Facínora

Capítulo 6

Dom Fenn - 8 anos
Novembro, 2031
Rynvale, Valoria

Sigo os senhores Arden enquanto engulo o meu choro.

Mamãe diria que não podemos guardar nossas emoções e que um dia elas transbordam e não irá fazer bem a nós. E eu até que concordo com ela, na minha pouca vida não sofri algo tão devastador que a sua perda e nem posso sequer lamentar.

Mas como eu choraria a morte dos meus pais na frente dos seus assassinos?

Não posso.

Simplesmente... Não posso.

_ Amanhã irei mandar a babá comprar roupas de verdade para você. - A senhora Lyra Arden fala.

Mas o que seriam roupas de verdade? Roupas que não são de Tressida?Da minha terra natal?

Respiro tentando novamente conter meu choro, eu preciso ser forte como o papai.

Seguro por dentro do bolso o colar de tulipa da mamãe e as alianças de ambos. É a única coisa que tenho comigo de recordação deles em vida.

 _ Ah! Aí está a nossa menininha. Dom, essa é a Mia.

Olho para a garota que vem na nossa direção da minha idade com roupas perfeitas e sem um pingo de poeira. Afinal, ela não viveu uma tragédia e teve seus pais mortos.

Seus sapatos estão limpos e não com sangue seco deles.

Ela está visivelmente imaculada, seus olhos são grandes e bonitos... Gosto deles, mas não deveria.

Seus olhos marrons têm uma sutileza e talvez acho que um traço infantil comum para a nossa idade. Sinto que os meus olhos, mesmo sendo azuis e como mamãe dizia serem de um brilho intenso, foram apagados hoje. Eu queria ser essa menina por um momento, ter meus pais vivos e poder abraça-los uma última vez.

Espero que ela aproveite esse tempo que ela ainda tem com eles como eu não aproveitei com os meus.

Mia sorri para mim, um sorriso gentil que não chega até os seus lindos olhos, mas esse gesto só aumenta minha raiva. Ela não entende o que estou passando no momento. Ela nunca vai entender. Ela não sabe como é perder tudo de uma hora para outra, como é sentir a dor de um coração despedaçado.

_Olá, Dom! - Ela diz levemente alegre, como se tudo estivesse bem no seu mundo.

Eu a ignoro, sentindo o calor da raiva crescer dentro de mim. Ela não tem o direito de estar tão feliz enquanto eu sofro tanto. Tento não olhar para ela, mas é difícil. A comparação é inevitável e cada detalhe da sua aparência perfeita só faz minha situação parecer pior.

Mas é inevitável não perceber o quanto é linda.

_ Venha, Dom. Vou te mostrar o seu quarto. - Diz o senhor Arden, o acompanho passando no lado dela e consigo sentir o seu cheiro doce no ar bem diferente do meu que cheira bem mal.

 Acabo sendo guiado pelo corredor.

Entramos em um quarto grande, com uma cama enorme e móveis elegantes. Mas tudo parece frio e estranho. Nada ali tem a ver comigo ou com a minha vida de antes, não é aconchegante chega nem a parecer ser uma família ali.

_Espero que você goste, Dom. - Diz a senhora Arden com um sorriso forçado, em que momento ela nos seguiu e eu não percebi?

Tudo neles me remete a uma gentileza forçada e uma manipulação por trás.

Eu não gosto. Detesto cada detalhe. As cortinas pesadas, os tapetes caros, a mobília impecável. Tudo grita riqueza e opulência, algo que nunca fez parte da minha vida simples e feliz em Tressida.