Facínora

Capítulo 21

Dom Fenn - 21 anos
Abril, 2044
Rynvale, Valoria

Entro no dormitório do quartel com passos rápidos, a mente fervilhando com as possíveis implicações do que acabara de acontecer nas ruas. A estranha transmissão do "Código 23" e o caos que ela desencadeou não saem da minha cabeça. Preciso de respostas, e sei exatamente onde encontrá-las, mesmo que isso signifique invadir o coração do governo.

Chego à minha cama e me ajoelho, puxando a mochila que mantenho escondida debaixo dela. Dentro, há uma série de ferramentas que usei em missões passadas — equipamentos de invasão, gadgets de hacking, e uma arma de energia compacta. Eu sei que, uma vez que sair por aquela porta, não haverá volta. Mas não tenho escolha.

O governo sempre foi uma presença opressiva em nossas vidas, mas agora algo estava diferente. A voz na transmissão, o pânico nas ruas... Algo grande estava acontecendo, e eu tenho que descobrir o quê.

Coloco a mochila sobre os ombros, ajusto o cinto onde a arma está presa e me dirijo para a saída. Mia está esperando no corredor, mas eu não posso envolvê-la nisso. Não agora.

 _Dom, o que você vai fazer? - Ela pergunta, sua voz carregada de preocupação.

_Eu vou descobrir o que está acontecendo. Preciso que você fique segura. Volte para o quartel e espere por mim. - Tento soar firme, mas sei que ela percebe a tensão na minha voz. - E não esqueça de deixar o Elio seguro não importa o que aconteça.

Ela hesita, mas acaba acenando com a cabeça. Não quero deixá-la, mas o que estou prestes a fazer é perigoso demais para envolvê-la.

_Dom, você tem até meia noite se não voltar vou te caçar até o inferno se necessário e isso não é algo discutível.

Deixo o quartel com passos determinados, a cidade ao redor agora uma tempestade de caos. Soldados tentam manter a ordem, mas há uma sensação de medo no ar que ninguém consegue dissipar. Sigo pelas ruas, me mantendo nas sombras até chegar a um prédio do governo que, segundo meus contatos, guarda segredos que ninguém deveria saber.

A casa do ditador.

Entro no prédio usando um cartão de acesso falso que roubei meses atrás. O lugar está praticamente deserto, a maioria dos funcionários provavelmente evacuados devido ao "Código 23". Isso me dá a vantagem de que preciso. Corro pelos corredores, me dirigindo para o subsolo, onde os arquivos secretos são guardados.

Essa é a vantagem de fazer parte da resistência, eu sei onde encontrar qualquer coisa e sempre só esperei a hora certa de agir. Espero só que não tenha atrasado muito.

O que eu não esperava era encontrar... Um tanque gigante. O tanque de vidro, que ocupa a maior parte da sala subterrânea, está iluminado por uma luz azulada, e dentro dele, nadando lentamente, há um enorme tubarão. A visão me paralisa por um momento. O que diabos é isso? O que um tubarão está fazendo em uma instalação governamental?

Lembro-me rapidamente dos sussurros pelas ruas que diziam da existência de um tubarão na casa do ditador mas sempre achei que fosse mentira, nunca acreditei nisso.

Me aproximo do tanque, meus olhos fixos na criatura que parece me observar de volta. Há algo nos olhos dela... Uma inteligência quase humana, como se estivesse consciente de mim. Um arrepio percorre minha espinha.

Mas não tenho tempo para ficar pensando nisso. Encontro um terminal próximo ao tanque e começo a trabalhar nele, hackeando o sistema de segurança para acessar os arquivos. O terminal exibe uma série de códigos de acesso, mas consigo passar por eles rapidamente.

Então, encontro o que procuro: um arquivo criptografado chamado "Simulação Realidade V1.0". Meu estômago dá um nó. Isso não pode ser o que estou pensando... Mas a sensação de que estou prestes a descobrir algo terrível só cresce.