EU, VOCÊ e o que não dizemos!

RETICÊNCIAS

•• EU, VOCÊ e o que não dizemos! ••
Quando os olhos falam, as palavras silenciam.
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"Hmmm...bolo de mulango." - PICA-PAU

NEM TUDO É O FIM do mundo!
Quando algumas coisas parecem se encerrar, elas sofrem uma mutação, adquirem uma nova roupagem e viram recomeço.
Às vezes perder o chão te faz ganhar asas.
Você troca a corrida incessante para algum lugar por voos sem destino certo.
Mas a viagem só é extraordinária se houver coragem.
Aí está o pulo do gato!
Abraçar as oportunidades e não ter medo de recomeçar.
Quase uma volta inteira no sol e os ciclos se encerram, mas os sentimentos permanecem, inteiros, intactos!
Posso ter errado o caminho, perdido o ritmo, mudado o propósito, ainda sim meu coração era de vitória!
Aprendi através das minhas falhas que eu não era fraca, eu era rocha, e como um diamante, a vida vinha me lapidando a cada golpe me tornando mais brilhante e resistente.

Solto um longo e profundo suspiro.
Um sorriso escancarado se abre em meu rosto, não posso evitar.

- Preciso contar para tia Agnês, ela vai ficar tão feliz quanto eu estou! - anuncio.

Desci as escadas apressada, mal conseguindo conter a emoção que me inundava. A notícia de que eu havia passado na audição trouxe um alívio profundo, e minha mente já estava fervilhando com os planos para o próximo ano. Tia Agnès, sempre tão presente, foi a maior incentivadora da minha decisão de me inscrever. Seu entusiasmo, tão genuíno, havia me dado o impulso necessário. E naquele instante, percebi como aquilo era tudo que eu precisava.
Por muito tempo, eu havia sofrido por uma ilusão, me esquecendo de viver de verdade. Mas agora, me sentia pronta para abraçar as novas escolhas que eu mesma havia feito.
Quatro anos em Paris me aguardavam-quatro anos dedicados à música, imersa na arte, explorando museus e castelos, saboreando croissants e crepes, e, claro, degustando vinhos franceses.

O olhar do meu pai, carregado de orgulho, revelou o que eu já sabia: sua menininha estava crescendo e se tornando uma mulher independente. Os anos de atribulações ficaram para trás. Vovó Beth me envolveu em um abraço apertado, cobrindo-me de beijos, e fui tomada por uma profunda gratidão por ter uma família tão unida e amorosa.
Quando mais precisei, eles estavam lá, cada um deles. Bárbara me felicitou, seus olhos brilhando de felicidade, sabendo o quanto a música sempre foi importante para mim. Lisa e Ruan comemoraram comigo, cheios de entusiasmo, rindo e brincando sobre como eu logo me tornaria uma "francesinha."
Enquanto todos riam e conversavam no jardim, meu olhar pousou em Donavan, isolado perto do balanço, observando-nos de longe. Fiz um gesto para que ele se juntasse a nós, lentamente ele caminhou, com passos hesitantes. Bárbara contara ele sobre a novidade, mas apenas eu sabia que Donavan já estava ciente de tudo. Ele fingiu surpresa e me parabenizou diante de todos, mas havia algo no seu sorriso, uma tristeza disfarçada.
Queria tanto saber o que passava em sua mente naquele instante.

Nossa interação foi interrompida quando uma chuva de bolhas de sabão furta cor, brilhando com os raios do sol invadiu o ar, trazendo leveza para aquele momento. Um dos convidados havia trazido o filho, um menino de pouco mais de cinco anos, e seu brinquedo - um canhão de bolhas de sabão. Fiquei fascinada pela cena, e por um instante, tudo parecia tão mágico e etéreo, como se o tempo ao nosso redor tivesse parado.

A leveza que senti trouxe um conforto acolhedor, uma paz que, apesar da minha evidente felicidade, não conseguia apagar a inquietação que dividia meu coração.
Eu me via presa entre dois mundos opostos: a tentação de atravessar o oceano e seguir um novo caminho, ou permanecer aqui, vivendo uma rotina aparentemente normal, enquanto nutria a esperança de que algo entre mim e Donavan pudesse finalmente acontecer. E por mais que tivéssemos nos conectado nessas semanas após a sua volta pra casa, ele ainda não se lembrava de mim. Para ele, eu era apenas uma sombra recente em sua memória frágil.