Flores ao túmulo

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O MAR BRANCO ainda se estendia. Um montículo de neve, uma pedra cinzenta. Ela abaixou-se, repousando a rosa branca diante do túmulo falso. Seu peito apertou, algo lhe dizia que seu pai já não estava ali – não literalmente falando, pois ele estava morto e aquele nem era seu túmulo de verdade – mas uma força que latejava em sua pele sempre que pensava naquela figura paterna de olhos cansados; olhos que já nem sabia mais de quem era. Afinal, por que ainda sentia tanto a morte daquele homem que ela chamava de pai?

Ouviu as pegadas na neve se aproximando.

Havia começado a nevar.

— Vai acabar pegando um resfriado.

Ela não dirigiu o olhar ao mentor. Mas ele ficou ali ao seu lado, em silencio, durante vinte minutos, enquanto ela tentava solucionar aquele problema familiar.

— Não precisa ficar aqui. Não é como se eu me importasse – o vento frio – na verdade, eu nunca tive uma família propriamente dita. Então, não faz diferença flores ao túmulo ou não.

— Então por que desse ritual simbólico?

Contemplou a rosa afundando na neve.

— Eu achei que... seria muito triste não ter ninguém para trazer flores ao meu túmulo – sorriu – sou uma órfã filha de órfãos; acho que o que nos resta são as flores.

— Quer que eu leve flores ao seu túmulo?

Ellie levantou os olhos.

— Falou em um tom agorento.

Phillip gargalhou.

— Sabe, garota, se eu tivesse tido uma filha, queria que tivesse saído assim como você – então ele lhe deu as costas, as mãos para trás, e seguiu rumo à casa, descendo o vale.

A menina olhou seus passos quase não marcados na neve, o rosto esquentando com aquela rápida felicidade. Sorriu. E com um salto pôs-se de pé, acompanhando-o e imitando sua pose.

— Irá fazer Kartoffelsuppe para mim de novo?

— Não abuse. 

Despertar: entre a ordem e o caosOnde histórias criam vida. Descubra agora