A americana.

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Capítulo 34

Chamo o elevador e entro, mas vejo que Harry ainda consegue entrar a tempo.
Eu: sai daqui. - digo, limpando as lágrimas dos olhos.
Harry: nem acredito que estás assim por um estúpido jogo. - ele fala calmamente, ele não percebe. O Harry aproxima-se de mim e coloca suavemente as suas mãos nas minhas ancas, mas eu afasto-me. - Foi só um beijo, Tris. - ele encosta-se à parede do elevador com o cotovelo e clica no botão que diz Stop e paramos.
Eu: se tivesse sido só isso... - digo, com as lágrimas a quererem escapar.
Harry: como assim?
Eu: estou farta. - deixo-me cair e sento-me a um canto com os braços abraçados às pernas. - Eu-eu...o que é que se passa connosco?
Harry: o que queres dizer?
Eu: eu não sei! - soluço. - Só sei que tu estás diferente!
Harry: mas eu estou igual. - ele baixa-se. - Olha para mim. - pega-me nas mãos. - Explica-me o que se passa
Eu: ainda gostas de mim?
Harry: sim...
Eu: mas não o suficiente.
Harry: wtf?! Mas onde é que tu queres chegar?

Eu não sei.

Eu: eu...quero...
Harry: queres o quê?
Eu: quero acabar.

Ele olhou-me confuso, mas só conseguiu dizer uma palavra.
Harry: oh.
Eu: desculpa.
Harry: não peças desculpa...ahm...é o que tu queres mesmo, acho eu.
Eu: mas eu não sei.
Harry: então quem sabe? - ele força um sorriso e acaricia-me a face.
Eu: tens razão.
Harry: se calhar até pode ser melhor assim.
Se calhar...
Eu: achas mesmo?
Harry: não sei.
Deixamo-nos ficar em silêncio a olhar para a porta do elevador.
Harry: desculpa.
Eu: pelo quê?
Harry: por não poder dar-te tudo aquilo que querias.
Eu: mas deste-me tudo o que eu precisava.
Harry: então porque é que não foi suficiente?
Eu: ja te disse, eu não sei.
O Harry levanta-se, mas mais irritado.
Harry: às vezes não dá mesmo para te perceber. - toca no botão e o elevador começa a subir. - Se quiseres falar comigo, sabes onde me encontrar. - diz bruscamente e sai.

O que é que eu fui fazer?!
Agora vou é que o vou perder de vez.
Desço para o meu andar e abro a porta.
M: o que se passa, Tris??!
Corro para os braços dela, a chorar.
Eu: eu e o Harry...
M: discutiram? Oh, minha querida, isso é normal.
Eu: não!, Eu e o Harry acabámos!
A minha mãe por momentos ficou sem reação.
M: oh. - continuo nos braços dela a chorar. - eu vou preparar-te alguma coisa, eu levo-te ao quarto.
Eu: não é preciso.
M: de certeza? - beija-me a testa.
Eu: sim, de certeza. Vou para o meu quarto, mãe. Apetece-me estar sozinha.
M: eu compreendo. Sabes que se precisares eu estou aqui.
Eu: obrigada. - digo entre soluços.
Dirijo-me para o meu quarto e deito-me.
Fico outra vez a fitar o teto. Porque é que eu faço isto?
Vou tomar um banho, um banho longo para pensar.

Ligo a água e coloco uma daquelas bolinhas de sabão que se desfazem na água. Está à temperatura perfeita.
Tiro os meus phones e ligo-os ao telemóvel. Ponho a música com o volume no máximo.
Deito-me de novo na cama, mas desta vez remexo na minha almofada, enquanto espero que a banheira encha.
Tenho a música tão alta que não ouço o que se passa à minha volta, só me ouço a pensar. Ainda não acredito no que acabei de fazer. Eu acabei com o Harry. Eu acabei mesmo com ele, mas eu...ainda o amo. Não sei se ele sente o mesmo.
Mas mesmo assim! Acho que se calhar até foi melhor para os dois. Ele talvez estivesse melhor antes, do que comigo. Com várias raparigas em vez de uma só. Será que ele é capaz de amar alguém a sério?, Assim como eu o amo a ele?
Será que ele quando me viu ou começou a falar comigo sentiu a mesma coisa que eu senti? Que ele sentiu a mesma emoção que eu senti ao olhá-lo nos olhos?
Esquece-o, Tris. O que está feito, está feito.
O que passou, já passou.
Já devo ter água suficiente. Regresso à casa de banho.

Retiro os phones e ponho a minha playlist para o banho. Coloco o telemóvel dentro de uma gaveta para não apanhar água e deito-me na banheira.

