• 𝑬𝒑𝒊́𝒍𝒐𝒈𝒐 •

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       Eu tinha 5 anos, e as coisas nem sempre eram fáceis de entender

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       Eu tinha 5 anos, e as coisas nem sempre eram fáceis de entender. Eu estava sentada na cadeira, perto da minha mamãe, que estava fazendo o trabalho dela. Ela sempre sorria para as pessoas, falava com elas, assinava os livros que ela mesma escreveu e me fazia sentir importante, mas às vezes ficava tão ocupada que eu ficava com tédio. A livraria estava silenciosa, e eu estava ali, olhando para os livros. Eles tinham palavras e mais palavras, mas as letras dançavam tanto que não dava para entender nada. Era como se elas brincassem de esconde-esconde.

      Foi então que eu escutei uma voz que conhecia muito bem, a voz da Daia Ward, a amiga da mamãe. Ela estava conversando com minha mãe e, de repente, eu a vi sorrindo, como sempre. Daia sempre trazia umas histórias engraçadas e umas piadas que me faziam rir até meu estômago doer. Mas hoje, ao lado dela, tinha alguém... um menino. Ele parecia estranho de um jeito diferente. Eu olhei para ele sem querer, porque ele era meio misterioso. Ele tinha os cabelos bem pretos e os olhos tão azuis que pareciam petecas, aquelas bolinhas de vidro que a gente olha e se perde dentro delas. Eu queria olhar mais, mas tinha algo ali, em um pedaço do rosto dele, que me deixava curiosa. Ele tinha uma cicatriz no olho, uma linha fininha, como se alguém tivesse desenhado nela com uma caneta. Ele tentou esconder com a franja, mas dava para ver.

     Eu sorri sozinha, pensando que ele poderia ser como o meu papai e a minha mamãe, que também tinham cicatrizes. Mamãe sempre dizia que as cicatrizes eram histórias. Mas antes que eu ficasse pensando mais sobre isso, Daia se agachou e me olhou com aquele sorriso gentil de sempre.

      — Esse é o Vance, meu filho. Vance, essa é a Nadine, filha da Gabriella. — Daia disse, e eu olhei para ele com curiosidade.

      Eu sorri com a boca bem aberta, mas ele sorriu só um pouquinho, como se fosse tímido. Eu achei que ele parecia com uma sombra, mas uma sombra do bem.

     — Sejam amigos, tá bom, Nadine? — minha mãe falou.

     — Sim, mamãe! — respondi, sem saber muito bem o que eu tinha que fazer, mas queria ser amiga dele.

     Daia olhou para Vance.

     — Vai lá, Vance, procura algo para ler. Vai na seção de livros infantis.

      Ele me olhou com aqueles olhos azuis, como se estivesse pensando muito, com um jeito bem estranho.

     — A Nadine pode ir comigo?

     Minha mãe olhou para ele e então para mim, parecia que ela estava pensando muito.

     — Posso? — perguntei.

     — Claro, mas não vá muito longe, tá bom? — disse ela, acariciando meus cabelos. — Seu pai chega daqui a pouco.

      Eu olhei para ela, balançando a cabeça com muita força. Queria que a mamãe ficasse tranquila, então fiz uma cara de que tudo ia dar certo. Vance parecia feliz que ela tivesse dito "sim", e eu fiquei meio nervosa, porque não sabia o que ele queria fazer.

      Ele veio até mim, com um passo bem lento. Quando ele estendeu a mão, eu peguei rápido, porque ele parecia um pouco perdido, e eu queria ajudar. Ele tinha a mão bem fria, mas o toque era bem suave, como se tivesse medo de machucar alguma coisa. Ele me guiou até a parte da livraria que eu mais gostava: os livros de princesas! Todos aqueles livros com capas brilhantes, coloridas. Eu adorava ver as imagens e imaginar os reinos e castelos.

      Mas ele não parecia gostar daquele lugar. Ele ficou olhando para um livro ali na prateleira, com uma cara estranha, como se estivesse tentando entender o que ele estava vendo.

     — Você sabe escrever? — perguntei curiosa. 

     Eu ainda estava aprendendo a escrever. Só sei escrever mamãe, papai e Nadine, euzinha.

     Ele olhou para mim com aqueles olhos azuis e balançou a cabeça, pra cima e pra baixo, e então eu fiquei mais curiosa.

    — Me mostra! — pedi, porque eu queria ver o que ele sabia.

     E então, ele se aproximou. Quando ele segurou meu pulso, eu senti um arrepio, mas não era um arrepio ruim. Era como se ele estivesse fazendo tudo com muito cuidado. Ele passou o dedo no meu pulso, traçando uma linha invisível, como se estivesse desenhando no meu braço.

     — O que escreveu? — perguntei, de olhos bem abertos.

     Ele olhou para mim com um ar bem sério, e apertou meu pulso com mais força.

     — Minha.

O legado dos Volkov continua com "Meu pequeno caos".

Sem data de publicação.

ᴍɪɴʜᴀ ᴅᴇsᴛʀᴜɪçãᴏOnde histórias criam vida. Descubra agora