Teste de sobrevivência

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ELLIE SE MUDOU para a casa dos Grigori. Tinha permissão para dormir fora da mansão Collins nas suas férias. Por isso ela ficava tão vazia no fim de ano. Os alunos que podiam geralmente viajavam para visitar a família. Ellie achou estranho a princípio Carolina não viajar ou se gabar de alguma viagem, mas logo notou pelas mensagens não respondidas, pelos áudios que mandava, pelas ligações não atendidas, que talvez ela não tivesse uma 'casa' para voltar, se bem que pelos seus grandes olhos azuis, ela queria muito o ter.

Mas foi isso que alegou às amigas. Férias. Suas aulas voltariam apenas em março. O que lhe dava três meses com os Grigori. Já estava se arrependendo dessa decisão nos primeiros cinco dias.

(por três fatos)

Treinamento integral

Provocações de Kevin

Estar perto de Liam

Ainda não sabia o que era pior. Seu corpo todo estava dolorido e mais uma vez não tinha tempo para se curar daqueles calos, suas mãos começavam a descascar, arrancando o coro e ficando em carne viva. Phillip havia advertido que isso era uma consequência de regenerar as mãos, ela sempre iria feri-las.

Parou à porta do quarto de Liam. Ele não estava – como sempre. Ele sempre achava uma forma de fugir dela – entrou; passando a ponta dos dedos nas lombadas dos livros. Retirou um. Sentou-se no recuo da janela, que era estofado. Leu até que aquela luz languida se extinguisse.

A neve havia aumentado, passara a noite nevando, e o céu era de um clarão sufocante.

"teste de sobrevivência"

Ele dissera.

Agora ela tinha quase certeza de que não sobreviveria.

Todo seu corpo tremia e tinha certeza que até mesmo os ossos.

Havia suportado muito bem as primeiras 4 horas de subida; mas ainda faltava mais 4 horas para terminar aquele pico de 1500 metros. Conseguiria descer? Phillip havia colocado uma bandeira em seu topo. Mas deixou claro que o importante era retornar com vida.

Que benevolente!

Enfim, galgou o topo.

A nevasca não lhe permitia ver mais nada. E apesar do treinamento de resistencia ao frio, aquilo já era demais para seu corpo humano. Pegou a bandeira. As mãos rijas quase não fechando em torno da haste.

— Maldito! – tremeu enquanto evocava todas as ofensas que conhecia em todos os idiomas que sabia falar.

Havia decidido usar a parada de tempo apenas para conseguir voltar e como último recurso. No momento precisava encontrar um abrigo para se recuperar. Concentrar seus esforços em regenerar as queimaduras de gelo e fazer o ar circular normalmente em seus pulmões. Encontrou uma caverna congelada, o que serviria.

Retirou da bolsa térmica a comida que havia trazido. Sorriu ao perceber que Phillip havia colocado um cantil com sopa de ervilha, ainda estava bem quentinha. Que jeito mais gentil de me mandar para a morte.

Ellie levantou a fronte rapidamente, sentindo sua presença.

— Se divertindo?

— Phillip mandou buscarem meu corpo frio e sem vida?

Liam riu-se.

Ele gostava de vê-la quando estava com frio. As bochechas coradas.

— Minhas roupas não estão esquentando mais.

— É porque estão húmidas – apontou para uma rodinha de pedras, talvez feita por alpinistas experientes – deve fazer uma fogueira, tirá-las e se aquecer.

Ellie se encolheu e escondeu o rosto nos joelhos.

Silencio.

Lá fora o vento zunia rápido e forte. Logo escureceria. Estava mesmo cogitando em desistir e pedir para que Liam a levasse de volta. Quando sentiu que ele se sentava ao seu lado. Escorregou a mão pela gola de sua jaqueta e a abriu.

— Vai me esquentar com seu corpo? – ela sorriu de um jeito coquete.

— Sinto muito, não consigo fazer isso – mas ele continuava concentrado tirando as camadas de roupa e desnudando seus ombros. Inclinou-se para frente, aproximando a boca de seu pescoço.

Então a mordeu, enfiando as presas na pele dela, segurando seu corpo.

Aquela mesma sensação pelo seu corpo, até que sentiu que esquentava, mais e mais, o frio indo embora, sua pele fervendo. Segurou no braço de Liam para não cair. Sua respiração desmanchando a sua frente, arfante. Ele afastou-se lentamente, ajeitando novamente sua roupa, agasalhando-a.

— Está melhor?

Ela meneou.

— Acho... que vou começar a descer.   

Despertar: entre a ordem e o caosOnde histórias criam vida. Descubra agora