𝟎𝟐: 𝐎 𝐣𝐚𝐧𝐭𝐚𝐫

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GABRIELLA HUNTER

Salem, Massachussetts.
Sexta-feira, 09:00 PM.

         Segurei o vestido preto e ousado em minhas mãos, sentindo a textura suave do tecido entre os dedos. Suspirei profundamente e o deixei de lado. Se pretendo aparentar ser frágil e inocente, não posso usar essas roupas que normalmente uso. Sentei-me na beira da cama, o colchão afundando levemente sob meu peso, e me encarei no espelho.
Peguei o algodão e o antisséptico, sentindo o cheiro forte e familiar, e limpei a região em volta do piercing do nariz. Com um leve puxão, retirei-o, sentindo um pequeno desconforto, e limpei a região do furo. Retirei os brincos e o colar, cada peça parecendo pesar mais do que o normal, e os coloquei cuidadosamente em uma caixinha de madeira.

       Peguei a escova de cabelo e penteei os fios ruivos para trás, sentindo cada nó se desfazer sob as cerdas. Uni os cabelos na minha mão esquerda e os envolvi com uma liga, formando um rabo de cavalo apertado. Decidi usar uma maquiagem fraca, que não chamasse atenção, aplicando cada produto com movimentos precisos e calculados.

       Olhei para o vestido que escolhi depois de muito pestanejar. A sensação de conformidade pesava sobre mim, como se cada escolha fosse uma pequena traição à minha verdadeira identidade. Mas, por ora, era necessário. Afinal, às vezes, mudar a aparência é um sacrifício que fazemos para agradar os outros, mesmo que isso nos deixe com um gosto amargo na boca.

    Agora, preciso terminar de arrumar minhas coisas.

      Deslizei com ferocidade o zíper da minha mala, fechando-a com um estalo final. Olhei ao redor do quarto, onde várias caixas estavam empilhadas, cada uma carregada de coisas importantes para mim. Meus livros, cuidadosamente embalados, estavam endereçados para a casa da Vênus. Se eu aparecesse com um deles, certamente pensariam que eu estava perturbada da cabeça — o que, em parte, é verdade —.

      Ouço batidas suaves na porta, interrompendo meus pensamentos. Levanto-me do chão e caminho até a porta, segurando a maçaneta com firmeza. Abro-a apenas o suficiente para vislumbrar minha mãe. Ela estava deslumbrante, vestindo um longo vestido vinho que acentuava suas curvas com elegância. Meus olhos se estreitaram ao notar a sacola que ela segurava.

      — Quanto tempo pretende ficar me examinando?  — ela estendeu a sacola em minha direção. — Para você.

     Abro a porta finalmente permitindo que me veja.

     — Que roupas são essas? — deu uma risada ao ver meu vestido recatado.

     — Roubei da vizinha. — dou um giro exibindo de todos os ângulos o vestido branco que ia até o joelha e tinha um misto de flores coloridas nele.  — Para ser uma boa garota tenho que me vestir devidamente.

      Ela se curvou soltando as risadas mais histéricas que já vi em minha vida.

      — Por que está rindo?

      — Não estou rindo de você. — limpou uma lágrima no canto dos olhos. — Eu vi a sra. Willians conversando com a polícia sobre terem roubado o vestido dela. É melhor tirar isso.

       — Não tenho nada que combine com ocasião. — resmunguei.

       — Comprei essa roupa para você. — me entregou a sacola. — Vista isso antes que o motorista chegue para nos buscar.

ᴍɪɴʜᴀ ᴅᴇsᴛʀᴜɪçãᴏOnde histórias criam vida. Descubra agora