Capítulo 74

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Seattle, Washington  - 2009

DOIS MESES ATRÁS

Se a vida fosse como uma cirurgia, talvez fosse mais fácil. Com o bisturi na mão, a gente sabe exatamente onde cortar, como remendar, onde está o dano.

Mas viver... Viver é como operar no escuro, sem monitor, sem controle sobre o que vai aparecer na próxima incisão.

Talvez a gente pudesse encarar as reviravoltas com um bisturi, se fosse aceitável. Mas acho que me chamariam de louca, ou me prenderiam.

E agora aqui estou eu, prestes a descobrir algo que vai mudar a minha vida. Não tem bisturi que ajude, não tem sutura que costure a ansiedade que vem com cada segundo dessa espera.

Ainda assim, eu me sinto pronta. Porque, diferente do centro cirúrgico, o coração não obedece protocolos.

Ele enfrenta e aprende, cada vez mais forte.

O sol da manhã atravessava as persianas da casa, iluminando suavemente a sala de estar onde Alina estava terminando de se arrumar. Ela vestia uma blusa clara e calças confortáveis, tentando manter uma aparência tranquila apesar do nervosismo evidente em seus gestos. A cada instante, olhava de relance para o relógio, conferindo o tempo e respirando fundo para controlar a ansiedade. Enquanto ajustava os últimos detalhes de sua roupa, Alina segurava o telefone, rindo discretamente da empolgação do pai do outro lado da linha.

— Não se preocupe, pai. Vou te ligar assim que soubermos. Prometo — disse ela, um leve sorriso escapando enquanto escutava o entusiasmo dele.

Do outro lado, Tom falava sem parar, fazendo perguntas e brincando sobre qual seria o sexo do bebê, deixando escapar várias vezes o quanto estava ansioso para conhecer o neto. Alina sorriu ao ouvir a voz dele, sentindo o coração aquecer com a alegria contagiante do pai.

Mark apareceu na porta, observando a cena com um sorriso suave. Vestido casualmente, ele tinha aquele brilho nos olhos que misturava ansiedade e empolgação. Embora tentasse disfarçar com uma expressão relaxada, Alina percebia o leve nervosismo de seu marido — a maneira como ele ajeitava as mangas da camisa e passava a mão no cabelo.

— Tudo certo com o vovô? — Mark perguntou, apontando para o telefone com um sorriso.

Alina assentiu, respondendo em tom divertido:

— Tudo. Ele está mais ansioso do que a gente. Já apostou que vai ser menino — disse ela, enquanto trocava olhares com Mark.

Mark riu, e Alina notou o alívio em seus olhos. Ele se aproximou dela, segurando sua mão por um momento, os dois compartilhando uma sensação de cumplicidade e expectativa.

Alguns minutos depois, Alina e Mark saíram de casa de mãos dadas, ainda sentindo a leveza de uma manhã cheia de expectativas. No caminho até o hospital, ambos permaneciam em silêncio, trocando olhares de tempos em tempos e sorrindo como se palavras fossem desnecessárias. A ansiedade era palpável, mas a felicidade que os envolvia tornava o momento especial.

Assim que chegaram ao hospital, seguiram direto para a sala de exame. O ambiente estava tranquilo, vazio, como se esperasse apenas por eles. Alina respirou fundo antes de entrar, absorvendo cada detalhe ao seu redor. Mark, atento a cada movimento, segurava sua mão com firmeza, como se essa conexão ajudasse ambos a se manterem no presente.

Ao entrarem na sala, Alina se deitou na maca, ajeitando-se com cuidado, enquanto Mark puxou uma cadeira ao lado dela. Eles trocaram um sorriso nervoso e, em silêncio, aguardaram a obstetra, ambos focados no monitor à frente, onde em breve veriam seu bebê.

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