Capítulo Extra V (Elio)

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Elio Fenn - 18 anos
Maio, 2057
Rynvale, Valoria

A rotina no campo de treinamento continuava implacável. Os exercícios eram cada vez mais intensos, e a Capitã Renard, como sempre, estava lá para garantir que eu não abaixasse a guarda. Mas agora, algo havia mudado. Eu sentia seus olhos em mim de uma maneira diferente. Não era apenas a supervisão de uma superior analisando o desempenho de um cadete. Era algo mais profundo, quase indescritível.

Estávamos no fim de um longo dia de exercícios de combate corpo a corpo. O campo estava quieto, a maioria dos soldados havia se dispersado para seus alojamentos, mas eu permaneci ali, praticando golpes em um saco de pancadas. A dor em minha perna, resultado da lesão que sofri na missão de simulação semanas atrás, ainda estava presente, mas eu tinha aprendido a ignorá-la.

Foi quando ouvi os passos dela.

_ Você ainda está aqui? - A voz da Capitã Renard soou firme, mas sem a habitual severidade.

_ Ainda há muito o que melhorar - respondi, sem olhar para ela, concentrado nos meus movimentos.

_ Você já está exausto, Fenn. Não precisa provar nada para ninguém. - Ela se aproximou, ficando a poucos metros de mim, observando com aquele olhar crítico, mas agora menos impessoal.

_ Não estou provando nada para ninguém. Só para mim mesmo - rebati, tentando esconder o quanto sua presença me afetava.

Houve um silêncio, o tipo de silêncio pesado, carregado de coisas não ditas. O ar ao redor parecia mais denso, como se estivéssemos à beira de algo inevitável.

_ Você sempre faz isso - ela disse, cruzando os braços. - Sempre se empurra além do limite, tentando ser mais do que já é.

_ E você sempre me empurra para ser mais do que posso. - Dessa vez, eu me virei para ela, sentindo o suor escorrendo pelo meu rosto e meu corpo cansado de tanto esforço. -Por que faz isso, Capitã? Por que sempre me desafia como se quisesse me ver falhar?

Ela deu um passo à frente, seus olhos fixos nos meus. Havia uma intensidade ali que eu nunca tinha percebido antes, algo que me fez prender a respiração por um momento.

_ Porque você precisa ser o melhor, Fenn. E porque... - Ela hesitou, como se as palavras estivessem presas em sua garganta. - Porque eu não posso aceitar nada menos de você.

Seu rosto estava a poucos centímetros do meu agora. A proximidade me fez sentir o calor que emanava dela, misturado ao aroma suave de sua pele, uma mistura de esforço físico e algo mais suave, quase imperceptível.

_ Por que não pode aceitar menos de mim? - perguntei, minha voz saindo mais rouca do que eu pretendia. Eu sabia que a resposta ia além do treinamento, além das expectativas dela como minha superior. Havia algo mais. E naquele momento, eu precisava ouvir.

Ela desviou o olhar por um segundo, como se estivesse lutando contra algo dentro de si, mas logo voltou a me encarar, sua expressão indecifrável.

_ Porque eu vejo algo em você, Fenn. Algo que vai além do seu sobrenome, além das suas habilidades. - Suas palavras eram mais baixas agora, quase um sussurro. - Eu vejo a sua força, mas também vejo as suas dúvidas. E, de alguma forma, isso me incomoda.

Meu coração começou a bater mais rápido, como se estivesse à beira de algo que eu não sabia se estava pronto para enfrentar. Suas palavras ecoavam em minha mente, mexendo comigo de um jeito que eu nunca imaginei possível. Não era mais sobre ser um soldado, não era mais sobre provar meu valor. Havia algo mais entre nós, algo que não poderia ser ignorado.

Ela deu mais um passo à frente, e agora estávamos tão próximos que eu podia sentir sua respiração batendo contra meu rosto. Eu me vi atraído por ela, como se algo invisível nos empurrasse para mais perto. A tensão que havia crescido entre nós durante semanas estava prestes a explodir.

_ Capitã, eu... - comecei, mas minha voz sumiu quando seus olhos se fixaram nos meus de uma forma que nunca tinham antes. Não havia mais espaço para palavras.

Antes que eu pudesse reagir, ela deu o último passo, fechando o espaço entre nós, e me beijou.

Foi rápido, intenso e cheio de todas as emoções reprimidas que havíamos guardado por tanto tempo. O beijo era uma mistura de raiva, frustração, desejo e, acima de tudo, uma conexão que nenhum de nós tinha conseguido entender até aquele momento.

Senti seu corpo pressionar contra o meu, suas mãos segurando firmemente a minha nuca enquanto eu envolvia sua cintura, puxando-a ainda mais para perto. O mundo ao redor desapareceu, e tudo o que importava era o calor do seu corpo contra o meu, o gosto dos seus lábios, a intensidade daquele momento.

Quando finalmente nos separamos, nossos olhares se encontraram de novo, e desta vez, não havia mais máscaras. Não havia mais barreiras entre nós. A Capitã Renard, a mulher que sempre me desafiou, agora estava vulnerável diante de mim, assim como eu estava diante dela.

_ Isso não muda nada, Fenn - ela disse, sua voz ainda ofegante. Mas havia um tom suave em suas palavras, uma promessa não dita.

_ Não, não muda - respondi, sorrindo levemente. - Mas talvez mude tudo ao mesmo tempo.

Ela me olhou por mais alguns segundos antes de soltar uma risada baixa, quase imperceptível, e se afastar lentamente, suas mãos deslizando pelo meu peito até finalmente soltarem o contato.

_ Amanhã, às 05:00. Não se atrase - disse, retomando o tom autoritário, mas com um brilho diferente no olhar.

Assenti, ainda sentindo o calor do beijo em meus lábios. Quando ela finalmente se virou e começou a caminhar em direção ao alojamento, eu sabia que nada seria igual entre nós. A tensão que havia crescido por tanto tempo tinha se transformado em algo mais.

Algo que, eu sabia, só estava começando.

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