Capítulo 17

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Dom Fenn - 18 anos
Agosto de 2041
Galendra, Tressida

Estou em uma missão de reconhecimento ou qualquer baboseira do tipo.

Confesso que não prestei muita atenção nisso, tô morrendo de sono e tenho certeza que acabou de amanhecer.

Depois de 10 anos estou voltando ao meu país e em uma posição bem diferente da que saí. De um garoto recém órfão de guerra volto como soldado inimigo do meu próprio povo.

É uma visão bem complexa do meu mundo.

Iremos hoje averiguar uma área que foi destruída pelo exército de Valoria.

O exército em que faço parte.

No lugar em que fui feito.

Desço do avião e presto atenção ao meu redor.

A luz tênue do amanhecer se espalha pelo horizonte, tingindo o céu com tons suaves de laranja e rosa. A estrada diante de mim estava deserta, exceto pela ocasional figura de um soldado ou veículo militar passando. O cansaço pesava sobre meus ombros como um manta de chumbo, e meus olhos insistiam em fechar-se, mesmo tendo que ficar atento a qualquer perigo iminente.

Dez anos. Uma década inteira desde que eu fui arrancado de tudo o que conhecia e jogado no meio de um conflito que não compreendia. Naquele tempo, eu era apenas um garoto, tentando sobreviver em um mundo que parecia decidido a me destruir. Agora, voltava ao meu país de origem, mas não como um salvador ou herói, e sim como um soldado do exército que havia se tornado o inimigo do meu próprio povo.

Que filha da putagem.

Entro em um carro e espero os outros soldados.

A ironia amarga da situação não me escapa. Eu era um estranho na terra que deveria chamar de lar, carregando as cicatrizes da guerra tanto no corpo quanto na alma. Eu havia sido moldado pelo exército de Valoria, treinado para ser uma máquina de combate eficiente, desprovida de qualquer laço emocional com meu passado.

Mas será que isso realmente aconteceu?

O veículo militar que eu dirigia avançava lentamente pelas ruas devastadas, os destroços e a destruição ao redor servindo como um lembrete sombrio da violência que havia engolido a região, não só em Galendra como em toda a Tressida e outros países. A missão de hoje era simples: averiguar uma área destruída pelo próprio exército de Valoria. Irônico, não? Estávamos aqui para avaliar os danos que nós mesmos havíamos causado, como se a burocracia da guerra precisasse de tal confirmação.

Meus companheiros de equipe estavam silenciosos, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Alguns, como eu, eram órfãos de guerra, arrancados de suas casas e moldados para servir a um exército que não lhes pertencia de verdade, porém, parece haver um acordo silencioso onde todos estão do mesmo lado mas não são amigos. Outros eram soldados leais a Valoria, acreditando firmemente na causa que defendiam. E havia aqueles que, como eu, estavam presos em um limbo moral, questionando o sentido de tudo isso.

E é por esse motivo que entrei em um acordo com os rebeldes. Informações de dentro com ações de fora.

Espero que essa união resulte em algo.

Enquanto nos aproximávamos da área designada, o cenário de destruição se tornava cada vez mais evidente. Prédios reduzidos a escombros, veículos queimados e abandonados, e a ocasional visão de civis tentando reconstruir suas vidas no meio do caos. A paisagem era um testemunho mudo da brutalidade da guerra, uma lembrança constante de que, independentemente do lado em que estivéssemos, todos éramos vítimas.

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