EU, VOCÊ e o que não dizemos!

ABRIL

•• EU, VOCÊ e o que não dizemos! ••
Quando os olhos falam, as palavras silenciam.
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"Essa ligação entre nós não pode ser quebrada." - TARZAN

CONTEI CADA DIA daquele calendário, rabiscando em cada quadradinho, semana após semana, mês após mês até perder a esperança.

Foi quando as flores daquele inverno congelaram por inteiro.
Olhei-me diante do espelho e vi um rosto velado, condicionado a tristeza.
Foram semanas intermináveis reaprendendo a construir novas conexões, redescobrindo a que lugar eu pertencia.
Caminhei sob a neve fina na esperança que ela lavasse o que em mim ficou de Donavan.
Vestígios de um amor não correspondido que me fez abrir os olhos e enxergar que eu merecia bem mais do que já tive.
Aprender dói, mas também resignifica.
É preciso coragem para lutar contra a solidão insana em busca da própria felicidade.
É preciso força de vontade para continuar mesmo depois de ter falhado tanto. E no meu caso, eu falhei mais de uma vez comigo mesma.
E é preciso fé, para não esmorecer diante das circunstâncias e decepções.
A princípio engatinhei como um bebê curioso até ter confiança suficiente para andar descalça. Quando alcancei algum objetivo palpável, corri com valentia, livre das correntes que me aprisionaram.
Eu pertencia a mim e mais ninguém.
Eu ainda amava Donavan, mas não doía mais. O amor que sentia agora, não aquebrantava mais meu coração, ele apenas repousava sereno na camada mais profunda de baixo da pele, músculo e osso de meu corpo.
Mas o destino não quis que eu continuasse assim, ele redesenhou minha rota, reformulou meu caminho e me jogou novamente no mesmo lugar que Donavan, e juntos colidimos os dois com um desafio ainda maior.

É possível que estejamos fadados a colidir com o nosso destino independente dos acontecimentos?
A lei do universo conspira para atração mútua dos destinados de forma muito enigmática. Uma união de forças regulares e ordenadas mesmo diante do caos instaurado através do inevitável, torna ainda mais plausível a hipótese de que o que tiver que ser, será de qualquer maneira.
E nem adianta tentar se esquivar ou trapacear. O que determina esse encontro não são os dias em si, mas a necessidade dele.
O fato é que pode não ser hoje e nem amanhã, mesmo assim acontecerá e será justamente quando ninguém estiver olhando.

Pouco mais de oito bilhões de pessoas em todo o planeta e meu destino estava amarrado a ele. Curiosamente eu não esperava por nada, tinha absoluta certeza que o lugar que eu ocupava na terra era de apenas solidão, até conhecê-lo, então desejei felicidade para mim. Quando isso não aconteceu, desejei que ele fosse feliz sem mim, mas não muito feliz. Eu ainda queria que se lembrasse de mim cada vez que ouvisse o som de um piano, ou um desenho pontilhado. Que fechasse seus olhos e visse meu rosto ao sentir o cheiro do meu perfume no ar.
Eu desejei que ele fosse feliz, mas também desejei que nunca esquecesse de mim!

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Escolhas.
Ouço o barulho estrondoso de frenagem. Antes que eu possa reagir, sou puxada pela jaqueta bruscamente de volta para calçada, mas não a tempo suficiente.
Sinto o choque do meu corpo contra o metal frio e depois com asfalto e todas as cores da noite sumindo, fui atingida com tremenda força que pude ouvir o som dos meus ossos quebrarem com o impacto seco no asfalto.
Cacos de vidros espalham-se por toda parte cortando a minha pele, expondo a dor aguda da ranhura.
A neve aumenta seu volume, e o frio alcança os meus nervos.
Um frenesi de estranhos ao meu redor.
O caos na avenida se formou e diante dos meus olhos imóveis, e lá estava ele, do outro lado da avenida, deitado de bruços sobre a poça vermelha do seu próprio sangue.

Escolhas.
a definição é bem simples.
Ato ou efeito de selecionar entre uma coisa e outra.
Naquela noite, eu decidi não usar o carro e sai mais cedo mesmo com a previsão do tempo indicando neve.
Foi uma escolha ruim.