DEZEMBRO

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•• EU, VOCÊ e o que não dizemos! ••
Quando os olhos falam, as palavras silenciam.
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"Nosso destino vive dentro de nós, você tem que ser corajoso suficiente para vê-lo." - VALENTE


TALVEZ EU DEVESSE me permitir ser um pouco despreocupada, sonhar com os encantos de todos os garotos franceses que ainda encontraria, com as experiências vibrantes que me aguardavam, as festas animadas que aqueceriam minhas noites e os novos amigos que encheriam meus dias de risos. Não seria isso o que todos esperam de uma adolescente? Viver intensamente, sem medo das consequências? Era um pensamento tentador, afinal, eu ainda era jovem e tinha o luxo do tempo ao meu lado, um tempo que me permitiria errar, me perder e me reencontrar quantas vezes fossem necessárias. Mas, no fundo, eu sabia que havia mais em mim do que essa sede de novidades. Havia uma busca por algo mais profundo, algo que talvez nem eu mesma soubesse nomear, mas que me acompanhava em silêncio, esperando o momento certo para despertar.

Toc Toc!
Duas batidas no batente da porta. Encostado sobre ela, ele me observa.

- Bonita mala, ela combina com você, vibrante! - sorri, cauteloso - Parece que já está entrando no clima se tornando uma francesinha.

Eu rio de seu comentário bobo, porém fofo.

- Foi presente da tia Agnês. Eu achei meio exagerada, essa cor magenta com sua estampa cheia de beijos.

- Pense pelo lado positivo, não perderá ela de vista tão facilmente.

- Nisso você tem razão! - gargalhamos juntos, num momento leve de descontração.

- Por que a pressa Chloé, seu voo não é só amanhã cedo?

Separava as roupas no quarto quando Donavan entrou silenciosamente, ele andou até a janela e se encostou no batente com as mãos dentro do bolso da calça. De ombros caídos e olhar vazio, encarou minha mala.

- É sim - respondi cabisbaixa - mas não quero esquecer nada.
Abri a cômoda, retirei mais algumas coisas e coloquei sobre a cama.
Meus olhos evitavam Donavan o tempo todo.

- Está animada? - sentou-se na janela. - Você não parece animada, parece agitada!

Sim eu estava, porque a presença dele me agitava.

- Donavan desça daí, por favor, é perigoso.
Minha voz de preocupação não o comoveu. Ele negou com a cabeça me fazendo chegar mais perto.

- Me sinto ... ansiosa, temerosa, eufórica! - comentei me sentando ao seu lado.

- São muitos adjetivos - afirmou, erguendo seus olhos do chão.

Estava ansiosa pela novidade.
Temerosa pela viagem.
Eufórica pela felicidade.
Mas sobre tudo estava hesitante.
Eu estava prestes a deixar Donavan pela segunda vez e isso me machucava, mesmo que ele ainda não se lembrasse de mim.

- Me desculpe. - mantenho meus olhos voltados para o chão.

- Pelo o que? - ele empurra levemente meu ombro com seu braço, e dá um lindo sorriso que faz meu coração derreter acelerado.

- Por ter arrumado confusão na festa de formatura, eu poderia ter te colocado em um problemão com meu pai.

- Está tudo bem, digamos que eu também me diverti um pouquinho.

Donavan ergue meu queixo com delicadeza me fazendo encarar os seus lindos e hipnotizantes olhos.

- Você estava linda naquele vestido. Eu sei que já disse isso, mas é só para você não se esquecer. - ele dá uma piscadela.
Ele entrelaça seus dedos nos meus unindo nossas mãos.

EU, VOCÊ e o que não dizemos!Onde histórias criam vida. Descubra agora