A última dança

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CAROLINA SE OLHAVA e retocava a maquiagem. Usava um vestido pêssego cheio de babados excessivos, o busto era apertado por um corset e havia enfeitado a cabeleira loura com flores. Realmente parecia a mais bela ninfa da primavera.

— Não vai mesmo, Ellie? – era a primeira vez que a espanhola lhe chamava pelo nome corretamente. Mas ela apenas meneou com a cabeça. Nunca mais a veria.

Então com um aceno saiu pela porta, deixando a companheira de quarto sozinha sob aquela meia luz amarelada do quarto.

Depois de alguns minutos mergulhada em seus pensamentos a porta se abre novamente. Era Ari e Lucy. Tentaram convencê-la de ir, mas ela negou com a cabeça. Fitou as amigas. Ariane usava uma roupa social, camisa branca, colete e gravata preta e Lucy usava um meigo vestido branco floral, que ressaltava seu penteado de princesa.

e a Zara?

— ela é organizadora, lembra? Tem que recepcionar os convidados da cidade.

Melhor assim. Que ela fique bem longe mim esta noite.

As duas garotas saíram de mãos dadas e mais uma vez a porta fechou-se.

Fitou o despertador.

22:14h.

Levantou-se com o pulo.

Por que não?


Caminhou pelo corredor seguindo a música alta. Então estaca no alto da escada e passa os olhos sobre a multidão. Logo Liam viria lhe buscar.

Balões rosados.

Flores.

Luzes.

Música.

Fitou a banda. Eram um grupo de alunos da escola. O guitarrista alto de tez escura era John, uma garota de cabelos roxos no baixo que ela não conhecia, o baterista ruivo e magrelo era Calvin, ele tocava com ódio no olhar e a vocalista de cabelos negros em corte Chanel era Mavis, irmã de Lucy. A música cessou junto com o espancamento da bateria de Calvin e Mavis lhe mostrou uma careta de "isso não estava nos ensaios". Quase ouviu de sua boca quando ele sibilou com um sorriso frouxo "improviso, gata". A asiática o ignorou e desceu do palco improvisado para sentar-se ao piano e começar uma melodia lenta e brilhante.

Aquilo parecia mais um sonho.

De repente sentiu como se não estivesse de corpo presente ali, parada no alto da escadaria, fitando aquela multidão lá embaixo. Sua expressão se contorceu em amargura. Por que se sentia tão sozinha se estava rodeada por tantas pessoas? Que sentimento era aquele que apertava sua garganta? Não ouvia mais nada, além daquela pequena melodia triste que Mavis tocava. E apesar do corpo estar mergulhado naquelas luzes coloridas, sentia-se em completa escuridão. Afinal, seria algo tão egoísta assim querer viver?

Desceu as escadas, alheia a todas aquelas pessoas quando a banda começou a tocar "Apocalypse" do Cigarettes.

"Tem uma música em você, Baby

Diga-me por que

Você foi trancada aqui

para sempre

e simplesmente

não pode dizer adeus"

Então sentiu alguém tocar seu ombro com gentileza. Virou, ainda em seu sonho.

"Compartilhando todos os seus segredos

um com o outro

desde que éramos crianças"

Ele estava lá. Como sempre estivera. Parado, lhe estendendo a mão. Sempre a lhe esperar. Sempre no mesmo sonho.

"Dormindo

com o medalhão que ela te deu

apertado em seu punho"

Ele a segurou nos braços e como fizeram na floresta, no que pareceu ter sido mais outro sonho, dançaram, agora com os humanos.

"Oh, quando você estiver sozinha

eu vou encontrar você"

Aquela seria a última dança dos dois. 

Despertar: entre a ordem e o caosOnde histórias criam vida. Descubra agora