𝟑𝟏: 𝐌𝐢𝐧𝐡𝐚 𝐝𝐞𝐬𝐭𝐫𝐮𝐢𝐜̧𝐚̃𝐨

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Página do diário roubado de Kaiden Volkov.

Data: 19 de setembro de 2020

Gabriella decidiu fugir enquanto eu e minha equipe eliminávamos uma das facções do governo que havia se aliado à Nexum, os Petrov. É curioso como, mesmo com a lâmina cortando a garganta de pessoas cujas vidas eu estava tirando, meu foco não se desviava do celular. Eu a acompanhava pelo rastreador que injetei nela enquanto dormia, um detalhe que me dava uma satisfação perversa.

Ah, aquele dia... Quando enfiei a agulha em seu braço, ela gemeu suavemente, apertando meu pulso. Um som tão doce. Ela fica tão linda quando sente dor, especialmente a dor que eu provoquei. ̶E̶u̶ ̶q̶u̶e̶r̶i̶a̶ ̶c̶o̶n̶t̶i̶n̶u̶a̶r̶ ̶m̶a̶c̶h̶u̶c̶a̶n̶d̶o̶-̶a̶ ̶a̶p̶e̶n̶a̶s̶ ̶p̶a̶r̶a̶ ̶o̶u̶v̶i̶r̶ ̶a̶q̶u̶e̶l̶e̶s̶ ̶s̶o̶n̶s̶ ̶q̶u̶e̶ ̶e̶l̶a̶ ̶f̶a̶z̶i̶a̶.̶ Os membros da equipe murmuravam sobre minha "obsessão" por ela, mas eu sabia que estava apenas sendo protetor. Afinal, quem mais poderia apreciar a beleza de uma alma tão frágil e, ao mesmo tempo, tão forte?

Mas quando percebi que ela havia entrado no território da cidade natal dela, provavelmente foi para a casa da amiga dela. Naquele momento guardei o celular, um sentimento de possessividade crescendo dentro de mim. Minha bonequinha estava mesmo fugindo de mim? A ideia de vê-la em outra vida, longe de mim, me deixava inquieto. ̶E̶l̶a̶ ̶e̶r̶a̶ ̶m̶i̶n̶h̶a̶,̶ ̶e̶ ̶e̶r̶a̶ ̶c̶o̶m̶i̶g̶o̶ ̶q̶u̶e̶ ̶d̶e̶v̶e̶r̶i̶a̶ ̶e̶s̶t̶a̶r̶.̶

Meus olhos a procuravam incessantemente, mesmo em meio ao caos. Eu a observava em cada canto, em cada sombra, como se sua presença estivesse gravada em meu DNA. É verdade, talvez eu esteja um pouco obcecado por ela, mas quem poderia me culpar por querer proteger o que é meu?

̶O̶ ̶m̶u̶n̶d̶o̶ ̶p̶o̶d̶e̶ ̶e̶s̶t̶a̶r̶ ̶d̶e̶s̶m̶o̶r̶o̶n̶a̶n̶d̶o̶ ̶a̶o̶ ̶m̶e̶u̶ ̶r̶e̶d̶o̶r̶,̶ ̶m̶a̶s̶ ̶G̶a̶b̶r̶i̶e̶l̶l̶a̶ ̶é̶ ̶o̶ ̶ú̶n̶i̶c̶o̶ ̶p̶o̶n̶t̶o̶ ̶d̶e̶ ̶l̶u̶z̶ ̶e̶m̶ ̶m̶e̶i̶o̶ ̶a̶ ̶e̶s̶s̶a̶ ̶e̶s̶c̶u̶r̶i̶d̶ã̶o̶.̶ Ela precisa de mim, tanto quanto eu dela. E eu não vou deixá-la escapar. Nunca. Nunca. Nunca. 

KAIDEN VOLKOV

      Esfreguei as têmporas com impaciência enquanto Desmond continuava sua ladainha sobre eu ter revelado seu caso com o Caim para toda a equipe. Como se ele realmente tentasse esconder algo. Traguei o cigarro profundamente, o gosto amargo misturando-se com a ansiedade crescente enquanto meus olhos seguiam os dados que deslizavam pelas telas do carro. As imagens refletidas na superfície azulada mantinham minha concentração, mas a preocupação me corroía por dentro. 

      Desmond não parava de falar, sua voz transformando-se em um ruído de fundo. Meus pensamentos vagavam para longe, para todos os cenários possíveis que os dados sugeriam. A fumaça do cigarro subia em espirais lentas, desaparecendo no ar abafado do veículo, enquanto eu tentava alinhar minhas ideias.

     — Você vai me ouvir ou não? — Desmond finalmente exclamou, a frustração evidente em sua voz.

      Olhei para ele de esguelha, soltando a fumaça pela janela entreaberta, as luzes da cidade piscando lá fora.

     — Eu já ouvi o suficiente, Desmond. Você quer que eu me desculpe? Desculpas não vão mudar o passado.

    Ele bufou, cruzando os braços, mas algo em seu olhar indicava que minhas palavras o atingiram. Voltei minha atenção para as telas, deixando que o silêncio entre nós se esticasse, pesado e carregado de significado. 

      Observei o volante movendo-se sozinho, guiando o carro em direção ao aeroporto. Um som agudo ecoou no silêncio, chamando minha atenção; virei-me rapidamente para as telas ao meu redor, tentando identificar a fonte.

ᴍɪɴʜᴀ ᴅᴇsᴛʀᴜɪçãᴏOnde histórias criam vida. Descubra agora