It kills my heart to see...
Your eyes are no longer on me,
That's critical to me.
You stop messin' with me.

It kills my heart to know...
You don't think this love could grow.
'Cause anywhere you go,
You know I would follow.

Fico no banho durante umas duas horas e depois vou pintar.
Pego num pincel e molho-o em tinta preta e começo a desenhar.
Faço um grande par de olhos a olhar fixamente para algo e com uma lágrima a escorrer-lhe pela face.
Dentro dos olhos estão gravadas algumas palavras e medos.
O meu medo neste momento é perdê-lo.

Alguém bate à porta.
M: Tris?
Eu: sim, mãe.
M: esteve aqui uma menina que queria falar contigo.
Eu: Esteve?
M: sim, eu disse-lhe que não estavas em casa...fiz mal?
Eu: porque só me dizes isso agora?!
M: desculpa, tu estavas no banho e eu pensei que não quisesses receber ninguém.
Eu suspiro.
Eu: sim, tu fizeste bem. Desculpa.
Sentamo-nos lado a lado na borda da cama.
Eu: era a Sarah?
M: não...
Eu: quem era?
M: não sei...
Eu: como é que ela era?
M: ela tinha o cabelo pintado de vermelho e vinha com uma maquilhagem discreta. - Kim?
Eu: de certeza que não sabes o nome dela?
M: de certeza...mas o sotaque não era de cá. Era americano, tenho a certeza. - É mesmo a Kim.
Eu: oh. Ela não deixou nenhum recado?
M: não, ela só disse que regressava amanhã de manhã. Ela precisa muito de falar contigo.
Eu: mãe, se ela voltar, por favor não lhe digas que eu estou aqui. Podes dizer que estou a qualquer outra pessoa, mas a ela não.
M: Tris, se ela insistir devias mesmo falar com ela.
Eu: mas eu não quero saber do que ela tem para me dizer mãe! - sinto as lágrimas a virem-me aos olhos. - EU ODEIO-A COM TODAS AS MINHAS FORÇAS!! - começo a chorar.
M: Tris!!, Nenhum motivo é o suficiente para odiares alguém.
Eu: mas tu não sabes! Porque dizes isso?
M: o ódio é desumano e desnecessário.
Eu: ui, ui. Muito desumano.
M: tu não sabes o que é odiar. Por muito que digas isso tu não sabes, nem és capaz de o saber.
Eu: será que não?
M: oh, Tris...- a minha mãe coloca o braço no meu ombro e puxa-me suavemente contra o seu peito. - Esquece tudo. Concentra-te só nós que te querem bem.
O meu telemóvel toca nesse momento. Uma mensagem.
Tás bem Tris? Vai ao whatsapp, estou farta de tentar flr cntg!
A minha mãe vê o que está escrito e acrescenta: como a Sarah, por exemplo.
Eu sorrio.
M: vou preparar o jantar, eu já te chamo.
Ligo a internet e vejo umas 18373919834738193747575829 mensagens não lidas se Sarah.
Tris
Tris
Tris
Tris
Tris
Tris
Tris
Tris
Tris
Responde
Tris
Tris
Tris
Tris
Estás bem?
Tris
Tris
Tris
Já soube que vcs acabaram, lamento
Tris
Tris
Tris
Tris
(...)
Ela já sabe que acabámos?! Uau. As notícias correm depressa.
Ouço alguém a tocar à campainha. Vou sem fazer barulho e espreito pelo buraquinho.
Harry?

Eu abro a porta.
Eu: Harry?
O Harry tem os olhos vermelhos.
Harry: sim, ahm...eu esqueci-me daquele casaco que tinha ficado para lavar. - ele tem a voz mais rouca do que o costume. Deve estar a constipar-se. Ou isso, ou esteve a chorar. Mas eu faço um esforço para não acreditar nisso.
Eu: sim, eu...eu vou buscar.
Sou mesmo parva. Pensei que ele viesse falar comigo, porque queria vol...não, isso é ridículo. Não posso esperar que ele me caia aos pés, porque não vai cair. Além disso, nós acabámos.
Eu: toma, desculpa não te ter dado antes.
Harry: não, é na boa. - fita-me com aqueles olhos verdes, mas não com a mesma emoção de antes.
Eu: adeus, então.
Harry: adeus Beatrice.
Beatrice?!
Fecho a porta e deixo-me cair no chão encostada a esta com as mãos abraçadas aos joelhos.
Não consigo conter um sorriso. Será que ele esteve a chorar?... Por mim?

• | T R I S | • {hs - pt}Onde histórias criam vida. Descubra agora