ABRIL

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•• EU, VOCÊ e o que não dizemos! ••
Quando os olhos falam, as palavras silenciam.
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(: Burro: sabe o que eu mais admiro em você, Shrek? Você tem aquele ar de "tô pouco me importando com o que pensam de mim." Isso é legal, Shrek. :)

SÁBADO.

Desci as escadas com passos firmes, os degraus ecoando sob meus pés cobertos pelo All Star preto. Quando cheguei à metade do caminho, avistei Donavan ao pé da escada, seus olhos me encontraram de imediato. Ele me olhava como se eu fosse uma miragem, completamente fascinado. Suas mãos dentro dos bolsos da calça, vestia um terno azul caribe que realçava seu porte, com o cabelo impecavelmente arrumado e um sorriso tímido nos lábios.

Havia algo no olhar de Donavan, algo que me desarmava. Era como se ele pudesse ver além dos meus olhos, ele pudesse ler meus pensamentos, meus sentimentos, meus desejos. Não importava o quanto eu tentasse me esconder, diante dele, eu era sempre transparente, desprotegida de todas as minhas máscaras, como se ele pudesse ler a minha alma.

Puxa vida! Você está... - engoliu seco - linda, Joaninha. - por fim suspirou.

O calor em sua voz fez meu coração acelerar. Com delicadeza, ele pegou minha mão e a colocou sobre o seu braço, conduzindo-me em direção ao jardim. Cada passo ao seu lado era uma mistura de ansiedade e expectativa. Não sei se foi o jeito como ele sorriu para mim, o aroma envolvente de seu perfume, a maneira como a franja caía displicentemente sobre sua testa, ou o olhar profundo que parecia me envolver. Mas, naquele momento, um frio delicioso percorreu minha espinha, despertando em mim uma sensação que eu mal conseguia descrever.

Vovó Beth sorriu ao nos ver juntos.

- Vejo que resolveu usar a presilha de sua mãe! Ela tinha só treze anos quando eu dei de presente. - comentou vovó, com os olhos cheios de nostalgia.

A presilha em formato de libélula, delicada e quase fora de lugar, contrastava com o cabelo preto undercut, dando um toque inesperado à minha aparência. O brinco alongado de spike pendurado em uma orelha só e a maquiagem pesada quebravam qualquer ilusão de doçura que aquele vestido pudesse sugerir. A suavidade do tecido e o corte elegante. Era feito de um tecido leve que se movia suavemente com cada passo. O fundo claro do tecido era salpicado de flores delicadas em tons de rosa, azul e amarelo, criando uma paleta suave e romântica, ele tinha alças finas que amarravam no ombro e um decote quadrado que destacava o pescoço de forma elegante. A cintura era marcada ajustando-se perfeitamente ao meu corpo antes de cair em uma saia esvoaçante que balançava ligeiramente acima dos joelhos. O visual, fresco e alegre, era perfeito para a ocasião, com uma simplicidade encantadora que combinava com o espírito festivo da tarde, mas eu estava determinada a não ceder e fiz questão de deixar isso claro no contraste do meu visual underground, que se recusava a ser moldado pela ocasião.

Quando Bárbara cochichou algo no ouvido de meu pai, imaginei que fosse uma reclamação por eu ter "estragado" a composição perfeita do vestido com meus tênis surrados e a jaqueta de couro pareciam implorar por algo mais romântico. Ela mesma tinha escolhido o vestido, especialmente para essa data.

Mesmo assim, notei a admiração nos olhos do meu pai quando ele olhou para mim. Ele não precisava dizer nada; uma piscadela e um discreto "OK" com os dedos foram suficientes para me fazer sorrir de volta. Era o tipo de aprovação silenciosa que só ele podia dar, e por um breve momento, o desconforto que eu sentia se dissipou.

Foi um aniversário de jardim realmente encantador, com uma atmosfera íntima e delicada, cercado por poucos convidados, a maioria colegas do hospital. O ponche de frutas, com seu toque de álcool, me obrigou a buscar refúgio na água, foi quando Donavan apareceu, trazendo consigo uma sensação de alívio.
Ele sussurrou uma piada ao pé do meu ouvido, arrancando de mim um sorriso sincero, um raro momento de leveza em meio à solidão que parecia me envolver.
Falávamos em murmúrios, nossas vozes se misturavam ao vento, seus dedos entrelaçando-se aos meus de maneira quase inconsciente, como se pertencessem ali com uma naturalidade que me fez sentir menos só, uma conexão em um mar de incertezas.

EU, VOCÊ e o que não dizemos!Onde histórias criam vida. Descubra agora