𝟐𝟗: 𝐔𝐦 𝐭𝐢𝐫𝐨 𝐧𝐨 𝐞𝐬𝐜𝐮𝐫𝐨

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GABRIELLA HUNTER

      O estalo do tiro ecoou, e antes que eu pudesse reagir, senti o braço de Kaiden me puxando com uma força avassaladora. Num instante, ele me afastou da janela e me jogou para o chão, segurando-me firmemente contra o peito. O impacto fez meu coração acelerar, e o cheiro familiar dele me envolveu enquanto me segurava com uma urgência que eu jamais havia sentido antes.

     Kaiden se abaixou mais, pressionando meu corpo contra o dele, como se quisesse me proteger com cada centímetro de si. Ele me envolveu com ambos os braços, bloqueando qualquer visão da janela e mantendo a cabeça próxima à minha.

    — Fique abaixada — sussurrou ele, o tom firme e, ao mesmo tempo, repleto de preocupação. Seus olhos vasculharam meu rosto e depois desceram para o meu braço, onde o sangue escorria pela pele.

    — Gabriella... — a voz dele tremeu por um segundo, os dedos deslizando pelo corte em meu braço. Ele estava ofegante, como se o próprio fôlego tivesse sido arrancado.

    Kaiden se moveu para verificar o entorno, mas não soltou o abraço, mantendo-me em seu colo, o corpo dele agindo como uma muralha.

     Ele ainda me segurava firme, o peito subindo e descendo em um ritmo rápido, quase frenético. Ele olhava fixamente para o ferimento no meu braço, o olhar se alternando entre o sangue escorrendo e meu rosto. Seus dedos tremiam levemente ao tocar o corte, como se ele precisasse se certificar de que era real.

     — Gabriella, você... você está sangrando — a voz dele saiu quebrada, tomada por uma angústia que eu nunca esperava ver em alguém tão controlado.

     — Kaiden, foi de raspão — tentei tranquilizá-lo, levando minha mão à dele para interromper a pressão que ele fazia sobre meu braço. — É sério, não foi nada.

     Mas minhas palavras pareciam escorrer por ele sem efeito. Kaiden olhou ao redor, como se estivesse buscando uma saída imediata, algo que pudesse fazer para me tirar dali e, de alguma forma, consertar tudo.

      — Isso é culpa minha... eu devia ter percebido — ele murmurou para si mesmo, uma fúria velada nos olhos. — Droga, eu devia ter protegido você!

       Ele respirou fundo, mas ainda mantinha o aperto em mim, sem conseguir se convencer de que era seguro me soltar. Seus olhos brilhavam com uma mistura de medo e culpa, como se ele estivesse sendo consumido por todos os cenários terríveis que poderiam ter acontecido.

      — Precisamos sair daqui — disse ele, a voz firme, ainda que um pouco entrecortada. Ele me ajudou a levantar, mas não sem primeiro passar o braço ao redor da minha cintura, mantendo-me perto.

      Desmond e Caim já estavam nos esperando no corredor, prontos para nos proteger. Kaiden olhou em volta uma última vez, com o olhar de quem jurava vingança, antes de me puxar em direção à saída.

      Descemos as escadas em uma corrida controlada, cada passo calculado. Kaiden nunca soltava minha mão, como se o medo de me perder fosse maior do que o risco do próprio perigo. Enquanto Kaiden me puxava pelo corredor, com a mão dele firme na minha, uma onda de confusão tomava conta de mim, me deixando tonta e vulnerável. Ele me segurava como se cada segundo fosse precioso, como se qualquer distração pudesse me tirar dele. E ali, no meio de tudo, com meu braço ardendo e o coração acelerado, me vi encarando algo que eu tentava enterrar há anos.

      Eu sentia como se tivesse dezessete anos de novo.

       Ele fazia isso comigo. Em um minuto, era frio, manipulador, distante, me usando para seus próprios jogos sombrios. No outro, ali estava ele, desesperado com o corte no meu braço, com um desespero genuíno que eu não conseguia ignorar. Por que ele se importava? E, mais importante, ele se importava mesmo, ou isso fazia parte de alguma estratégia que eu ainda não enxergava? Cada vez que eu pensava estar imune a ele, Kaiden conseguia me envolver com uma intensidade que destruía todas as minhas defesas.

ᴍɪɴʜᴀ ᴅᴇsᴛʀᴜɪçãᴏOnde histórias criam vida. Descubra agora