Boston, Massachusetts
2009Os médicos mentem todo tempo, dão respostas vagas a perguntas difíceis. Não falamos da dor no pós operatório, dizemos apenas: "Você vai sentir um desconforto".
Se você não morreu, dizemos que a cirurgia foi bem. Mas a nossa maior mentira se chama placebo. Pra metade dos nossos pacientes dizemos a verdade, e pra outra metade rezamos pra que o placebo funcione. E nós nos enganos dizendo que eles vão se sentir bem de qualquer jeito, acreditando que vão melhorar, mas a verdade, é que estão apenas se aproximando da morte.
Médicos mentem diariamente, pros seus pacientes, pras suas famílias.
Mas a maior mentira que contamos é pra nós mesmos, é por isso que às vezes me demoramos pra perceber, que a verdade estava na nossa frente o tempo todo.O ar em Boston parecia diferente do ar em Seattle. Ou talvez fosse o cheiro de casa, ou o colo de mãe.
Alina não sabia dizer ao certo.
Naquela manhã, completava uma semana que ela estava ali. Na manhã seguinte a notícia que Mark e Callie lhe deram, ela fugiu para Boston. Passando no hospital somente pra pedir uma semana de folga ao chefe.Ela apenas desapareceu de Seattle, não contando a ninguém além de Derek, onde ela estava. Para os outros, deixando apenas uma mensagem de texto dizendo que estava bem e precisava de um tempo.
Ela havia perdido as contas de quantas mensagens e ligações perdidas haviam chegado ao seu celular. Mas ela precisava daquele tempo, precisava ficar longe, digerir aquela história, aceitar que o bebê estava chegando e não havia nada que ela pudesse fazer. Mas acima de tudo, ela precisava entender uma coisa, que somente a mãe dela poderia esclarecer.
Todas as manhãs, Alina visitava o parque onde ela e Jackson sempre passavam tempo quando mais jovens. O banco onde eles deram o primeiro beijo, que eles carinhosamente chamavam de "nosso banco", era o lugar preferido dela ali.
Alina estava sentada, olhando as crianças brincando com os pais, enquanto passava o dedo sobre as inicias "A+J", riscadas na madeira do banco há dezoito anos. Se fechasse os olhos, poderia se lembrar como se fosse ontem.
O celular vibrando sobre o banco chamou sua atenção, mais uma série de mensagens de Mark. Ela respirou fundo, guardando o aparelho no bolso e se levantou.
Pouco antes da formatura na faculdade, Tom e Catherine haviam presenteado Alina e Jackson com uma casa em Boston. E como eles amavam aquele parque, escolheram a casa ao lado dele. Desde que eles se separaram, a casa estava fechada, e naquela manhã, um dia antes de voltar a Seattle e finalmente tomar a sua decisão, Alina decidiu voltar a aquela casa mais uma vez.
Ela atravessou o parque, parando diante da bela casa, tudo parecia igual por fora. Ela subiu a escada da frente, tirando a chave da bolsa e destrancou a porta. A casa não era habitada há mais de cinco anos, mas ainda se mantinha impecável. Uma vez a cada mês, alguém passava lá pra limpar a mando de Catherine.
Alina respirou fundo, jogando a bolsa no sofá. Caminhou até a cozinha, juntando todos os produtos de limpeza, amarrando o cabelo em seguida.
Aquela, era uma mania que adquiriu com Meredith, sempre que sua mente estava uma bagunça, ela limpava.Quando a noite caiu, ela já sabia exatamente o que faria.
Alina se jogou no sofá, a casa estava completamente limpa. Ela esticou a mão pra pegar o celular sobre a mesa ao lado do sofá e digitou uma mensagem para Derek em seguida.Para: Derek
Pode me pegar no aeroporto amanhã às 6:00?Ela enviou a mensagem, e segundos depois a resposta chegou.
De: Derek
É claro.
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Código Azul
FanfictionAlina Koracick sempre teve um destino claro: ser médica, seguir os passos de seu pai como neurocirurgiã. Mas quando ela deixa para trás sua vida em Baltimore e o conforto do Hospital Johns Hopkins para ingressar na residência cirúrgica do Seattle Gr...