EU, VOCÊ e o que não dizemos!

AZUL Donavan

•• EU, VOCÊ e o que não dizemos! ••
Quando os olhos falam, as palavras silenciam.
______________________________________

"O amor não é segredo. Olhe em volta de você. Bem-vindo a este dia!" IRMÃO URSO

AZUL.
UMA COR PRIMÁRIA que remete ao céu, com suas diferentes tonalidades, claro de dia, mais escuro a noite. Também muito destacada entre as famosas pinturas impressionistas, eu gostava muito de azul quando ainda pintava, mas atualmente minha cor preferida tem sido o cinza.
O azul está refletido nas águas do oceano e nos mares, nos lagos profundos e em algumas flores, esse mesmo azul também é a cor favorita de Donavan.

Conheci Donavan oficialmente no nosso grande jantar em família e adivinhe só, ele não estava usando uma das suas camisetas azuis, fiquei um pouco perplexa.
Primeiro: por saber de quem ele se tratava.
Segundo: por saber quem ele se tornaria.
Terceiro e não menos importante, por sua camisa ser salmão, combinou muito bem com suas bochechas ruborizadas.
Puxa vida!

Depois do retorno às aulas eu sempre via Donavan perambulando pela escola, às vezes como auxiliar nas aulas de educação física, outras vezes como ajudante na biblioteca.
Ele havia se formado um ano antes no ensino médio. Donavan tinha dezenove anos e trabalhava meio período como voluntário na escola desde sua mudança.
O outro período ele dedicava a consertos de computadores trabalhando numa loja no centro.
Até aquele momento eu só havia esbarrado com ele uma única vez no corredor da escola.
- Puxa vida! - Exclamou ele, depois que seu amigo acidentalmente derrubou meu projeto de ciências no chão me atingindo com sua bola de basquete.
Eu nunca tinha ouvido alguém usar esse bordão, a não ser eu mesma. Ele é do meu desenho favorito, A turma do Charlie Brown, ele é da década de oitenta, achei que só eu gostasse desse desenho.
Enfim. Uma doce coincidência.
Donavan em silêncio me ajudou a juntar todas as peças espalhadas que coloriram o chão, um sorriso leve brotou no canto de seu lábio ao dizer o próprio nome.
- Eu sou Donavan, muito prazer! Seu olhar intenso me desarmou fazendo as palavras sumirem da minha mente diante do seu singelo sorriso. Ele me disse o seu nome e eu não fui mais a mesma.
Meus olhos desviaram dos seus, tentando esconder o tumulto que ele causara em meu coração. Em um único minuto, ele roubou minha calma, e precisei disfarçar, fingindo normalidade.
Seguimos em direções opostas, mas meu coração teimou em segui-lo, sem meu consentimento.

Mais tarde, naquela manhã, a chuva se fez presente inesperadamente. Na saída da escola me abriguei sob uma marquise perdida em pensamentos apenas alguns metros do portão, foi quando ele surgiu diante de mim com seu guarda-chuva azul royal combinando com sua camiseta. Sem me dizer uma palavra, entregou seu guarda-chuva e partiu, caminhando pacificamente sob a chuva.
Como esquecer aquele momento?
Ninguém nunca falava comigo e ter a atenção dele, ainda que por breves segundos, aqueceu minha alma como nada mais poderia.

Aquele mês foi um pouco diferente em muitos aspectos, a começar pelo comportamento de papai.
Antes de apresentar formalmente sua namorada durante o jantar, ele passou três semanas falando dela sem parar, começou furtivamente, aos poucos, depois foi ganhando mais confiança, até confessar que estava perdidamente apaixonado.
A.pai.xo.na.do?
Apaixonado!
Foi um grande choque ouvir aquelas palavras saírem de sua boca tão facilmente.
Aí estava o seguir em frente.
Mesmo que ele já tivesse suplantado a morte de minha mãe, eu não superava a ideia dele estar namorando, muito menos essa transição, sem falar na mudança que isso acarretaria para nós, ou seria apenas para mim?
Foi só nesse jantar que eu me dei conta de que a mulher em questão era a mesma com o carro quebrado no posto de gasolina e minha professora, Bárbara.