Um cheiro de menta

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Duas horas atrás...

ELA DESPERTA ALGUMAS vezes no meio do caminho, mas a única coisa que consegue ver são imagens desconexas. Fleches de luz de quando em quando. Um recorte do céu. A sombra da figura. Então perdia os sentidos novamente. E mais uma vez tudo se repetia. Para onde está me levando? Estava em seus braços, podia sentir. Mas por algum motivo se sentiu segura. E aquele cheiro era tão familiar. Menta.

Acordou novamente com uma brisa gélida a roçar seu rosto. Conseguiu ouvir barulhos abafados e longínquos de uma sirene. Os ruídos vão se afastando cada vez mais e mais, era sinal que iria mergulhar nas sombras novamente. Mantenha-se acordada. Tentou repetir esse mantra diversas vezes em sua mente. Ellie pende a cabeça para o lado e abre os olhos que pareciam pesar uma tonelada, com esforço ela vê.

Luzes vermelhas ofuscantes.

Várias pessoas.

Vozes.

"Ali, é ela!"

"Onde a achou, rapaz?"

"estava na floresta, há quilômetros daqui, na estrada que vai para o lago. Estava desacordada."

Essa voz... eu a conheço.

Os sons cessaram. A última coisa que escutou foi a voz da figura misteriosa. Então mergulhou nas sombras mais uma vez.

...

Ela abre os olhos vagarosamente. As pupilas se acostumando com a luz. Uma cortina branca flutuava sobre sua cabeça. Do lado direito identifica outras camas. Era um corredor bem longo. Em uma delas havia um garoto, dormindo profundamente, notou que estava com um dos braços engessado. Parecia que tudo aquilo não passava de um sonho. Liam ... não. Ele não pode ser um sonho, nunca poderia criar em meus pensamentos alguém como ele. Nunca.

Como em uma perfeita alucinação ele aparece ao seu lado. A cortina esvoaçando bem acima de suas cabeças. A brisa da manhã entrando sorrateiramente pela janela. Um filme então roda em sua cabeça, só as partes mais importantes.

Ele acaricia seus cabelos tocando a parte do rosto arranhado.

Isso a fez estremecer. A garganta começou a apertar. Sentiu vontade de dizer que o amava. De lhe beijar e gritar para todos o quanto o amava. Mas o que conseguiu fazer foi abrir a boca. E só.

De repente ele se ergue. Ellie fez um sinal de protesto, mas Liam fez um gesto para que fizesse silêncio.

Então ouve o ranger da porta e passos no assoalho. Olha para o lado.

— estou vendo que já acordou – uma mulher negra de olhos amendoados veio até ela. Usava um vestido rosado esvoaçante e um jaleco branco. Trazia uma bandeja nas mãos. Subitamente a garota vira-se para onde a pouco estava Liam. Ele já havia ido embora – está frio, quer que eu feche a janela?

— não! – disse de forma exasperada, então baixou mais o tom e acalmou-se – não me incomoda, obrigada.

A mulher colocou a bandeja na mesinha ao seu lado. Era um café da manhã. Também viu um pequeno recipiente contendo gaze e uma pomada.

— eu vou trocar seu curativo – em seu jaleco estava bordado 'Dra. Cida' – estenda as mãos.

— onde estou? – ela deixou escapar um suspiro.

— está na enfermaria da mansão Collins, não se preocupe, já está bem, só precisa se alimentar. Você passou a noite inteira desacordada recebendo soro, mas estava apenas dormindo, por estar exausta. Quando terminar o café, e se sentir com forças pode ir.

— obrigada.

Ela ouviu a porta ranger mais uma vez quando a médica foi embora.

Não demorou muito para as portas se abrirem novamente. Era Zahara. A garota foi até seu leito e não conteve sua euforia ao ver que a amiga estava bem. Era como fogos de artifícios. Em ondas de êxtase, euforia e as vezes calmaria, quando cochichava baixinho alguma observação ou quando Ellie lhe chamava a tenção para a placa "silêncio" na parede da enfermaria. Zara era o remédio que ela precisava.

Elas caminham juntas pelo corredor. Depois do banho, Ellie se sentiu regenerada e as mãos nem doíam mais. Estavam vindo da cantina onde Trevor e Zahara disputaram quem iria segurar a bandeja para Ellie e lhe dar comida na boca, porém foi Lucy que acabou auxiliando a amiga, como era de praxe de sua personalidade.

— o senhor Collins quer falar com você, tem um policial gato com ele – a garota pequena soltou.

— eu sei – suspirou – ele deve estar querendo explicações.

eu quero explicações, Ellie. Eu estava preocupada... Nós estávamos preocupados! O que aconteceu?

— o mesmo que eu já contei.

— que você foi dar um passeio por aí quando escutou um barulho estranho de não sei o que, então correu de floresta a dentro e quando percebeu não sabia onde estava? Isso explica algo pra você?

A garota deu de ombros e soltou um risinho nervoso de desculpas.

— tudo bem se não quer me contar eu entendo. Uma garota bonita tem os seus segredos. Mas você mente muito mal – ela continuou andando em saltinhos alegres com as mãos para trás – mas não lembra do cara que encontrou você?

— ah, não... – Lembrou-se das imagens embaçadas – eu estava inconsciente lembra?

— claro... você, infelizmente, não viu, mas ele era muito gato.

— você acha todos os garotos uns gatos... e homens de farda.

— mas esse realmente era muito... charmoso.

— charmoso? – a garota riu-se.

— sim! Alto, moreno, maxilar desenhado, um ar misterioso e uns olhos penetrantes, que quando ele me olhou quase infartei.

— então você estava flertando com um cara misterioso enquanto eu estava desacordada?

– não! – ela fez uma cara de desapontamento – quem me dera.

As duas riram.

Cheiro de menta. 

Despertar: entre a ordem e o caosOnde histórias criam vida. Descubra agora