Capítulo 11

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Dom Fenn - 8 anos 
Dezembro, 2031 
Rynvale, Valoria

Hoje sonhei com os meus pais.

Foi mais uma lembrança do que um sonho, minha mãe estava conversando comigo deitada no meu quarto como sempre. Sinto falta do jeito que ela ria das minhas piadas bobas e me dava aquele abraço apertado antes de dormir. Eu a amo tanto e é difícil saber que nunca mais a verei novamente por conta de uma guerra que nem sequer faço parte.

Só queria vê-los novamente, mas tenho que me contentar somente com um colar seu. Às vezes, aperto o colar na minha mão e tento imaginar que ela está comigo, mas só sinto um vazio enorme. A guerra levou tudo de mim e me deixou sozinho. Ninguém aqui entende a dor que sinto.

Tomo um banho rápido e me visto, estamos de férias da escola. O senhor Arden disse que iria me levar hoje para um treinamento militar afastado da cidade. Ele é um cara duro, nunca sorri e sempre me olha como se esperasse que eu fizesse algo errado. Acho que ele acha que isso vai me fazer forte, mas eu só me sinto mais fraco.

Chegamos no campo de treinamento. O lugar é enorme, cheio de gente correndo, gritando ordens, barulho de tiros ao longe. Meu coração bate mais rápido. Não estou pronto pra isso, mas não tenho escolha. O senhor Arden não pega leve comigo. Ele diz que a guerra não vai pegar leve também.

_Vamos, garoto, levanta! - Ele grita. Caí de novo tentando fazer aquelas flexões. Meus braços doem, meu corpo inteiro dói. Tento levantar, mas minhas pernas parecem gelatina. Ele não quer saber. Me empurra de novo. - Você tem que ser forte, Dom. Não tem mais ninguém pra te proteger.

Eu sei disso, mas não torna as coisas mais fáceis. As lágrimas vêm, mas seguro. Não vou chorar na frente dele. Quero ser forte, mas me sinto tão pequeno. Cada vez que ele me empurra, me sinto mais fraco. Não entendo nada do que ele quer que eu faça. Tudo é confuso, rápido demais. Sinto falta da minha mãe, do jeito que ela segurava minha mão e dizia que tudo ia ficar bem.

_De novo!- Ele grita. Tento de novo. E de novo. Caio mais vezes do que consigo contar. Meu corpo inteiro parece estar quebrando, mas ele não para. Diz que preciso continuar, que preciso ser forte. Sinto que nunca vou ser forte o suficiente.

Mas eu preciso.

Quando finalmente temos um intervalo, sento no chão e olho para o colar da minha mãe que trouxe no meu bolso. Tento lembrar do som da sua voz, do seu riso. Tento me agarrar a essas lembranças para não me perder completamente.

O senhor Arden volta, me dá uma garrafa d’água.

_Vai ficar mais fácil, garoto. Você vai ver. - Eu espero que sim

Mas eu não tenho tanta certeza. Sinto como se o mundo estivesse desmoronando ao meu redor e eu não sei como segurá-lo. Tudo que sei é que preciso continuar tentando, por mais difícil que seja. Porque, no fundo, ainda espero que um dia, de alguma forma, vou ver meus pais novamente.O senhor Arden volta, me dá uma garrafa d’água.

_Vai ficar mais fácil, garoto. Você vai ver.

Mas eu não tenho tanta certeza. Sinto como se o mundo estivesse desmoronando ao meu redor e eu não sei como segurá-lo. Tudo que sei é que preciso continuar tentando, por mais difícil que seja. Porque, no fundo, ainda espero que um dia, de alguma forma, vou ver meus pais novamente.

Em um pós vida se isso existir.

O descanso dura pouco. Logo estamos de volta àquele campo de treinamento, cheio de barulho e confusão. O senhor Arden me manda correr. Corro até meus pulmões queimarem, até minhas pernas ameaçarem desistir. Ele continua gritando ordens, a voz dele é uma mistura de raiva e frustração, como se ele não entendesse porque sou tão fraco. Mas como poderia ser diferente? Sou só uma criança.

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