𝟏𝟖: 𝐂𝐨𝐝𝐢𝐧𝐨𝐦𝐞 𝐙𝐞𝐫𝐨

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ATO 2: O PURGATÓRIO

"Talvez seja melhor morrer sozinho do que, viver num eterno purgatório. Enfim."

— Sherlock Holmes


GABRIELLA HUNTER

Dias atuais...
Moscou, Rússia.
Quarta-feira, 10:00 PM

      Senti um calor familiar nas costas enquanto caminhava em direção à moto, o prédio atrás de mim estava se desfazendo em chamas. Coloquei o capacete e subi na moto, lançando um último olhar para o edifício em colapso. Pessoas gritavam e corriam desesperadas ao ver os andares explodindo em sequência. Toquei o fone de ouvido, usado pela minha equipe, e declarei:

     — Missão concluída.

     Abaixei a viseira e acelerei a moto, disparando pelas ruas de Moscou, deixando para trás o caos que eu havia criado.
   
    Enquanto pilotava, sentia que aquele era o único instante em que realmente existia. O vento batia contra mim e o rugido do motor cada vez mais forte fazia meu coração pulsar mais rápido, mesmo que temporariamente. O motivo pelo qual eu respiro  estava a quilômetros de distância, em um país distante,

     Acelerando cada vez mais, percebi a moto respondendo a cada toque meu com uma precisão quase telepática. As sirenes da polícia ressoavam como um eco distante, mas eu dominava as ruas com uma maestria quase instintiva. As manobras precisas e ousadas me permitiram deixar os perseguidores para trás, enquanto eu me dissolvia nas sombras da cidade.

   Estacionei a moto em frente aos prédios abandonados e desci com agilidade, tirando o capacete. Caminhei até a caixa de correio escondida e puxei para cima, revelando um leitor de digitais. Coloquei meu dedo no sensor e o portão se abriu com um zumbido suave, revelando uma escuridão profunda.

     Entrei e esperei o portão se fechar com um clique firme. As luzes se acenderam gradualmente, revelando uma porta de segurança. Me aproximei e inclinei a cabeça para a câmera de reconhecimento ocular que fazia uma varredura rápida.

     — Bem-vinda, codinome Zero. — a voz robótica ecoou com precisão, e a porta se abriu, revelando a base secreta da organização Vermelho, onde uma elite de assassinos se reunia.

     Atravessei o hall de entrada, um espaço de concreto frio e minimalista, e segui pelo corredor bem iluminado até a sala de treinamento. Dirigi-me ao vestiário,mais especificamente ao meu armário, numerado com o zero, e digitei o código com rapidez. A porta do armário se abriu e me encarei no espelho, retirando a arma da cintura e as facas dos compartimentos da calça.

      Deslizei o zíper da minha jaqueta de couro preto enquanto alguns colegas entravam no vestiário. Apoiei os coturnos no banco e continuei a me despir em silêncio, guardando cada peça de roupa no armário com precisão.

     Enquanto dois homens conversavam animadamente sobre o retorno às suas famílias, um pensamento fugaz atravessou minha mente. O rosto da minha mãe, uma imagem que nunca se apagava. Cinco anos se passaram, mas a dor da perda permanecia como uma ferida aberta. Eu sentia poucas coisas, mas a inveja era uma constante. Ver famílias felizes me fazia reviver a mesma cena dolorosa, repetidas vezes — o momento cruel em que encontrei minha mãe caída no chão, sem vida.

     Não é que eu odiasse as famílias em si, mas a ausência da minha própria me corroía. A inveja não era pelo que elas tinham, mas pela falta que eu sentia, pela ausência de um lar que jamais poderia recuperar. Essa lacuna se transformava em um vazio que eu tentava preencher com tarefas e responsabilidades, mas que nunca conseguia realmente esconder.

ᴍɪɴʜᴀ ᴅᴇsᴛʀᴜɪçãᴏOnde histórias criam vida. Descubra agora