu não podia vacilar. Tinha que manter a fachada, mesmo que meu coração estivesse disparado no peito.