Uma maldição (PARTE II)

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JÁ FAZIA UMA HORA que Phillip jazia no chão da floresta desacordado. Archibald ajoelhou-se diante do irmão e virou uma pequena cuia com um líquido vermelho em sua boca. Ele engasgou-se, mas ao acordar agarrou o recipiente e tomou seu conteúdo com vivacidade. Parou e observou o sangue a pingar no chão de sua boca. Lembrou-se de Adolf.

— não se preocupe, não é humano – Phillip ainda fitava o irmão mais novo com uma expressão aturdida. Olhou ao redor, ele o havia trazido até o acampamento deles no centro da floresta, onde os humanos raramente andavam. – Você estava fraco, mas não se preocupe, só precisamos nos alimentar de três em três meses, foram os demônios da montanha que falaram.

— não confie neles, Archibald, não são nossos amigos. Há pouco tempo tentávamos nos matar. Além de que eles se alimentam de sangue humano há décadas, alguns são verdadeiros monstros. – ele soltou um gemido cansado, porém não sentia nada – onde estão os meus filhos?

— Devem estar por aqui, tenha calma. Está sendo mais difícil para os jovens que não tinham contato com a congregação. As mulheres conseguiram recuperar o controle e religar a humanidade mais rápido que nós. São elas que estão cuidando do acampamento.

Ele levantou-se, mas a única coisa em que conseguia pensar era em Criska e Sara.

...

A ruiva entrou na capela. Estava vazia e o teto alto lhe dava um ar mórbido. Flutuou até o altar e ajoelhou-se apática. Por favor, Deus... Ela sentiu quando uma capa preta pousou ao seu lado. Ajoelhou-se também e deixou a mão enluvada tocar seu ombro. Sara virou a cabeça, assustada e viu quando a mão enluvada retirou o capuz.

— eu acho que você estava a minha procura.

As duas ruivas, uma humana e outra não, chegaram ao acampamento fazendo grande alvoroço. Uma por causar o desejo do sangue, a outra por ser culpada dessa condição. Em meio ao ódio e ao desespero Phillip acalmou os Vambers e ajudou a bruxa a se manifestar.

Naquela noite ela falou sobre uma outra maldição além da dos Grigori. Uma jovem humana fadada a carregar um destino sombrio. Ela era a humana da profecia. A salvadora que iria libertá-los de sua maldição, mas em troca teria que dar o seu coração para salva-los. Esta, seria uma Vamber. A multidão protestou à afirmação da bruxa.

Todos os Vambers sabiam que uma Grigori que ganha os poderes dos Vambers é sinal de mal pressagio. Aquela era uma situação atípica no código genético e quando ocorria, elas não sobreviviam por muito tempo.

— Mas esta será uma Vamber, pois eu já vi o seu futuro.

— Se já viu o seu futuro, então quando ela aparecerá?

— Eu não sei. Pode ser daqui há um ano... ou cem.

Houve mais protestos.

— Se eu o pudesse quebrar agora, o faria de bom grado. Mas eu não tenho todo esse poder. As bruxas da irmandade sacrificaram tudo para decretar essa maldição... e eu não tenho nada, apenas esperança. Sorriu, voltando-se à Phillip

Ela parou ao seu lado.

— Sua mulher é muito aguerrida – havia amargor em sua voz, mas ela sorriu docemente e lhe entregou um pequeno saco de bolso – irá ajudá-lo com o sol. Ele agradeceu e o abriu, havia lá dentro três cordões de um aço fino e delicado. Eram camafeus com ervas enfeitiçadas dentro – os outros dois são para os seus filhos. Vocês não devem abrir os camafeus, o feitiço irá se esvair.

— Criska, eu... – mas quando levantou seus olhos a bruxa já havia sumido.

...

— Maldita, traidora!

A voz de Kaira quebrou o silencio o qual a irmã se mantinha mergulhada a olhar o pôr do sol no penhasco. O vento a fazer seus cabelos voarem como labaredas de fogo. Ela se manteve na serenidade.

— Traiu a todas nós! Como pôde?

— Vai me agradecer quando tudo isso acabar – virou-se – minha irmã.

—irmã?! Não me chame por este nome! Você me dá nojo, Criska. Tudo isso porque se apaixonou por um maldito humano, traiu a irmandade, traiu-me, eu...

Dois finos cristais de água rolaram dos olhos azuis da bruxa.

— Mas vai ficar tudo bem, Criska. Eu posso te perdoar, basta me dar a pedra da lua.

Kaira estendeu a mão e das sombras surgiram mais quatro bruxas.

— não seja estúpida! Está fraca. Irá morrer se nos enfrentar.

— eu sinto muito, Kaira. Mas eu irei livrá-la de nossa própria maldição.

— já que escolhe este fim...

Criska sorriu.

— espero algum dia podermos ver as lanternas queimarem no céu, juntas. Adeus.

Então Criska inclinou-se para trás e caiu. Kaira abriu a boca, mas sua voz não saiu. A bruxa de cabelos louros caminhou até a beira do precipício.

— Irmã, ela sumiu!

— o quê? – a Suprema se recompôs – como?

— ela deve ter aberto um portal.

— ela não tinha poderes sufici... a pedra da lua! Maldita, Criska, maldita seja! E maldita humana. – Ela fitou o horizonte – seja ela quem for, demore o tempo que demorar, eu irei matá-la.


Despertar: entre a ordem e o caosOnde histórias criam vida. Descubra agora