Capítulo Extra III (Elio)

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Elio Fenn - 18 anos
Março, 2057
Rynvale, Valoria

Eu sempre soube que ser filho de Dom e Mia Fenn me colocaria no centro das atenções, mas estar aqui, no exército de elite de Valoria, era diferente de tudo que eu esperava. Eu não era mais apenas o garoto observando meus pais tomarem decisões no campo de batalha. Agora, era a minha vez de provar que eu merecia estar aqui, não por causa do sobrenome, mas por quem eu sou e pelo que posso fazer.

Desde o primeiro dia de treinamento, a pressão esteve presente, como uma sombra constante. Os outros cadetes me olhavam de canto, como se já tivessem me julgado antes mesmo de me ver em ação. E isso me irritava profundamente. Eu queria ser visto pelo que eu sou, não pelo que esperam de mim por ser o filho de dois dos maiores comandantes do país.

Hoje, porém, as coisas atingiram um novo nível.

A Capitã Ivy Renard não era como os outros oficiais. Desde que entrei em seu pelotão, ficou claro que ela não estava impressionada com meu histórico. Ela era implacável, dura e impiedosa com todos os seus cadetes, mas comigo, parecia ainda pior.

_ Fenn! - sua voz cortante ecoou pelo campo de treinamento. Estava no fim de um exercício, exausto e ainda me recuperando do combate corpo a corpo. Mas ela não dava trégua. - Isso foi o melhor que você conseguiu?

Eu me endireitei, limpando o suor do rosto com as costas da mão. Meu corpo estava esgotado, mas eu não deixaria transparecer fraqueza.

_ Dei o meu melhor, senhora - respondi, minha voz firme.

Ela se aproximou, seus olhos afiados como lâminas.

_Seu melhor não é bom o suficiente. Seu desempenho foi fraco e desleixado. Você acha que ser filho de Dom Fenn vai te dar alguma vantagem aqui?

Já tinha passado pelas mãos da Talia e sobrevivido, mas não acho que conseguiria sobreviver nas mãos da Ivy.

Aquela insinuação me acertou em cheio. O sangue ferveu nas minhas veias, e senti meus punhos se fecharem involuntariamente. Todos sempre pensam isso, como se eu estivesse aqui por privilégios, como se minha presença fosse um favor. Mas não. Eu lutei para estar aqui. Eu mereci cada gota de suor que derramei para chegar a esse ponto.

_ Não estou aqui por causa do meu pai. Estou aqui porque sou capaz, porque treinei a vida inteira para isso - retruquei, mantendo meu tom controlado, mas não pude esconder a raiva crescendo dentro de mim.

Ela deu um passo à frente, ficando tão perto que eu podia sentir a intensidade do olhar dela queimando sobre mim.

_ Prove. Mostre que você é mais do que o filho do comandante. Caso contrário, eu mesma vou garantir que você não passe da próxima fase.

Eu queria responder algo, queria explodir, mas travei. Sabia que era exatamente o que ela queria. Estava me testando, provocando para ver se eu perdia o controle. Respirei fundo, tentando acalmar a tempestade dentro de mim.

_ Eu já sou melhor que muitos aqui - falei, minha voz saindo mais baixa, mas firme. - E não vou permitir que ninguém, nem mesmo você, me subestime. Vou mostrar o meu valor.

Ela sorriu, mas não foi um sorriso amigável. Era frio, calculado.

_ Vamos ver, Fenn. Vamos ver.

Quando me afastei, ainda sentia o olhar dela me perfurando pelas costas. O campo de treinamento parecia distante agora, como se estivesse preso em uma névoa de frustração e raiva. Eu sabia que todos estavam de olho em mim, esperando para ver se eu fracassaria ou não. E a Capitã Renard? Ela estava à espreita, pronta para me derrubar ao menor sinal de fraqueza.

Enquanto caminhava em direção ao alojamento, pensei em minha irmã. Laila, com apenas 7 anos, era tudo para mim. Desde que ela nasceu, prometi a mim mesmo que seria alguém em quem ela pudesse se espelhar. Alguém que ela pudesse admirar, assim como eu admirava nossos pais. Ela não sabia o quanto eu lutava para me manter forte, para ser digno do legado que me foi deixado, mas eu sabia. E faria de tudo para garantir que ela tivesse um futuro melhor, protegido de tudo isso.

Eu tinha que ser mais do que esperavam de mim. Não por causa do nome Fenn, mas por ela. Por Laila. Ela merecia um irmão que fosse forte o suficiente para enfrentar qualquer desafio. Eu faria isso, custasse o que custasse.

Quando cheguei ao alojamento, sentei na minha cama, esfregando o rosto cansado. A imagem de Laila me dava forças. Ela era minha âncora. E, por mais que quisesse ser alguém para ela, no fundo eu sabia que também era por mim. Eu precisava ser melhor. Precisava ser mais forte. Precisava provar, para todos e para mim mesmo, que eu era mais do que um nome.

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