AGOSTO

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•• EU, VOCÊ e o que não dizemos! ••
Quando os olhos falam, as palavras silenciam.
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[ Chloé ]

Homer Simpson diz que: "a preguiça é o ato de descansar, antes de estar cansado!"

Faço de suas palavras as minhas.

O ano letivo nem bem tinha iniciado e eu já me sentia entediada. Por mim eu ficaria para sempre de férias num looping infinito de sol, piscina e milkshake.
Voltar para escola e ver os mesmos rostos do ano passado não me atraía em nada. Na verdade eu não via a hora de me formar e voar para Paris, a cidade luz! Só que eu ainda tinha mais dois anos no colegial antes disso acontecer.

Dois anos aguentando a turma de lacrosse desfilando pelos corredores como se fossem deuses do esporte mais chato e sem graça que já inventaram.
Dois anos tendo que ouvir as infinitas reclamações da miss simpatia Stefany, sobre a qualidade das batatas fritas no refeitório.
E mais dois anos pulando a janela, saindo às escondidas de casa para ter um pouco de diversão.

Isso não seria problema se não fosse pelo meu cão de guarda, Donavan.
Ele sempre acaba com toda a minha diversão, como se tivesse um radar para os momentos em que planejo algo. Da última vez, eu mal coloquei o pé para fora da janela quando ouvi sua voz baixa e cínica atrás de mim.

"Indo a algum lugar, Chloé?"

O pior de tudo é que ele não precisa levantar a voz ou fazer escândalo. Apenas fica ali, de braços cruzados, me encarando com aquele sorriso irritante, como se estivesse sempre um passo à frente. Seus olhos, intensos e provocadores, parecem saber exatamente o que estou pensando. E por mais que eu tente ignorá-lo, meu corpo reage de maneiras que eu preferia que não acontecessem.

Donavan é assim, o tipo de problema que você sabe que deveria evitar, mas que se aproxima, mesmo quando tudo dentro de você diz para correr na direção oposta.

Desço as escadas apressada, apesar do despertador ter cumprido com a sua tarefa de me acordar no horário marcado, propositalmente eu o desliguei assim que ouvi o primeiro bipe. E agora não tenho tempo nem para o café da manhã.

Entro na cozinha e pego a última torrada que sobrou, coloco entre os dentes e abro a geladeira - suco de maçã, eca - reviro os olhos e ajeito a alça da mochila no ombro.

- Você já não deveria estar na escola?

Levo um susto quando vejo meu pai sentado no ponto mais cego da cozinha lendo o seu jornal tranquilamente. Limpo a garganta e assinto em silêncio.

Donavan, ao que parece, também perdeu a hora, e a julgar pela sua cara amassada de ressaca, teve poucas horas de sono, ele com certeza fez valer a pena a última noite de férias.

Ele caminha em silêncio até a porta da frente, mas é interrompido pelo papai.

- Donavan... - ele se levanta e vai até ele.

Donavan esfrega os olhos numa tentativa forçada de despertar.

- Você também está atrasado? O que foi que deu em vocês dois hein... Primeiro dia de aula e já estão perdendo pontos!

Um pequeno sermão logo cedo só para não perder o costume não faz mal a ninguém, não é?

Revirei os olhos. "O que foi que deu em mim?" Boa pergunta. Talvez o tédio. Talvez o fato de que nenhum sermão ou nota perdida vai me manter interessada por aqui.

EU, VOCÊ e o que não dizemos!Onde histórias criam vida. Descubra agora