ELLIE ACORDA DE SUPETÃO. Passou a mão no rosto. Chorava. Fitou a janela, o sol ainda iria demorar a aparecer. Ainda tinha o livro em mãos. Liam. A expressão nos olhos dele vendo a própria mãe morrer a sua frente, sem fazer nada, era a mesma expressão da garota naquela noite, enquanto via o próprio pai morrer. Sacudiu esses pensamentos tenebroso. Mas a imagem da família de ciganos não se desmaterializava de sua mente.
Era dezembro e havia nevado.
Ela caminhou entre as camélias e parou perto do coreto.
—Ellie – ela virou-se, era Trevor – fiquei muito preocupado com você, quer dizer, todos nós – ele coçou a cabeça – ainda não tivemos tempo para conversamos assim sozinhos, então eu não consegui dizer isso.
— eu sei – ela sorriu. O motivo de não conversarem sozinhos era que, para sua sorte, Zahara sempre interrompia os dois – me desculpe pelo susto.
— mas o importante é que você agora está aqui. Eu queria te falar uma coisa... – ele chegou mais perto, mas antes que pudesse falar uma voz nasalada e eufórica encontrou-os.
— Ellie... – ela parou subitamente e fitou Trevor desconcertada – desculpe, eu estou atrapalhando.
— não! – a garota segurou o braço da amiga – nós só estávamos conversando sobre o meu sumiço.
— oh! Então, aquele seu professor gato de cito alguma coisa quer ver você.
— ah, certo... obrigada Zahara, sei que você não vai se importar de fazer companhia ao Trevor.
— eu... – os dois falaram ao mesmo tempo e se fitaram sem graça.
— ótimo! Vejo você mais tarde, Zara.
Ela adentrou a sala de espera pela porta que dava acesso a área de serviço. Então avistou o Dr. Karts. Era um homem de estatura mediana, louro, de boa aparência, ar intelectual e porte refinado, parecia ser de boa família. Ele era do Texas e depois de forma-se em biologia, fez especialização em biologia celular e tinha doutorado pela universidade de Harvard. Embora ter exposto seu currículo, ninguém, nem mesmo os alunos veteranos, sabiam sobre sua vida pessoal e familiar. O que lhe conferia um ar misterioso e charmoso. Mas o que seu professor de citologia estaria fazendo ali?
— olá, Ellie – levantou-se ao ver a garota – como você está?
— olá, senhor Karts. Já estou bem, foi apenas um susto.
—e que susto – ele vasculhou sua bolsa que trazia sempre consigo a tiracolo, então fitou a aluna por baixo dos óculos com seus profundos olhos castanhos – o importante é que agora está bem. Mas nós temos um trabalho atrasado – ele lhe estendeu uma apostilha – quando soube do seu incidente eu mesmo quis vir aqui entregá-lo. Eu prezo pelo bem-estar dos meus alunos. Quando eu saí do meu país para estudar não tive a mesma cordialidade ao ser recepcionado, eu espero concertar isso de alguma forma.
— obrigada.
— agora já estou de saída. Até amanhã, Ellie.
— senhor Karts, poderia me ajudar em uma questão?
— claro! Qual seria?
—é sobre... – ela hesitou um pouco antes de falar – mutação genética.
— Pesquisa de campo?
— Sim! – levou as mãos para trás, enfiando-as no bolso do jeans – eu... preciso utilizar o laboratório, mas como sabe, só posso utilizar com supervisão de um professor. O senhor poderia me ajudar?
— mas é claro – ele esboçou um sorriso – fico feliz que esteja desenvolvendo pesquisas fora às matérias. Será um prazer ser seu orientador.
— Orientador?
— Sim, você precisa de professor orientador para desenvolver pesquisar na faculdade.
— Claro! Sim, sim, a pesquisa... é... – a única coisa que queria era livre acesso ao laboratório para que conseguisse analisar o próprio sangue e de ganho fazer alguns experimentos com suas plantas do Mundo Mágico e assim poder cataloga-las. Mas parecia que havia se metido numa situação complicada.
Suspirou, confiante. Poderia muito fazer os dois. Assim, não descuidado dos estudos também e poderia até mesmo já trabalhar na sua tese.
— Podemos nos encontrar amanhã no laboratório e preencher a papelada da pesquisa.
Ellie agradeceu e se despediu do professor.
...
—o que o professor gato queria com você?
Zahara e Ariani se inclinaram sobre Ellie. Ela balançou a apostilha sobre a cabeça em resposta.
—que desperdício! – a garota baixinha e eufórica esboçou um biquinho, fazendo o gloss em seus lábios brilharem – ele veio até aqui só para te passar dever de casa?!
– ele é meu professor, o que você esperava?
As três riram-se enquanto caminhavam pelo corredor.
—ah, sim, você já sabe? – Ariani perguntou com uma careta – sua nova companheira de quarto já chegou, não a viu por aí?
—não. Me disseram que ela chegaria hoje, mas eu ainda não a vi.
—boa sorte então – a garota de cabelos vermelhos e repicados falou com um leve bico, ela sempre fazia aquele movimento quando desprezava algo ou alguém, o que fazia seu piercing no lábio inferior saltar – a princesinha acabou de voltar das férias prolongadas que teve em Maldiva, claro que as faltas foram cobertas, como sempre.
Ellie riu confusa e fitou Zahara.
—Carolina é a ex-companheira de quarto da Ari. Então ela reclamou que não gostava da posição do quarto dela e a mudaram de dormitório, desde então eu sou a colega da Ari – elas se olharam com cumplicidade.
— mas qual o problema, só por causa disso não gosta dela?
—você vai entender – Ariani empurrou a porta semiaberta de leve com o pé.
Sentada à uma penteadeira branca se encontrava uma garota de longos cabelos louros e ondulados, pele bronzeada e olhos esverdeados. Parecia uma princesa delicada com uma das mãos a segurar um espelhinho prateado, usava um vestido azul florido, de mangas bufantes. Parecia estar retocando a maquiagem. Mas quando viu a imagem das garotas refletida no espelhinho virou-se.
— ¡Hola! ¿todo bien? Mi nombre es Carolina, tú debes ser la... Meliá.
Ela abriu um caloroso sorriso que sumiu tão rápido quanto surgiu.
— oi... na verdade é Ellie.
—ah, não fala espanhol? – a loira fez uma carinha tristonha.
—não.
—pensei que fosse do Brasil...
—nós falamos português.
—ah! Que pena – então virou-se novamente para a penteadeira cheia de luzes – espero que não se incomode de eu ter trazido minha penteadeira, é que nunca tem espaço suficiente para minhas coisas. Ah, sim. Eu não irei passar a noite aqui, hoje vou a uma festa de acolhida na casa do duque Ludwig, que por acaso é meu parente, eu a convidaria, Elia, mas acho que seria muito... – ela lhe inspecionou com os olhos – inconveniente para você.
Depois de fingir que as outras duas meninas não estavam lá, a espanhola finalmente se retirou para a casa de banho e as amigas deixaram Ellie sozinha no quarto com seus pensamentos.
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Despertar: entre a ordem e o caos
Fantasía[Livro I da trilogia "Despertar"] O equilíbrio entre os mundos há muito foi quebrado - não sabe quando e como - mas cabe aos Guardiões restaurá-lo, para que a magia e a corrupção não leve tudo à ruina. Mas o ódio desses três grandes Guardiões foi ta...