•• EU, VOCÊ e o que não dizemos! ••
Quando os olhos falam, as palavras silenciam.
______________________________________"O que tem de errado comigo? Todo mundo tem alguém. E tudo o que eu tenho é esse meu tipo charmoso." - A ERA DO GELO
TINHA SIDO UMA DAQUELAS NOITES em que, se algo tinha a mínima chance de dar errado, pode apostar que deu errado com estilo. Não seria tão complicado se eu ao menos lembrasse de algo, mas a única coisa que minha cabeça latejante conseguia processar era a dor insuportável. A boca seca e um hálito amargo que fazia qualquer um questionar minhas escolhas. Nunca tinha experimentado uma ressaca antes, aliás, eu nunca tinha provado álcool até a noite passada.
Ainda estava usando o vestido da formatura, agora com um novo perfume de álcool e suor. O sol invade meu quarto atravessando a cortina me fazendo lembrar de Donavan. Meu corpo preguiçoso se recusa a sair da cama, mas a natureza é implacável, e preciso urgentemente ir ao banheiro. Me arrasto até lá, com a graça de um zumbi, enquanto escuto vozes abafadas vindo da cozinha. Cada célula do meu corpo implora por silêncio.
Sentada no vaso, quase cochilando, flashes da noite anterior começam a aparecer como um quebra-cabeça mal montado. Um banho morno, quase frio, é a única coisa que pode me manter de pé enquanto a água lava o restante da maquiagem que sobrou em meu rosto. Esfrego os olhos, e outro flash surge, tudo ainda é nebuloso. Estou no bar...depois na pista de dança... encostada em um carro... vejo uma bolsa preta, e, finalmente, uma cama que não é a minha. Nada faz sentido, tudo parece fora de lugar, e uma sensação desconfortável de desconfiança começa a crescer em mim.
Desço as escadas ainda muito cansada, estou vestindo uma camiseta preta dos Rolling Stones com emblemática boca vermelha desenhada.
Meus olhos fundos denunciam as poucas horas de sono que tive.
Chego a cozinha e vou direto no armário de remédios, pego um comprimido para dor de cabeça, rezando para que o efeito seja rápido em acabar com a dor aguda.
Todos estão sentados à mesa almoçando, mas o cheiro da comida acaba me enjoando.
Me sento ao lado da vovó Beth, e deito minha cabeça em seu ombro, ela sorri.- Parece que você aproveitou bastante a sua festa querida, sua cara está péssima! - gargalha.
Não respondo sua ironia.- Ah, que horas vocês chegaram?
Bárbara pergunta, mastigando.- Bem tarde! - responde meu pai antes mesmo que eu tenha a chance de falar. Ele me encara, está visivelmente chateado.
- Meu Deus Tim! Chloé tem já tem dezenove anos, deixe a menina se divertir sem preocupações.
Vó Beth pisca o olho direito enquanto aperta minha bochecha.Donavan observa o cenário com um silêncio calculado, sentado na ponta da mesa com um sorriso quase indecifrável. Seu olhar era um imã que me tira do eixo da conversa, me fazendo sentir como se estivesse no meio de um teste de resistência emocional.
Com um gesto de quem está pensando em algo deliciosamente travesso, ele lambe os lábios de uma forma que parece sair diretamente de um manual de sedução. Tento desviar o olhar, mas ele mantém o contato visual, como se estivesse me desafiando a fugir. Seu dedo indicador passeia lentamente pelos lábios, como se estivesse desenhando um roteiro secreto que só eu posso decifrar.Meus nervos ficam à flor da pele. As minhas mãos começam a suar, e engulo seco, me perguntando se ele decidiu que o almoço seria um jogo de sedução ao vivo, com plateia e tudo. Meu coração bate tão forte que quase posso ouvir a pulsação nos meus ouvidos. Sinto que a sala inteira desapareceu, mas enquanto isso, ao redor, todos continuam a conversar distraídos, como se nada estivesse acontecendo entre nós.
Estamos em um universo paralelo, onde o tempo se arrasta e tudo gira em torno dessa troca de olhares carregados de intenções. Me sinto irresistivelmente atraída por esse jogo, como se fosse um jogo perigoso e excitante. O jogo de sedução é tão audacioso que não podia deixar de rir, mesmo que minha adrenalina estivesse a mil. Ajusto minha postura e dou um pigarro nervoso, um pouco encantada. Tento desviar o olhar, mas sou pega em flagrante pelo olhar severo do meu pai, que não parece nada satisfeito.
Donavan, com um sorriso que é quase um "eu sou louco e gosto disso", ri discretamente e pisca para mim. Está claro que ele não é o mesmo de antes, e sua mudança é tão desconcertante quanto fascinante. Eu estava confusa, mas, honestamente, estava adorando.
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EU, VOCÊ e o que não dizemos!
Roman d'amourA única coisa que Chloé não podia, ou melhor dizendo, a única pessoa por quem ela não devia se apaixonar, era Donavan, seu meio-irmão. Mas seria impossível ignorar a atração que sentia por aquele olhar profundo e enigmático, uma sombra sedutora que...