Despertar: entre a ordem e o caos

Um amor que esperou por muito tempo

Antes da maldição

A PLACA DE MADEIRA balançou com vento fazendo um guinchado alto. "Schwarzer Kaffee", era o que estava escrito. Mesas redondas eram dispostas no lado de fora e os transeuntes iam devagar pelas ruelas de pedra enquanto o céu tornava-se escuro.

Um homem de estatura média, cabelos negros e penteados cuidadosamente, sentava-se sob a placa ruidosa. Ele fitou o irmão com seus penetrantes olhos azuis e soltou uma risadinha.

— Chega de embromação, Adolf, está se divertindo as minhas custas – o outro homem, de olhos amarelados e cabelos bagunçados sorveu um pouco de chá.

— Meu irmão. Ela é a flor mais linda desta província. Quando eu a apresentar vai esquecer de todas as mulheres com quem já esteve.

— Não faz diferença – ele levantou a xícara e Adolf lhe acompanhou no ato simbólico – mencione o dote e todas as regalias que terá; será um casamento por conveniência. Não me interessa se é bela ou a própria reencarnação de Hefesto.

— Ora Phillip, não precisa se desligar do clã – ele apontou com o dedo – precisamos de você.

— Se estou me casando justamente por conta desse maldito clã. Só poderei me afastar legalmente depois que desposar alguém. E no fim das contas os Vamber não precisam de mim, eles o têm – sorriu – afinal, não está feliz por herdar o título de Líder?

Nesse momento Archibald chega. Como de praxe usava um sobretudo e um chapel. O que configurava ao louro um ar sombrio.

— Boa noite, senhores – ofereceu um sorriso camarada.

— Irmão – Adolf foi o primeiro a recebê-lo – o que está esperando sente-se conosco.

— Obrigado, mas estou de passagem.

— Está com pressa, Archibald, qual a novidade?

— Hoje é o festival das lanternas, convidei Mary Winny.

Adolf mudou de tom, abrindo um largo sorriso malicioso.

— Bom, cavalheiros – ele abotoou o casaco e fastou a cadeira – nesse caso, receio que também chegou minha hora.

— Ah, Adolf, não vai àquele bordel se encontrar com aquela alcoviteira, vai? – Phillip o interpelou.

— Um homem não pode mais se divertir?

— Nosso pai ficará insatisfeito com isso.

— Ah, Phillip, é apenas uma distração. Eu gosto de espancá-la enquanto ela implora para que eu pare.

Phillip pôs a xícara na mesa.

— Sabe, Adolf, se não fosse meu irmão, eu o espancaria até que me implorasse para parar.

— Você é hilário, Phillip – puxou Archibald pelo braço – até breve, irmão.

Os dois irmãos subiram a rua, de ombros colados, como duas crianças travessas. O mais velho meneou a cabeça. Deixou as moedas sobre a mesa e levantou-se, tomando a direção oposta dos irmãos. Caminhando pela avenida de pedras, cumprimentou as pessoas que passavam por ele, frenéticas, elas se preparavam para soltar as lanternas na praça central. Era uma tradição anual fazer isso no primeiro dia de outono. Por isso decidiu entrar em uma viela e evitar aquela multidão. Reclinou a cabeça para trás. Amanhã era seu aniversário de vinte e dois anos e a única coisa que queria era entrar dentro de um buraco e ficar lá para sempre. Líder... mais que droga. Uma nuvem cinzenta começava a cobrir as estrelas. Logo iria chover.