Os guardiões

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ELLIE CORRIA EM MEIO a floresta, galhos arranham sua pele e tentam segurá-la. Ela luta contra os dedos magrelos e continua em fuga. Sentia falta de seu casaco, não lembrava onde o havia deixado. Aliás, tudo estava turvo, não só por causa de suas lagrimas, que lhe embaçavam a visão, mas também por causa dos flashbacks em sua cabeça. Imagens iam e vinham sem parar a uma velocidade espantosa. Faróis. Pista molhada. Escuro. Sangue. Um olho no sonho outro na realidade.

Escuro.

As copas das árvores selavam a luz da lua, que teimava em penetrar a floresta e iluminar as almas perdidas na escuridão.

Soluços.

Parou e recostou-se no tronco de uma árvore morta. Enfim a lua refletiu seu brilho no rosto da garota.

Silêncio.

— Mas que droga!

Ela roda nos calcanhares. Estava completamente perdida. Olha para o livro que tinha em mãos e o arremessa com toda a sua raiva, mas ele é interceptado por uma árvore e ricocheteia, caindo no chão com as páginas abertas. Ela fita com desdém o objeto maldito.

Então caiu sobre as pernas, ainda bambas.

— Como eu pude ser tão idiota!

Mas de repente, em meio aos arbustos, escuta as folhagens secas estalarem. Vira-se na direção do ruído. Podia jurar ter visto um vulto a se esgueirar entre as silhuetas escuras dos troncos. Ellie põe-se de pé e lentamente, dá passos indecisos para trás, porém suas costas acabam encontrando algo. Uma respiração alta e pesada bufa atrás de si. A garota toma coragem e com um pulo confere quem estava à sua retaguarda.

Era um enorme lobo cinzento. Seus olhos amarelos lhe penetraram a alma. A garota tentou correr. Mas suas pernas não lhe obedeciam mais depois de toda a adrenalina. O medo a havia paralisado por completo.

— Quem é você? – o enorme lobo falou com a voz rouca e profunda, que parecia soar não da boca, mas de toda a floresta.

— Eu...a... como pode falar, você é um lobo.

— Você já se perguntou, por que consegue me ouvir?

— Você é um lobo... enorme, que fala. E tem algo de errado comigo?

Ele pareceu sorrir, caçoando da ignorância da garota, sua risada parecia explodir no ar.

— Continua tão desaforada como da última vez. É uma pena não lembrar de nada. Você não é uma simples humana. Não seja estúpida. Se continuar ao lado deles, será apenas usada, não é isso que seu povo faz uns com os outros? Apesar de ter a essência modificada, não deixaram as raízes humanas para trás...

— Eu ainda não entendo tudo isso – seu coração continuava em disparada, mas se não tinha outra escolha a não ser permanecer ali, devia continuar a dançar de acordo com a música.

— Criança burra, você é apenas um sacrifício para eles. Se os libertar da maldição, morrerá. É isso que eles querem. Mas elas não querem isso. Querem que eles paguem até o fim dos tempos.

— Elas?

— As malditas bruxas da Irmandade. Também eram humanas, mas venderam a alma ao submundo em troca de poder. Mas há um porém. – Ele continuou enquanto a circundava – existem aqueles que não querem que a maldição seja quebrada. Os demônios da montanha. Eles não querem perder o poder que conseguiram, se habituaram ao sangue humano e a carnificina prazerosa. Os vampiros de olhos escarlates. Pelo contrário, eles querem mais poder, e irão fazer de tudo para conseguir. E o meio de consegui-lo é por você.

Despertar: entre a ordem e o caosOnde histórias criam vida. Descubra agora